A CIDADE E SEUS PÍCAROS
Quando escrevo para todos
que não falo em cultos modos,
mas em frase corriqueira
Os doutos estão nos cantos
os ignorantes na Praça
Eu não me quero emendar,
pois faço versos em rimas,
e às unhadas os sujeito
de quem os corta, e belisca.
DESCREVE A JOCOZIDADE, COM QUE AS MULATAS DO BRASIL
BAYLÃO O PATURI
Ao som de uma guitarrilha,
que tocava um colomim
vi bailar na Água Brusca
as Mulatas do Brasil:
Que bem bailam as Mulatas,
que bem bailam o Paturi!
Não usam de castanhetas,
porque cos dedos gentis
fazem tal estropeada,
que de ouvi-las me estrugi:
Que bem bailam as Mulatas,
que bem bailam o Paturi.
Atadas pelas virilhas
cuma cinta carmesim,
de ver tão grandes barrigas
lhe tremiam os quadris.
Que bem bailam as Mulatas,
que bem bailam o Paturi.
Assim as saias levantam
para os pés lhes descobrir,
porque sirvam de ponteiros
à discípula aprendiz,
Que bem bailam as Mulatas,
que bem bailam o Paturi.
HOMENS DE BEM
... homem de bem...
Manuel Pereira Rabelo, licenciado
o roubo, a injustiça, a tirania.
INCREPA JOCOSAMENTE AO RAPAZ CUPIDO POR TANTAS DILAÇÕES.
Amor, cego, rapaz, travesso, e zorro,
Formigueiro, ladrão, mal doutrinado,
Em que lei achai vós, que um home honrado
Há de andar trás de vós como um cachorro?
Muitos dias, Mancebinho, há, que morro
Por colher-vos um tanto descuidado,
Que à fé que bem de mim tendes zombado,
Pois me fazeis cativo, sendo forro.
Não vos há de valer erguer o dedo
Se desatando a voz da língua muda
Me não dais minha carta de alforria.
Mas em tal parte estais, que tenho medo,
Que alguém poderá haver, que vos acuda,
Sem que pagueis tamanha rapazia.
Amor, cego, rapaz, travesso, e zorro,
Formigueiro, ladrão, mal doutrinado,
Em que lei achai vós, que um home honrado
Há de andar trás de vós como um cachorro?
Muitos dias, Mancebinho, há, que morro
Por colher-vos um tanto descuidado,
Que à fé que bem de mim tendes zombado,
Pois me fazeis cativo, sendo forro.
Não vos há de valer erguer o dedo
Se desatando a voz da língua muda
Me não dais minha carta de alforria.
Mas em tal parte estais, que tenho medo,
Que alguém poderá haver, que vos acuda,
Sem que pagueis tamanha rapazia.
DESCREVE A VIDA ESCOLASTICA
Mancebo sem dinheiro, bom barrete
Medíocre o vestido, bom sapato
Meias velhas, calção de esfola-gato
Cabelo penteado, bom topete;
Presumir de dançar, cantar falsete,
Jogo de fidalguia, bom barato,
Tirar falsídia ao moço do seu trato,
Furtar a carne à ama, que promete;
A putinha aldeã achada em feira,
Eterno murmurar de alheias famas,
Soneto infame, sátira elegante;
Cartinhas de trocado para a freira,
Comer boi, ser Quixote com as damas,
Pouco estudo: isto é ser estudante.
A NOSSA SÉ DA BAHIA
com ser um mapa de festas
é um presépio de bestas.
e se nisto maldigo ou me engano,
eu me submeto à Santa Madre Igreja.
Se virdes um Dom Abade
sobre o púlpito cioso,
não Ihe chameis Religioso
chamai-lhe embora de Frade
Jesu, nome de Jesu!
ANATOMIA HORROROSA QUE FAZ DE HUMA NEGRA
CHAMADA MARIA VIEGAS
1Dize-me, Maria Viegas
qual é a causa, que te move,
a quereres, que te prove
todo o home, a quem te entregas?
jamais a ninguém te negas,
tendo um vaso vaganau,
e sobretudo tão mau,
que afirma toda a pessoa,
que o fornicou já, que enjoa,
por feder a bacalhau.
2Se tu sabes, o que é
o teu vaso furta-fogo,
como tens tal desafogo,
que te pespegas em pé?
dizem, para Marapé
fugira o triste Silveira
está tão correspondente
ao vaso, que juntamente
serra uma, e outra fronteira.
3Tu, me dizem, que fretaste
ao galante de antemão,
e que na tal ocasião
também foste, a que o chamaste:
o teu intento lograste:
mas podias advertir,
que não era bem dormir
(sendo tu ruim) com quem
te cataneasse bem,
como podes inferir.
4Vendo-se tão perseguido
o pobre do pecador,
não deixou de ir com temor
por ver, que tens vaso ardido:
e assim de pouco sofrido,
vendo-se quase atolado
se safou desesperado,
e diz, que tem grande mágoa,
que havendo nele tanta água,
sempre esteja emporcalhado.
5Diz, que achou tal apicu
tão tremendo, e temerário,
que só membro extraordinário
abalaria esse cu:
com guelras de Baiacu
(diz) que se farta o teu Tordo,
e assim que vaso tão gordo,
tão grande, e com tal bocaina
busque maior partezaina,
que eu por isso é, que vos mordo.
6Diz, que sois como um champrão
que nem esporas de pua
farão bolir tal charrua
com vezos de galeão:
se fincas o cu no chão,
como, puta, te ofereces?
e se a todos ruim pareces,
deixa já de fornicar,
que se eles te vão buscar,
é porque os favoreces.
7Diz mais, que quando acabaste,
deste peidos tão atrozes,
que começou a dar vozes
por ver, que te espeidorraste:
e que também lhe rogaste,
depois de se ter tirado,
te fornicasse virado,
pois de costas não podia,
porque, quem tanto bolia,
era força estar cansado.
8Saíste toda com susto,
e vendo ao triste queixar,
te puseste a escutar,
pois se queixava tão justo:
nada tem ele de injusto,
antes a metade cala,
e só a mim me regala
dizer, que atolava inteiro,
se a um ramo de araçazeiro
se não pegara por gala.
9Guardaste triste merenda
para o triste do coitado,
que ficou tão enjoado,
que promete ter emenda:
e com tão grande Calenda
se veio de ti queixando,
que toda a gente pasmando
está de ver, que o teu vaso
é a fonte do Parnaso
nas águas, que está manando.
10Ao burlesco será cono,
ao tudesco chancarona,
c'uma crica de azeitona,
onde encrica todo o mono:
daqui a razão entono
para te satirizar,
e se outra vez pespegar
quiseres, busca, garoupa,
quem no vaso entupa a roupa,
se a roupa o pode entulhar.
11Anda a triste fralda tal,
tão hedionda, e molhada,
que só pode ser coroada
com fogo de São Marçal:
considere cada qual,
o que o Moço passaria
ao ver-se na estrebaria
daquele tremendo vaso,
que joga rasteiro, e raso
tão nojenta artilharia.
12Não terás vergonha, puta,
de com tão ruim pentelho,
sobre seres vaso velho,
tomes a capa de enxuta?
és puta tão dissoluta,
que diz o Moço enjoado,
que já ficou ensinado,
e nunca mais te veria,
porque sempre d'água fria
há medo o gato escaldado.