Monday, May 02, 2011

Gregório de Matos (1636-1695)






Leia os poemas satíricos de Matos no site do Núcleo de Pesquisas em Informática, Linguística e Literatura – NUPILL e selecione três poemas e analise os seguintes aspectos:








•Faça um levantamento dos elementos determinadores da sátira.
•Identifique o objeto da sátira.
•Situe os poemas no momento histórico.
•Identifique os aspectos Barrocos contidos nos poemas.


Deixe seu comentário analítico.
Prazo: 28/06/2011.

45 comments:

Anonymous said...

Leitura dos poemas satíricos de Gregório de Matos a partir da Biblioteca Virtual do Núcleo de Pesquisas em Informática, Linguística e Literatura – NUPILL, realizadas pelos alunos do 1º ano do curso de Letras da Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE.

Anonymous said...

AO CAPITÃO BENTO RABELLO MORADOR NA VILLA DE S. FRANCISCO AMIGO DO POETA, QUE POR ESTAR TOTALMENTE DIVERTIDO COM O JOGO O NÃO FOI VISITAR; ELLE O ADMOESTA, A QUE LARGUE O JOGO, E VÁ PARA A CAJAIBA (Espada e Espadilha)

Pois me deixais pelo jogo,
licença me haveis de dar
para vos satirizar
como amigo.

Fará isso um inimigo,
deixares-me miserando,
por estar sempre beijando
o ás de copas.

Quando andáveis lá nas tropas
de tanta campanha armada,
jogáveis jogo de espada
ou da espadilha?

Quem vos meteu a potrilha,
para estares noite, e dia
na triste tafularia
de um cruzado?

Não é melhor desenfado
passares à Cajaíba,
onde o jogo vos derriba
e escangalha?

É mau ver esta canalha
Clara, Bina, e Lourencinha,
a quem dizeis a gracinha
de soslaio?

É mau encaixar-lhe o paio
encostado aqui na torre,
e ela dizer-vos, que morre
de olho em alvo?

É mau meteres o calvo
entre tanta pentelheira,
e sair co'a cabeleira
encrespadinha?

Que mau é Mariquitinha,
quando está com seus lundus
fazer-vos com quatro cus
o rebolado?

Quem vos chamar home honrado,
não tem honra, nem razão,
que vós sois um toleirão,
e um Pasguate.

Mas se deixais por remate
esse jogo, esse monturo
sois Príncipe, que de juro
senhoreia.

Sois o Mecenas da veia
deste Poeta nefando,
que aqui vos está esperando
com jantar, merenda, e ceia.

Análise
No poema satírico de Gregório de Matos "Ao capitão Bento Rabello morador na Villa de S. Francisco amigo do poeta, que por estar totalmente divertido com o jogo o não foi visitar; Elle o admoesta, a que largue o jogo, e vá para a Cajaiba." (Espada e Espadilha) dirige satiricamente a um amigo, o capitão Bento Rabello, afirmação presente no próprio poema (licença me haveis de dar/para vos satirizar/como amigo).
Os elementos determinadores da sátira são as palavras escarnecedoras que Gregório utiliza para expressar sua revolta com a despreocupação do capitão em relação ao encargo dele. Menciona as aventuras com mulheres, usando de termos chulos (É mau meteres o calvo/entre tanta pentelheira,/e sair co'a cabeleira/encrespadinha?) (Que mau é Mariquitinha,/quando está com seus lundus*/fazer-vos com quatro cus/o rebolado?). Menciona também sobre a fissura que o capitão tem por jogos de cartas, acusando-o de ter abandonado um amigo por amor ao baralho (Fará isso um inimigo,/deixares-me miserando,/por estar sempre beijando/o ás de copas). Afirma que quem chama o capitão de homem honrado, também não tem honra. O poeta chama seu amigo de pasguate (idiota, palerma). Ainda assim, reconhece que, se não fosse pelo jogo, o capitão seria um homem de muito respeito e distinção pelo qual o poeta Gregório aguarda "com jantar, merenda, e ceia".
Os aspectos Barrocos contidos no poema são: ordem indireta, metáforas, sátira, o homem como o assunto do poema, hipérbole (onde o jogo vos derriba/e escangalha?).
Um aspecto cultural negro inserido foi a manifestação do “lundu”, criado nas ruas, tinha ritmo agitado e sincopado, e melodia simples com resquícios modais, sendo basicamente negro. Do lundu se originou o chorinho, o samba, o baião, as marchinhas e os gêneros de caráter ritmado e irreverente, demonstrando um teor nacionalista.

