Thursday, December 09, 2010

Análise dos Contos de Clarice Lispector



ATIVIDADE:

Letras - 2º ano



- Fazer uma análise de um dos contos estudados de Clarice Lispector, segundo a teoria de Bakhtin.
- Colocar título e nome dos integrantes.

- DATA PARA POSTAGEM: até 14/12 - terça-feira

Taiza Mara Rauen Moraes

Sunday, November 28, 2010

Poesia concreta, visual e animada no Ciberespaço

O site de Arnaldo Antunes e Augusto de Campos mostram trabalhos poéticos com dinâmicas diferentes, que requerem uma maior mediação tecnológica, tanto na criação quanto na fruição da obra. São poemas concretos, visuais, clip-poemas e poemas animados publicados no Ciberespaço.

Nessas obras, o imbricamente de linguagens não se dá somente na relação entre verbo x tecnologia, mas também entre literário x plástico. Tentando aplicar a proposta de análise de Pietroforte, escolha o poema que mais lhe impactou e poste um comentário.

link do power point sobre Semiótica Visual (Pietroforte)


link do site de Augusto de Campos

link do site de Arnaldo Antunes

Wednesday, November 17, 2010

Programa "O Relógio de Ouro" - Literatura I

O Programa "O Relógio de Ouro" foi desenvolvido pela equipe do Núcleo de Pesquisas em Informática, Linguistica e Literatura da UFSC em parceria com pesquisadores da UNIVILLE e UNIVALI. Construído inicialmente em Borland Delphi, o programa foi reescrito e recompilado em Macromedia Flash para rodar em multiplataforma.

Baixe o programa em Delphi (para Windows) ou Flash (Multi) e avalie a proposta de leiturama nesse ambiente de acordo com o questionário abaixo:


"O Relógio de Ouro" em Delphi


"O Relógio de Ouro" em Flash

2º Questionário de Percepção em PDF

2º Questionário de Percepção em DOC

Monday, October 25, 2010

Literatura Brasileira II

A internet e a tecnologia permitem-nos acessar o blog Casa de Paragens de Rubens da Cunha (http://casadeparagens.blogspot.com/) e o site de Alcides Buss (http://www.alcidesbuss.com/poemas.php). 

Compreendendo que os poemas foram criados nesse contexto contemporâneo, em que a mediação tecnológica é uma das inovações utilizadas pela poesia pós-modernista, na qual diferentes linguagens são imbricadas na criação poética, escolha um poema de cada autor citado, analisando-os comparativamente, buscando relacionar quais elementos pós-modernos podem ser percebidos em cada poema.  

Após a discussão em grupo, faça um comentário nesse tópico colocando o nome da equipe, os poemas escolhidos de cada autor e um pequeno texto com as impressões levantadas a respeito das obras, comparando-as.

Wednesday, October 13, 2010

Avaliação - Literatura Brasileira I

Analise comparativamente os poemas: Se se morre de amor, de Gonçalves Dias Despedidas, de  Alvarez de Azevedo observando de que modo é tratado poeticamente o tema : amor e morte. Considere  Alvarez de Azevedo como um poeta ultra romântico e Gonçalves Dias como um poeta moderado. Discuta as nuances do sentimentalismo comparando os poemas e justicando com versos.

Monday, October 11, 2010

1º Questionário de Percepção: Gregório de Mattos, Gonçalves Dias e Álvarez de Azevedo

Caro aluno, você está sendo convidado a participar da pesquisa cujo objetivo é compreender a leitura mediada por computador.

Você pode responder o questionário encaminhando-o por email <angelviana@hotmail.com> ou como comentário nesse tópico do blog, mas não deixe de participar.

Sua opinião é muito importante!


Download do Questionário:


Em Doc

Em PDF

Meu Sonho - Álvarez de Azevedo

EU

Cavaleiro das armas escuras,
Onde vais pelas trevas impuras
Com a espada sanguenta na mão?
Por que brilham teus olhos ardentes
E gemidos nos lábios frementes
Vertem fogo do teu coração?

Cavaleiro, quem és? — O remorso?
Do corcel te debruças no dorso...
E galopas do vale através...
Oh! da estrada acordando as poeiras
Não escutas gritar as caveiras
E morder-te o fantasma nos pés?

Onde vais pelas trevas impuras,
Cavaleiro das armas escuras,
Macilento qual morto na tumba?...
Tu escutas... Na longa montanha
Um tropel teu galope acompanha?
E um clamor de vingança retumba?

Cavaleiro, quem és? que mistério...
Quem te força da morte no império
Pela noite assombrada a vagar?

