“Quando Cristo mandou pregar os Apóstolos
pelo Mundo, disse-lhes desta maneira: Euntes in mundum universum, praedicate omni
creaturae:
«Ide, e pregai a toda a criatura». Como assim, Senhor?! Os animais não são
criaturas?! As árvores não são criaturas?! As pedras não são criaturas?! Pois
hão os Apóstolos de pregar às pedras?! Hão-de pregar aos troncos?! Hão-de
pregar aos animais?! Sim, diz S. Gregório, depois de Santo Agostinho. Porque
como os Apóstolos iam pregar a todas as nações do Mundo, muitas delas bárbaras
e incultas, haviam de achar os homens degenerados em todas as espécies de
criaturas: haviam de achar homens homens, haviam de achar homens brutos, haviam
de achar homens troncos, haviam de achar homens pedras. E quando os pregadores
evangélicos vão pregar ar a toda a criatura, que se armem contra eles todas as
criaturas?! Grande desgraça! ” (p. 3)
“Oh
que grandes esperanças me dá esta sementeira! Oh que grande exemplo me dá este
semeador! Dá-me grandes esperanças a sementeira porque, ainda que se perderam
os primeiros trabalhos, lograr-se- ão os últimos. Dá-me grande exemplo o
semeador, porque, depois de perder a primeira, a segunda e a terceira parte do
trigo, aproveitou a quarta e última, e colheu dela muito fruto. Já que se
perderam as três partes da vida, já que uma parte da idade a levaram os
espinhos, já que outra parte a levaram es pedras, já que outra parte a levaram
os caminhos, e tantos caminhos, esta quarta e última parte, este último quartel
da vida, porque se perderá também? Porque não dará fruto? Porque não terão
também os anos o que tem o ano? O ano tem tempo para as flores e tempo para os
frutos. Porque não terá também o seu Outono a vida?” (p. 4)
“O pregador concorre com o espelho, que é
a doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o homem concorre com os
olhos, que é o conhecimento.” (p. 6)
Os
ouvintes ou são maus ou são bons; se são bons, faz neles fruto a palavra de
Deus; se
são
maus, ainda que não faça neles fruto, faz efeito. (p. 7)
SERMÃO DE SANTO ANTONIO AOS PEIXES
PADRE ANTÔNIO VIEIRA
“Enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes? Nunca pior
auditório. Ao menos têm os peixes duas boas qualidades de ouvintes: ouvem e não
falam. Uma só cousa pudera desconsolar ao pregador, que é serem gente os peixes
que se não há-de converter. Mas esta dor é tão ordinária, que já pelo costume
quase se não sente. Por esta causa mão falarei hoje em Céu nem Inferno; e assim
será menos triste este sermão, do que os meus parecem aos homens, pelo
encaminhar sempre à lembrança destes dois fins. ” (p.4)
“Vindo, pois, irmãos, às vossas virtudes, que são as que só podem
dar o verdadeiro louvor, a primeira que se me oferece aos olhos hoje, é aquela
obediência com que, chamados, acudistes todos pela honra de vosso Criador e
Senhor, e aquela ordem, quietação e atenção com que ouvistes a palavra de Deus
da boca de seu servo António. Oh grande louvor verdadeiramente para os peixes e
grande afronta e confusão para os homens! Os homens perseguindo a António,
querendo-o lançar da terra e ainda do Mundo, se pudessem, porque lhes
repreendia seus vícios, porque lhes não queria falar à vontade e condescender
com seus erros, e no mesmo tempo os peixes em inumerável concurso acudindo à
sua voz, atentos e suspensos às suas palavras, escutando com silêncio e com
sinais de admiração e assenso (como se tiveram entendimento) o que não
entendiam. Quem olhasse neste passo para o mar e para a terra, e visse na terra
os homens tão furiosos e obstinados e no mar os peixes tão quietos e tão
devotos, que havia de dizer? Poderia cuidar que os peixes irracionais se tinham
convertido em homens, e os homens não em peixes, mas em feras. Aos homens deu
Deus uso de razão, e não aos peixes; mas neste caso os homens tinham a razão
sem o uso, e os peixes o uso sem a razão. ” (p.5)
“Este é, peixes, em comum o natural que em todos vós louvo, e a
felicidade de que vos dou o parabém, não sem inveja. Descendo ao particular,
infinita matéria fora se houvera de discorrer pelas virtudes de que o Autor da
natureza a dotou e fez admirável em cada um de vós.” (p.8)
QUESTÃO
O Sermão da Sexagésima foi pregado na Capela
Real (Lisboa), provavelmente em 31 de
Janeiro de 1655, para discutir a arte de fazer sermões e os
efeitos da multiplicação da palavra divina, enfatizando que “A semente é a palavra de Deus”, e que "Se
a palavra de Deus é tão eficaz e tão poderosa, como vemos tão pouco fruto da
palavra de Deus?".
Opere uma comparação entre o Sermão da Sexagésima e o Sermão de Santo Antônio aos Peixes, pregado em S. Luís do Maranhão, a 13 de junho (dia de Santo António no calendário litúrgico) de 1654 e desenvolva um olhar crítico sobre a relação que o Padre Vieira propõe comparando os homens e os peixes.
Opere uma comparação entre o Sermão da Sexagésima e o Sermão de Santo Antônio aos Peixes, pregado em S. Luís do Maranhão, a 13 de junho (dia de Santo António no calendário litúrgico) de 1654 e desenvolva um olhar crítico sobre a relação que o Padre Vieira propõe comparando os homens e os peixes.
Referências:
Moiséis, Massaud. A Língua Portuguesa através
dos textos,São Paulo, Editora
Cultrix, 1ª Edição - 1968, pág.141
http://www.culturatura.com.br/obras/Serm%C3%A3o%20da%20Sexag%C3%A9sima.pdf
http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/padreantoniovieira/stoantonio.htm
Imagem: (https://grijo.wordpress.com/tag/sermao-aos-peixes/)
http://www.culturatura.com.br/obras/Serm%C3%A3o%20da%20Sexag%C3%A9sima.pdf
http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/padreantoniovieira/stoantonio.htm
Imagem: (https://grijo.wordpress.com/tag/sermao-aos-peixes/)