Raquel Selner

Anonymous said...

AOS CAPITULARES DO SEU TEMPO (A Nossa Sé da Bahia)

A nossa Sé da Bahia,
com ser um mapa de festas,
é um presépio de bestas,
se não for estrebaria:
várias bestas cada dia
vemos, que o sino congrega,
Caveira mula galega,
o Deão burrinha parda,
Pereira besta de albarda,
tudo para a Sé se agrega.

Análise 1
O poema satírico "Aos capitulares do seu tempo" (A Nossa Sé da Bahia), de Gregório de Matos, é dirigido para a Sé da Bahia.
Os elementos determinadores da sátira são as palavras escarnecedoras que Gregório utiliza para expressar sua revolta contra a igreja de sua época. Por esse e outros motivos, Gregório foi chamado de "Boca do Inferno" por conta das sátiras que fazia contra a religião. Chamou a Sé de presépio de bestas (presépio é o local onde Jesus nasceu, e "besta" é um termo ambíguo que pode significar "demônio" ou "pessoa de pouca inteligência"), e depois de estrebaria (onde ficam animais como burros, mulas etc.). Compara três personagens da Sé (Caveira, Deão e Pereira) a três animais (mula, burrinha e besta de albarda ou cela). Esses termos demonstram o desprezo que Gregório de Matos sentia pelos clérigos e pela Igreja Católica, que na época acusava o poeta de desrespeitar as figuras divinas e os sacramentos (quando ocupara o cargo de tesoureiro-mor da Sé, perdido por negar-se a receber ordens sacras e por não usar o hábito). Os aspectos Barrocos contidos no poema são: ordem indireta, metáforas, sátira e o homem como valor centralizador.

Raquel Selner

Análise 2
Objeto da Sátira: Igreja Católica.
Elementos determinadores. Palavras como: ‘’Sé’’ – Instituição religiosa
‘’Presépio e estrebaria’’ – Convergem para a idéia de natal. Também para um conceito de família. ‘’Mapa de festas’’ – Metáfora referente aos desvarios do clero. ‘’Mula Galega’’, ‘’parda’’ e ‘’besta de albarda’’ – Metáforas para animais do presépio. ‘’Deão’’, ‘’Caveira’’, ‘’Pereira’’ – comparado a animais, que demonstra a revolta de Gregório para com a Igreja Católica.
Momento histórico: Em 1862 é nomeado pelo arcebispo Gaspar Barata de Mendonça tesoureiro-mor da Sé, mas logo depois o novo arcebispo, frei João da Madre de Deus destitui o poeta do seu cargo, pelo fato dele não querer usar batina, nem aceitar a imposição das ordens maiores. A partir desse episódio, apesar de ter exercido essa função eclesiástica e de ter um irmão padre (Eusébio de Matos), Gregório não perdoa a Igreja Católica baiana. Faz sátiras contra o Clero principalmente e, ridiculariza figuras religiosas: como padres, freiras e frades.
Essas sátiras contra a igreja Católica se tornam uma maneira de manifestar sua revolta contra a mesma na época, por não aceitar suas regras.
Características barrocas: metáfora, cultismo ‘’jogo de palavras’’, sátira.

Bruna Laís Linzmeyer Giese, Flávia Cristine Kuntz e Josilaine Aparecida Martins Ribeiro

Anonymous said...

DESEMPULHA-SE O POETA DA CANALHA PERSEGUIDORA CONTRA OS HOMENS SABIOS, CATANDO BENEVOLENCIA AOS NOBRES.

Que me quer o Brasil, que me persegue?
Que me querem pasguates, que me invejam?
Não vêem, que os entendidos me cortejam,
E que os Nobres, é gente que me segue?

Com o seu ódio a canalha, que consegue?
Com sua inveja os néscios que motejam?
Se quando os néscios por meu mal mourejam,
Fazem os sábios, que a meu mal me entregue.