O FANTASMA

Sou o sonho de tua esperança,
Tua febre que nunca descansa,
O delírio que te há de matar!...

Despedidas - Álvarez de Azevedo


Se entrares, ó meu anjo, alguma vez
Na solidão onde eu sonhava em ti,
Ah! vota uma saudade aos belos dias
Que a teus joelhos pálido vivi!

Adeus, minh’alma, adeus! eu vou chorando...
Sinto o peito doer na despedida...
Sem ti o mundo é um deserto escuro
E tu és minha vida...

Só por teus olhos eu viver podia
E por teu coração amar e crer...
Em teus braços minh’alma unir à tua
E em teu seio morrer!

Mas se o fado me afasta da ventura,
Levo no coração a tua imagem...
De noite mandarei-te os meus suspiros
No murmúrio da aragem!

Quando a noite vier saudosa e pura,
Contempla a estrela do pastor nos céus,
Quando a ela eu volver o olhar em pranto...
Verei os olhos teus!

Mas antes de partir, antes que a vida,
Se afogue numa lágrima de dor,
Consente que em teus lábios num só beijo
Eu suspire de amor!


Sonhei muito! sonhei noites ardentes
Tua boca beijar... eu o primeiro!
A ventura negou-me... mesmo até
O beijo derradeiro!

Só contigo eu podia ser ditoso,
Em teus olhos sentir os lábios meus!
Eu morro de ciúme e de saudade...
Adeus, meu anjo, adeus!


Quando, à noite, no leito perfumado - Álvarez de Azevedo

Dreams! dreams! dreams!
W. COWPER


Quando, à noite, no leito perfumado
Lânguida fronte no sonhar reclinas,
No vapor da ilusão por que te orvalha
Pranto de amor as pálpebras divinas?

E, quando eu te contemplo adormecida
Solto o cabelo no suave leito,
Por que um suspiro tépido ressona
E desmaia suavíssimo em teu peito?

Virgem do meu amor, o beijo a furto
Que pouso em tua face adormecida
Não te lembra do peito os meus amores
E a febre do sonhar de minha vida?

Dorme, ó anjo de amor! no teu silêncio
O meu peito se afoga de ternura...
E sinto que o porvir não vale um beijo
E o céu um teu suspiro de ventura!


Um beijo divinal que acende as veias,
Que de encantos os olhos ilumina,
Colhido a medo, como flor da noite,
Do teu lábio na rosa purpurina...

E um volver de teus olhos transparentes,
Um olhar dessa pálpebra sombria
Talvez pudessem reviver-me n’alma
As santas ilusões de que eu vivia!

Adeus, meus sonhos! - Álvarez de Azevedo




Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!

Misérrimo! votei meus pobres dias
À sina doida de um amor sem fruto...
E minh’alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.

Que me resta, meu Deus?!... morra comigo
A estrela de meus cândidos amores,
Já que não levo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores!


Meu Desejo - Álvarez de Azevedo


Meu desejo? era ser a luva branca
Que essa tua gentil mãozinha aperta,
A camélia que murcha no teu seio,
O anjo que por te ver do céu deserta...

Meu desejo? era ser o sapatinho
Que teu mimoso pé no baile encerra...
A esperança que sonhas no futuro,
As saudades que tens aqui na terra...

Meu desejo? era ser o cortinado
Que não conta os mistérios de teu leito,
Era de teu colar de negra seda
Ser a cruz com que dormes sobre o peito.

Meu desejo? era ser o teu espelho
Que mais bela te vê quando deslaças
Do baile as roupas de escumilha e flores
E mira-te amoroso as nuas graças!

Meu desejo? era ser desse teu leito
De cambraia o lençol, o travesseiro
Com que velas o seio, onde repousas,
Solto o cabelo, o rosto feiticeiro...

Meu desejo? era ser a voz da terra
Que da estrela do céu ouvisse amor!
Ser o amante que sonhas, que desejas
Nas cismas encantadas de langor!

Por que mentias?


Por que mentias, leviana e bela,
Se minha face pálida sentias
Queimada pela febre?... e minha vida
Tu vias desmaiar... por que mentias?

Acordei da ilusão! a sós morrendo
Sinto na mocidade as agonias.
Por tua causa desespero e morro...
Leviana sem dó, por que mentias?

Sabe Deus se te amei! sabem as noites
Essa dor que alentei, que tu nutrias!
Sabe este pobre coração que treme
Que a esperança perdeu porque mentias!

Vê minha palidez: a febre lenta...
Este fogo das pálpebras sombrias...
Pousa a mão no meu peito... Eu morro! eu morro!
Leviana sem dó, por que mentias?

