Fazer leitura comparativa dos aspectos intertextuais atualizados nas narrativas curtas - BICICLETAS, de Péricles Prade (In Correspondências- narrativas mínimas. Porto Alegre: Movimento, 2009) e O ciclista, de Dalton Trevisan (In O beijo na nuca. São Paulo: Record. 2014).
O ciclista
Dalton Trevisan
Curvado no guidão lá vai ele numa chispa. Na esquina dá com o sinal vermelho e não se perturba – levanta vôo bem na cara do guarda crucificado. No labirinto urbano persegue a morte como trim-trim da campainha: entrega sem derreter sorvete a domicílio. É sua lâmpada de Aladino a bicicleta e, ao sentar-se no selim, liberta o gênio acorrentado ao pedal. Indefeso homem, frágil máquina, arremete impávido colosso, desvia de fininho o poste e o caminhão; o ciclista por muito favor derrubou o boné. Atropela gentilmente e, vespa furiosa que morde, ei-lo defunto ao perder o ferrão. Guerreiros inimigos trituram com chio de pneus o seu diáfono esqueleto. Se não se estrebucha ali mesmo, bate o pó da roupa e – uma perna mais curta – foge por entre nuvens, a bicicleta no ombro. Opõe o peito magro ao pára-choque do ônibus. Salta a poça d´água no asfalto. Nem só corpo, touro e toureiro, golpeia ferido o ar nos cornos do guidão. Ao fim do dia, José guarda no canto da casa o pássaro de viagem. Enfrenta o sono trim-trim a pé e, na primeira esquina, avança pelo céu na contramão, trim-trim.
"Nuno Ramos – o grande artista plástico brasileiro - lançou em 2001 seu segundo livro de poesia, abstrusamente classificado na ficha catalográfica como “ficção brasileira”. Bernardo Carvalho, em sua coluna no jornal Folha de São Paulo [1], tapa os olhos para enxergar contos na prosa poética desse livro; não sei o que diria ao analisar os Pequenos Poemas em Prosa de Baudelaire... Chega de apropriações indébitas de gênero: O Pão do corvo é um livro de poesia como o anterior Cujo, também escrito em prosa e publicado pela Editora 34, em 1993.Não sei a quem atribuir a apropriação, que certamente não fará diferença alguma no destino da obra no mercado; contudo, fato é que, na Folha de São Paulo, Nuno Ramos publicou anteriormente um dos textos desse livro, em prosa como todos os outros, como poema [2]. Ademais, não fosse poesia, o livro seria uma obra filosófica, e não ficção."
Trecho extraído: Rodapé, revista de crítica de literatura brasileira contemporânea, São Paulo: Nankin Editorial, n. 3, nov. 2004, p. 137-144
Nunos Ramos expôs, no dia 25 de setembro de 2010, a instalação Bandeira Branca, na 29ª Bienal de São Paulo, que despertou uma série de polêmicas. Segundo a crítica, nenhum trabalho causou tanto burburinho quanto ‘Bandeira Branca’, do paulistano Nuno Ramos, posicionada no vão central do edifício projetado por Oscar Niemeyer. Ousada, a obra foi exibida pela primeira vez em 2008, no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília, e traz três esculturas. No alto de uma delas, caixas de som tocam músicas como 'Carcará'. Dentro dessa área, cercada por uma rede, foram soltos três urubus-de-cabeça-amarela vivos - o motivo da confusão.
Proposta:
Navegue na web e, numa leitura intertextual, descubra as metamorfoses de Nuno Ramos e poste suas impressões leitoras.
O caderno literário Literando é um projeto da disciplina de Teoria da Literatura II do curso de Letras da Univille, ministrada pela professora Taiza Mara Rauen Moraes. Esta edição conta com ensaios sobre as obras e vida de Lima Barreto.
EXERCÍCIO REFLEXIVO – SERMÃO DA SEXAGÉSIMA – PADRE ANTÔNIO VIEIRA
1. O Barroco foi um movimento que apresentou especificidades complexas e de difícil compreensão, como a oposição do mundo material com o espiritual. Um exemplo é a representação da pintura Vênus e Adonis, de Rubens (1577 - 1640):
Como esses contrapontos aparecem no Sermão da Sexagésima, de Padre Antônio Vieira, sabendo que o texto apresenta elementos clássicos e barrocos?
2. “A unidade barroca não é a mesma que a clássica que nos induz a ver em detalhe. A unidade barroca convida a ver como um todo. Teríamos no caso uma “unidade absoluta em que as partes perderam seus direitos individuais” pois que o barroco abole a independência uniforme das partes em favor de um motivo total mais uniforme.” (VIEIRA, Antônio. Sermões. Prefácio de Jamil Almansur Haddad. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1954)
A partir do parágrafo acima, discorra sobre a limitação de assunto nos sermões de Vieira.
Leia o seguinte trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha:
“E daqui mandou o Capitão que Nicolau Coelho e Bartolomeu Dias fossem em terra e levassem aqueles dois homens, e os deixassem ir com seu arco e setas, aos quais mandou dar a cada um uma camisa nova e uma carapuça vermelha e um rosário de contas brancas de osso, que foram levando nos braços, e um cascavel e uma campainha. E mandou com eles, para lá ficar, um mancebo degredado, criado de dom João Telo, de nome Afonso Ribeiro, para lá andar com eles e saber de seu viver e maneiras.”
(Fonte: Biblioteca do Nupill)
O fragmento a seguir foi retirado do texto "Cultura Colonial", de Werneck Sodré:
Transplantação da cultura metropolitana
Antes de tudo, é preciso compreender que, nas condições apresentadas pelo Brasil, no alvorecer do século XVI, a transplantação, como já esclareceu alguém, representou expediente historicamente necessário para permitir, rompendo o ritmo espontâneo de desenvolvimento, a passagem da extensa área de predomínio da comunidade primitiva, sob organização tribal - no estágio da pedra lascada - à fase mercantil, em que se insere como objeto de empresa de consideráveis proporções. A transplantação, no caso, importava em queimar etapas intermediárias. O processo tem todos os traços de brutalidade, de que será consequência, inclusive, culturais, na área em que se implanta, com os recursos humanos e materiais importados, a grande propriedade escravista fornecedora de mercados externos.
(Fonte: Nelson Werneck Sodré, “Síntese da história da cultura brasileira”, Editora Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 2003, 20º Ed.)
A seguir, ouça a canção “Índios”, da banda Legião Urbana, e atenha-se às estrofes transcritas abaixo:
Quem me dera ao menos uma vez Ter de volta todo o ouro que entreguei a quem Conseguiu me convencer que era prova de amizade Se alguém levasse embora até o que eu não tinha
Quem me dera ao menos uma vez Esquecer que acreditei que era por brincadeira Que se cortava sempre um pano de chão De linho nobre e pura seda
Quem me dera ao menos uma vez Explicar o que ninguém consegue entender Que o que aconteceu ainda está por vir E o futuro não é mais como era antigamente
Quem me dera ao menos uma vez Provar que quem tem mais do que precisa ter Quase sempre se convence que não tem o bastante Fala demais por não ter nada a dizer
Quem me dera ao menos uma vez Que o mais simples fosse visto Como o mais importante
Mas nos deram espelhos e vimos um mundo doente
Agora assista à entrevista com o Cacique Marcelino Apurinã:
Percebendo a diferença dos olhares do branco quinhentista ecoado pela voz de Caminha, de um estudioso da colonização portuguesa no Brasil, de uma canção popular e de um Cacique de etnia Apurinã, desenvolva reflexões sobre os rumos culturais do Brasil.