Isto posto, ignorantes, e canalha
Se ficam por canalha, e ignorantes
No rol das bostas a roerem palha.

E se os senhores nobres, e elegantes
Não querem que o soneto vá de valha,
Não vá, que tem terríveis consoantes.



Análise 1
O poema satírico "Desempulha-se o poeta da canalha perseguidora contra os homens sábios, catando benevolência aos nobres", de Gregório de Matos, dirige sua sátira para aqueles que o perseguiam na Bahia. Os elementos determinadores da sátira são as palavras escarnecedoras que Gregório utiliza para expressar sua revolta contra as perseguições que sofria na Bahia. Em 1694, ele fora deportado para Angola por conta de suas críticas e de escândalos decorrentes, como num golpe militar que o transformou em conselheiro do governo pôde regressar ao Brasil, com a condição de se estabelecer em Recife. No entanto, teve que respeitar uma imposição judicial o impediu de continuar a escrever sátiras. A partir disso, o poeta utiliza termos como "canalha", para as classes sociais baianas, "pasguates", sinônimo de idiotas, palermas, "néscios" sinônimo de ignorantes para denominar as pessoas invejosas que o perseguiam. Gregório compreendia que a inveja provinha do fato de ele ser renomado e reconhecido pela “nobreza” local. Sentia-se motejado (caçoado) e dizia que os néscios “mal moureja” (trabalham, arquitetam). Amaldiçoa seus perseguidores (Isto posto, ignorantes, e canalha/Se ficam por canalha, e ignorantes/No rol das bostas a roerem palha) e isenta os elegantes e nobres de suas palavras (E se os senhores nobres, e elegantes/Não querem que o soneto vá de valha,/Não vá, que tem terríveis consoantes).
Os aspectos Barrocos contidos no poema são: ordem indireta, metáforas, sátiras, o homem como o assunto do poema e hipérbole.

Raquel Selner

Análise 2
Elementos determinadores da sátira – Ao maldizer os ignorantes que o seguem zombando-lhe, são palavras de escárnio como: “pasguates”, “canalha”, “ignorantes”, “néscios”, “motejam”, “terríveis consoantes”, “rol das bostas”.
Objeto da sátira – Gregório fala dos brasileiros que o perseguem, sejam os imbecis que o invejam, os ditos sábios que o bajulam ou aos nobres que o criticam. Critica a plebe ignorante, perseguidora das virtudes, chamando-a de ignorantes escarnecedores.
Momento histórico – Gregório de Matos estava vivendo em um momento em que ao escrever seus poemas, destinava aos brasileiros que o maldiziam pelo o que escrevia satirizando a sociedade.
Aspectos Barrocos – Metáfora, ordem indireta, uso de figuras de linguagem, critica pessoas do povo como ignorantes que maldiziam o que desconheciam.

Carolina Reichert e Sônia Regina Biscaia Veiga

Anonymous said...

Análise 3
Gregório de Matos escreve este poema em forma de indagação, numa crítica à sociedade brasileira, trazendo para a sua poesia o dualismo do colono com a nobreza, bem como do dinheiro com a sabedoria. Percebe-se que o feísmo barroco se faz presente, posto que mostra preferência pelos aspectos cruéis , como na utilização das palavras “canalha” e “bostas”, ocorrendo assim uma atração pelo belo horrendo. Criando espaços de ambiguidade, ele utiliza-se de linguagem complexa e rebuscada, presente em versos tais como “Com sua inveja os néscios que motejam?” e “Se quando os néscios por meu mal mourejam”, mostrando elementos do cultismo. É importante ressaltar esse jogo de palavras que Gregório de Matos utiliza neste poema, pois ao mesmo tempo em que ataca, ele aconselha, visto que suas críticas eram dirigidas para o modo que a sociedade brasileira agia em relação a nobreza portuguesa, bem como a nova “nobreza brasileira” era baseada no dinheiro e num conformismo com a visão e a mentalidade do colonizado permitindo-se ser explorada, expressa nos versos através de reclamações vazias de uma população que não buscava crescer em termos de conhecimento e sabedoria, mas que se afundava constantemente na ignorância. A segunda estrofe traz essa crítica de maneira direta:
“Isto posto, ignorantes, e canalha
Se ficam por canalha, e ignorantes
No rol das bostas a roerem palha.”
Ao mesmo tempo, há em seus “elogios” finais à nobreza uma sátira mascarada:
“E se os senhores nobres, e elegantes
Não querem que o soneto vá de valha,
Não vá, que tem terríveis consoantes.”
Esta sátira gira em torno do medo dos nobres portugueses de que a população colona e escrava adquirisse uma consciência crítica e política, tornando-se uma “nobreza brasileira”, distanciando-se cada vez mais distante do controle da metrópole.