Toda aquela mulher tem a pureza
Que exala o jasmineiro no perfume,
Lampeja seu olhar nos olhos negros
Como, em noite d’escuro, um vagalume...

Que suave moreno o de seu rosto!
A alma parece que seu corpo inflama...
Simula até que sobre os lábios dela
Na cor vermelha tem errante chama...

E quem dirá, meu Deus! que a lira d'alma
Ali não tem um som — nem de falsete!
E, sob a imagem de aparente fogo,
É frio o coração como um sorvete!

Vagabundo - Alvarez de Azevedo


Eat, drink, and love; what can the rest avail us?
BYRON, DON JUAN.

Eu durmo e vivo ao sol como um cigano,
Fumando meu cigarro vaporoso,
Nas noites de verão namoro estrelas,
Sou pobre, sou mendigo e sou ditoso...

Ando roto, sem bolsos nem dinheiro;
Mas tenho na viola uma riqueza:
Canto à lua de noite serenatas...
E quem vive de amor não tem pobreza.

Não invejo ninguém, nem ouço a raiva
Nas cavernas do peito, sufocante,
Quando, à noite, na treva em mim se entornam
Os reflexos do baile fascinante.

Namoro e sou feliz nos meus amores,
Sou garboso e rapaz... Uma criada
Abrasada de amor por um soneto,
Já um beijo me deu subindo a escada...

Oito dias lá vão que ando cismando
Na donzela que ali defronte mora...
Ela ao ver-me sorri tão docemente!
Desconfio que a moça me namora...

Tenho por meu palácio as longas ruas,
Passeio a gosto e durmo sem temores...
Quando bebo, sou rei como um poeta,
E o vinho faz sonhar com os amores.

O degrau das igrejas é meu trono,
Minha pátria é o vento que respiro,
Minha mãe é a lua macilenta
E a preguiça a mulher por quem suspiro.

Escrevo na parede as minhas rimas,
De painéis a carvão adorno a rua...
Como as aves do céu e as flores puras
Abro meu peito ao sol e durmo à lua.

Sinto-me um coração de lazzaroni,
Sou filho do calor, odeio o frio,
Não creio no diabo nem nos santos...
Rezo a Nossa Senhora e sou vadio!

Ora, se por aí alguma bela
Bem dourada e amante da preguiça,
Quiser a nívea mão unir à minha
Há de achar-me na Sé, domingo, à missa.

Minha Amante - Alvarez de Azevedo


Coração de mulher, qual filomela,
É todo amor e canto ao pé da noite.
JOÃO DE LEMOS

Fulcite me floribus... quia amore langueo.
Cant. Canticorum


Ah! volta inda uma vez! foi só contigo
Que, à noite, de ventura eu desmaiava...
E só nos lábios teus eu me embebia
De volúpias divinas!

Volta, minha ventura! eu tenho sede
Desses beijos ardentes que os suspiros
Ofegando interrompem! quantas noites
Fui ditoso contigo!

E quantas vezes te embalei tremendo
Sobre os joelhos meus! Quanto amorosa
Unindo à minha tua face pálida
De amor e febre ardias!

Oh! volta inda uma vez! ergue-se a lua,
Formosa como dantes, é bem noite,
Na minha solidão brilha, de novo,
Estrela de minh’alma!

Desmaio-me de amor, descoro e tremo...
Morno suor me banha o peito langue...
Meu olhar se escurece e eu te procuro
Com os lábios sedentos!

Oh! quem pudera sempre em teus amores
Sobre teu seio perfumar seus dias,
Beijar a tua fronte e em teus cabelos
Respirar ebrioso!

És a coroa de meus anos breves,
És a corda de amor d’íntima lira,
O canto ignoto, que me enleva em sonhos
De saudosas ternuras!

E tu és como a lua: inda és mais bela,
Quando a sombra nos vales se derrama,
Astro misterioso à meia-noite
Te revela a minh’alma!

Ó! minha lira, ó viração noturna,
Flores, sombras do vale, à minha amante...
Dizei que nesta noite de desejos
E de ternuras morro!

Sonhando - Álvarez de Azevedo


Hier, la nuit d’été, que nous prêtait ses voiles,
Était digne de toi, tant elle avait d’étoiles!
VICTOR HUGO


Na praia deserta que a lua branqueia,
Que mimo! que rosa! que filha de Deus!
Tão pálida... ao vê-la meu ser devaneia,
Sufoco nos lábios os hálitos meus!
Não corras na areia,
Não corras assim!
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!

