Monday, October 11, 2010

Não me deixes - Gonçalves Dias


Debruçada nas águas dum regato
         A flor dizia em vão
A corrente, onde bela se mirava...
"Ai, não me deixes, não!
"Comigo fica ou leva-me contigo"
         "Dos mares à amplidão,
"Límpido ou turvo, te amarei constante
         "Mas não me deixes, não!"

E a corrente passava, novas águas
         Após as outras vão;
E a flor sempre a dizer curva na fonte:
         "Ai, não me deixes, não!"

E das águas que fogem incessantes
         À eterna sucessão
Dizia sempre a flor, e sempre embalde:
         "Ai, não me deixes, não!"

Por fim desfalecida e a cor murchada,
         Quase a lamber o chão,
Buscava inda a corrente por dizer-lhe
         Que a não deixasse, não.

A corrente impiedosa a flor enleia,
         Leva-a do seu torrão;
A afundar-se dizia a pobrezinha:
"Não me deixaste, não!"

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