Eloá de Mendonça, Luana Francine Mayer e Rafael Silva Fouto

Análise 4
Os elementos determinadores da sátira contidos nos poemas são as palavras escarnecedoras: pasguates, canalha, néscios, ignorantes.
O objeto da sátira são os néscios que motejam, que “não querem que o soneto vá de valha”, “Não vá, que tem terríveis consoantes”. (dirigidas para as pessoas que o censuravam).
“Os Nobres, é gente que me segue
os senhores nobres, e elegantes
Não querem que o soneto vá de valha,
Não vá, que tem terríveis consoantes.”

Franciele das Graças Malinoski, Priscila Fernanda Ferreira e Tatiane de Miranda

Anonymous said...

LETRADOS

Porque com quatro ditinhos
De conceitos estudados,
Não podem ser graduados
Em as ciências.

que hajam poetas ocultos
na sombra da poesia
fugindo da Luz do dia,
e que estes se chamem cultos!

no hábito de cacoetes,
que tem o meu amo entre asnetes
de falar agongorado.
(o cavalo de Pedralvez)


Análise
Os elementos determinadores da sátira são: o uso de palavras de escárnio, como “agongorado”, “quatro ditinhos”, “asnetes” e “cultos” e a crítica aos letrados.
Objeto da sátira - pode ser identificado pelo valor do diploma, como cultura. Critica os letrados que pensam que ser culto é se utilizar de palavras rebuscadas, questionando a existência de letrados na Bahia.
Momento Histórico – Grande parte da sociedade não tinha acesso à alfabetização e aqueles que a possuíam diziam-se superiores intelectualmente e moralmente aos demais. Em um tempo onde o ensino era quase um monopólio religioso, Gregório de Matos não tinha medo de denunciar, criticar e falar sobre os problemas que ele via na sociedade brasileira como a maneira com que os letrados se comportavam ou como se manifestavam diante dos dogmas religiosos, dessa forma sua obra se caracterizou por um ataque de denúncia e ironia contrastando com outros autores da mesma época.
Aspectos Barrocos – Metáforas, ordem indireta, crítica aos letrados (este aspecto é mais particular ao Gregório de Matos Guerra), uso de palavras extravagantes, poema constituído por figuras de linguagem.

Carolina Reichert e Sônia Regina Biscaia Veiga

Anonymous said...

DESCREVE A VIDA ESCOLÁSTICA

Mancebo sem dinheiro, bom barrete,
Medíocre o vestido, bom sapato,
Meias velhas, calção de esfola-gato,
Cabelo penteado, bom topete.

Presumir de dançar, cantar falsete,
Jogo de fidalguia, bom barato,
Tirar falsídia ao Moço do seu trato,
Furtar a carne à ama, que promete.

A putinha aldeã achada em feira,
Eterno murmurar de alheias famas,
Soneto infame, sátira elegante.

Cartinhas de trocado para a Freira,
Comer boi, ser Quixote com as Damas,
Pouco estudo, isto é ser estudante.

Análise 1
Elementos determinadores da sátira – a crítica aos estudantes da época foi efetuada com expressões de escárnio, tais como: “Quixote com as Damas”, “putinhas aldeãs”, “bom barrete”, “jogo de fidalguia”.
Objeto da sátira – Crítica ao ensino escolar, aos futuros letrados que preferiam uma vida boêmia ao invés de buscar conhecimentos e também aos dogmas da Igreja. Expõe a vida boêmia como uma opção do estudante. A verdade dos “educadores” não estava nos ensinamentos intelectuais, mas, na repetição, persuasão e reforço dos dogmas religiosos.
Momento histórico – O ensino ministrado nos colégios jesuíticos tinha o objetivo de adestrar os estudantes no desempenho linguístico, de modo que tivessem facilidade em expor verbalmente, provando as verdades dogmáticas da Igreja. Não havia estímulo ao espírito crítico, nem nenhuma forma de busca intelectual pessoal, nasce daí o uso, que ainda existe na sociedade de hoje, do jogo das palavras para efeitos linguísticos, a retórica, tão comumente encontrada nos discursos de nossos políticos.
Aspectos Barrocos - Metáforas, ordem indireta, crítica à vida escolástica (este aspecto também se encontra mais em uma particularidade do Gregório de Matos), uso de palavras chulas, utilização de figuras de linguagem.