A praia é tão longa! e a onda bravia
As roupas de gaza te molha de escuma...
De noite, aos serenos, a areia é tão fria...
Tão úmido o vento que os ares perfuma!
És tão doentia...
Não corras assim...
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!

A brisa teus negros cabelos soltou,
O orvalho da face te esfria o suor,
Teus seios palpitam — a brisa os roçou,
Beijou-os, suspira, desmaia de amor!
Teu pé tropeçou...
Não corras assim...
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!

E o pálido mimo da minha paixão
Num longo soluço tremeu e parou,
Sentou-se na praia, sozinha no chão,
A mão regelada no colo pousou!
Que tens, coração
Que tremes assim?
Cansaste, donzela?
Tem pena de mim!

Deitou-se na areia que a vaga molhou.
Imóvel e branca na praia dormia;
Mas nem os seus olhos o sono fechou
E nem o seu colo de neve tremia...
O seio gelou?...
Não durmas assim!
O pálida fria,
Tem pena de mim!

Dormia: — na fronte que níveo suar...
Que mão regelada no lânguido peito...
Não era mais alvo seu leito do mar,
Não era mais frio seu gélido leito!
Nem um ressonar...
Não durmas assim...
O pálida fria,
Tem pena de mim!

Aqui no meu peito vem antes sonhar
Nos longos suspiros do meu coração:
Eu quero em meus lábios teu seio aquentar,
Teu colo, essas faces, e a gélida mão...
Não durmas no mar!
Não durmas assim.
Estátua sem vida,
Tem pena de mim!

E a vaga crescia seu corpo banhando,
As cândidas formas movendo de leve!
E eu vi-a suave nas águas boiando
Com soltos cabelos nas roupas de neve!
Nas vagas sonhando
Não durmas assim...
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!

E a imagem da virgem nas águas do mar
Brilhava tão branca no límpido véu...
Nem mais transparente luzia o luar
No ambiente sem nuvens da noite do céu!
Nas águas do mar
Não durmas assim...
Não morras, donzela,
Espera por mim!

Recordação - Gonçalves Dias


Nessun maggior dolore...
-- Dante

Quando em meu peito as aflições rebentam
Eivadas de sofrer acerbo e duro;
Quando a desgraça o coração me arrocha
Em círculos de ferro, com tal força,
Que dele o sangue em borbotões golfeja;
Quando minha alma de sofrer cansada, .
Bem que afeita a sofrer, sequer não pode
Clamar: Senhor piedade; - e que os meus olhos
Rebeldes, uma lágrima não vertem
Do mar d'angústias que meu peito oprime:

Volvo aos instantes de ventura, e penso
Que a sós contigo, em prática serena,
Melhor futuro me augurava, as doces
Palavras tuas, sôfregos, atentos
Sorvendo meus ouvidos, - nos teus olhos
Lendo os meus olhos tanto amor, que a vida
Longa, bem longa, não bastara ainda
Porque de os ver me saciasse!... O pranto
Então dos olhos meus corre espontâneo,
Que não mais te verei. - Em tal pensando
De martírios calar sinto em meu peito
Tão grande plenitude, que a minha alma
Sente amargo prazer de quanto sofre.

 

Desejo - Gonçalves Dias


E poi morir.
-- Metastásio

Ah! que eu não morra sem provar, ao menos
Sequer por um instante, nesta vida
Amor igual ao meu!
Dá, Senhor Deus, que eu sobre a terra encontre
Um anjo, uma mulher, uma obra tua,
Que sinta o meu sentir;
Uma alma que me entenda, irmã da minha,
Que escute o meu silêncio, que me siga
Dos ares na amplidão!
Que em laço estreito unidas, juntas, presas,
Deixando a terra e o lodo, aos céus remontem
Num êxtase de amor!

Não me deixes - Gonçalves Dias


Debruçada nas águas dum regato
         A flor dizia em vão
A corrente, onde bela se mirava...
"Ai, não me deixes, não!
"Comigo fica ou leva-me contigo"
         "Dos mares à amplidão,
"Límpido ou turvo, te amarei constante
         "Mas não me deixes, não!"

E a corrente passava, novas águas
         Após as outras vão;
E a flor sempre a dizer curva na fonte:
         "Ai, não me deixes, não!"

E das águas que fogem incessantes
         À eterna sucessão
Dizia sempre a flor, e sempre embalde:
         "Ai, não me deixes, não!"

Por fim desfalecida e a cor murchada,
         Quase a lamber o chão,
Buscava inda a corrente por dizer-lhe
         Que a não deixasse, não.

A corrente impiedosa a flor enleia,
         Leva-a do seu torrão;
A afundar-se dizia a pobrezinha:
"Não me deixaste, não!"