Carolina Reichert e Sônia Regina Biscaia Veiga

Análise 2
Elementos determinadores da sátira: forma como os estudantes se comportavam diante das damas, cortejos ingênuos, reforçando a imagem de “o bom rapaz”. No poema para, enfatizar esses estudantes, Gregório utiliza de expressões satíricas como: “mancebo”, “Quixote com as damas”, “jogo de fidalguia”.
Objeto da sátira: criticavam o modo de estudar, pois os estudantes não se importavam em adquirir conhecimentos em busca de uma vida de conquistas sociais. Naquela sociedade não eram relevantes para conquistar uma dama conhecimentos intelectuais.
Aspectos do barroco contidos no poema: o poema consiste numa comparação entre a figura de pensamento por meio de seus significados metafóricos, causando o efeito de atribuição dos significados de um termo a outro. Utiliza-se de figuras de linguagem.
Momento histórico: a educação da época era persuasiva, pois os Jesuítas queriam que os estudantes tivessem um bom uso da linguagem, sem criticidade, para que os mesmos não se opusessem às verdades da igreja.

Camila Oliveira Macedo, Daniela Cristina Bortotto e Elton Carlos de Araújo Alves

Anonymous said...

PONDERA ESTANDO HOMIZIADO NO CARMO QUAM GLORIOSA HE A PAZ DA RELIGIÃO.

Quem da religiosa vida
não se namora, e agrada,
já tem a alma danada,
e a graça de Deus perdida:
uma vida tão medida
pela vontade dos Céus,
que humildes ganham troféus,
e tal glória se desfruta,
que na mesa a Deus se escuta,
no Coro se louva a Deus.

Esta vida religiosa
tão sossegada, e segura
a toda a boa alma apura,
afugenta a alma viciosa:
há cousa mais deliciosa,
que achar o jantar, e almoço
sem cuidado, e sem sobrosso
tendo no bom, e mau ano
sempre o pão quotidiano,
e escusar o Padre nosso!

Há cousa como escutar
o silêncio, que a garrida
toca depois da comida
pare cozer o jantar!
há cousa como calar,
e estar só na minha cela
considerando a panela,
que cheirava, e recendia
no gosto de malvasia
na grandeza da tigela!

Há cousa como estar vendo
uma só Mãe religião
sustentar a tanto Irmão
mais, ou menos Reverendo!
há maior gosto, ao que entendo,
que agradar ao meu Prelado,
para ser dele estimado,
se ao obedecer-lhe me animo,
e depois de tanto mimo
ganhar o Céu de contado!

Dirão réprobos, e réus,
que a sujeição é fastio,
pois para que é o alvedrio,
senão para o dar a Deus:
quem mais o sujeita aos céus,
esse mais livre se vê,
que Deus (como ensina a fé)
nos deixou livre a vontade,
e o mais é mor falsidade,
que os montes de Gelboé.

Oh quem, meu Jesus amante,
do Frade mais descontente
me fizera tão parente,
que fora eu seu semelhante!
Quem me vira neste instante
tão solteiro, qual eu era,
que na Ordem mas austera
comera o vosso maná!
Mas nunca direi, que lá
virá a fresca Primavera.