Se eu fosse querido! - Gonçalves Dias


Se eu fosse querido dum rosto formoso,
Se um peito extremoso – pudesse encontrar,
E uns lábios macios, que expiram amores
E abrandam as dores – de alheio penar;

A tantos encantos minha alma rendida,
Votara-lhe a vida – que Deus me quis dar:
Constante a seu lado, seus sonhos divinos
Aos sons dos meus hinos – quisera embalar.

Depois, quando a morte viesse impiedosa
Da amante extremosa – meus dias privar,
De funda saudade minha alma rendida
Votara-lhe a vida – que Deus me quis dar.

A Saudade - Gonçalves Dias


Saudade, ó bela flor, quando te faltem
Coração ou jardim, onde tu cresças;
Vem, vem ter comigo;
         Deixa os que te não seguem,
         Terás em peito amigo
         Lágrimas, que te reguem,
         Espaços, em que floresças.

Das pegadas da ausência tu despontas,
Entre as memórias cresces do passado,
         Quando um objeto amado,
         Quando um lugar distante,
         Noite e dia,
Nos enluta e apouquenta a fantasia.
         Vem, ó Saudade, vem
         A mim também
Consolar de gemidos suspirosos
         E de partidos ais!
Oh! seja a punição dos insensíveis
         Não te sentir jamais!

Propícia Deusa, e se não fosse a esperança,
Deusa melhor da vida; qu’insensato,
A quem mitigas túrbidos pesares
         Haverá tão ingrato
Que te não queime incenso em teus altares?
O presente o que é? – Breve momento
         D’incômodo ou desgraça
         Ou de prazer, que passa
Mais veloz que o ligeiro pensamento.

         Véu escuro,
Que nem sempre a ilusão nos adelgaça,
Nos encobre os caminhos do futuro.
O que nos resta pois? – Resta a saudade,
         Que dos passados dias
         De mágoas e alegrias
Bálsamo santo extrai consolador!
Resta a saudade, que alimenta a vida
À luz do facho qu adormenta a dor!

Hera do coração, memória dele,
Ò Saudade, ó rainha do passado,
Simelhas a romântica donzela
         De roupas alvejantes
Nas ruínas de castelo levantado:
         Grinaldas flutuantes,
         Que das fendas brotaram,
         Movem-se do nordeste
         Ao sopro agudo e frio;
Em quanto vendo-o ao longe o senhorio,
         De posses decaído,
         D’invernos alquebrado,
Recorda triste os anos que passaram!

Em que plagas inóspitas e duras
Não me tens sido companheira e amiga?
         Em que hora, em que instante
         De folga ou de fadiga
Já deixei de sentir o penetrante
Espinho teu, a repassar-me todo
Dum prazer melancólico e suave?

Pois nasces nos desertos da tristeza,
Ó Saudade, ó rainha do passado!
Quando te falte gleba, onde tu cresças,
         Vem, vem ter comigo;
         Deixa os que te não seguem,
         Terás em peito amigo
         Lágrimas, que te reguem,
         Espaço, em que floresças!

Entra em meu coração, ocupa-o todo,
Fibra por fibra enlaça-te com ele,
Desce com ele à sepultura; e quando
         Jazer eu na eternidade,
         Minha flor, minha saudade,
         Tu procura a aura celeste,
Rompe a terra, transforma-te em cipreste.
         Qu’enlute o meu jazigo;
E ao meneio das ramas funerárias,
         Meu derradeiro amigo,
Descanse morto quem viveu contigo.


Angelina - Gonçalves Dias


É gentil e linda e bela,
E eu sei que m’arrouba o vê-la
         Tão divina:
A lira seus cantos cesse;
Mas minha alma não s’esquece
         D’Angelina!

Outro louve os seus cabelos,
Cante a luz dos olhos belos
         Que fascina;
E o leve sorrir donoso
Que irradia o rosto airoso
         D’Angelina!

Os dotes diga que apura,
Quando em lânguida postura
         Se reclina;
Que s’ergue, se acaso passa,
Sussurro que aplaude a graça
         D’Angelina!

Que de amor quando suspira
O bardo quebrara a lira,
         De mofina;
Que jamais poderam cantos
Pintar no vivo os encantos
         D’Angelina!

Que da sua alma a pureza
Equipara-se à beleza
         Peregrina;
Que amor seu trono tem posto
N’alma, no talhe e no rosto
         D’Angelina!

Eu que não sei descrevê-la,
Só sei que me arrouba o vê-la
         Tão divina;
A lira seus cantos cesse,
Mas minha alma não s’esquece
         D’Angelina!