Análise
O poema selecionado satiriza a vida do clérigo. Gregório de Matos que teve um cargo de tesoureiro da Sé, no entanto, foi expulso, pois não queria usar o hábito religioso, bem como não aceitava receber ordens sacras. Gregório satirizava a igreja, visto que esta, além de tê-lo tirado o cargo, acusava o poeta de desrespeitar as normas religiosas, pois Gregório usava termos "nada sagrados" para falar sobre a Igreja. Ele satirizava a igreja dizendo que os clérigos não necessitavam trabalhar para o seu ganha pão:
"há cousa mais deliciosa,
que achar o jantar, e almoço
sem cuidado, e sem sobrosso
tendo no bom, e mau ano
sempre o pão quotidiano,
e escusar o Padre nosso!"
Ou, ainda:
"Há cousa como estar vendo
uma só Mãe religião
sustentar a tanto Irmão
mais, ou menos Reverendo!"
É frequente em alguns poemas de Gregório, o uso de elementos bíblicos, comprovando o conhecimento da Bíblia, pois foi um estudante de colégio jesuíta.
"Quem me vira neste instante
tão solteiro, qual eu era,
que na Ordem mas austera
comera o vosso _maná_!"
O verso “comera o vosso Maná” é satírico, pois sabe-se que o maná era o alimento do povo de Israel no deserto. Todas as noites, chovia uma espécie de orvalho, que no outro dia deveria ser recolhido pelos Israelitas. Esta substância já continha todo o alimento que o povo necessitava para a sua sobrevivência. Observa-se aí, portanto, uma sátira quanto ao fato dos sacerdotes receberem alimento independentemente do quanto trabalhavam, bem como acontecia no deserto com o povo de Israel.
Os aspectos barrocos do poema estão: no uso da inversão de frases, bem como a alteração do teocentrismo para o antropocentrismo. O poeta fala da relação do homem pecador com a Igreja dizendo que ela não é tão "pura", pois é humana.
Exemplo de inversão na ordem das frases:
"esse mais livre se vê", na ordem direta, seria: esse se vê mais livre, perdendo o efeito sonoro.

Loana Jonck Cassaniga e Talita Fernanda Silva Bolduan

Anonymous said...

A DESPEDIDA DO MAO GOVERNO QUE FEZ ESTE GOVERNADOR.

Senhor Antão de Sousa de Meneses,
Quem sobe a alto lugar, que não merece,
Homem sobe, asno vai, burro parece,
Que o subir é desgraça muitas vezes.

A fortunilha autora de entremezes
Transpõe em burro o Herói, que indigno cresce
Desanda a roda, e logo o homem desce,
Que é discreta a fortuna em seus reveses.

Homem (sei eu) que foi Vossenhoria,
Quando o pisava da fortuna a Roda,
Burro foi ao subir tão alto clima.
Pois vá descendo do alto, onde jazia,
Verá, quanto melhor se lhe acomoda
Ser home em baixo, do que burro em cima.

Análise 1
Os elementos do poema que caracterizam a sátira são as palavras pejorativas e os xingamentos que Gregório usava no poema para qualificar o governador:
"Quem sobe a alto lugar, que _não merece,
Homem sobe, _asno_ vai, _burro_ parece,
Que o subir é _desgraça_ muitas vezes.
Transpõe em _burro_ o Herói, que _indigno_ cresce
_Burro_ foi ao subir tão alto clima.
Ser home em baixo, do que _burro_ em cima.
O poema tem como objeto de sátira o então governador da Bahia, Antônio de Souza Meneses, conhecido como o "Braço de Prata", que comandou a capital da colônia de 1682 a 1684.
Gregório, no entanto, não se satisfez somente em escrever poemas satíricos contra o governador. Envolveu-se em conspirações contra Antônio ao lado da família de Padre Antônio Vieira.
Observe no verso abaixo o trocadilho com o nome do governador:
"Senhor _Antão_ de Sousa de Meneses"
O poeta também critica-o por ter chegado em tão alta posição sem o merecer:
Quem sobe a _alto lugar, que não merece_
O poeta também faz trocadilhos com a posição que o governador ocupa, e com sua
suposta inteligência:
_Homem sobe_, _asno_ vai, _burro_ parece,
Que o _subir_ é _desgraça_ muitas vezes.
Transpõe em _burro_ o _Herói_, que _indigno_ _cresce_
_Desanda a roda_, e logo o _homem desce_,
_Burro_ foi ao _subir_ tão _alto clima_.
Pois vá _descendo_ do _alto_, onde jazia,
Ser _home_ em _baixo_, do que _burro_ em _cima_.
Elementos que são característicos do barroco também estão presentes neste
poemas. O trocadilho que o autor faz com a posição auto e baixo, pode ser um
exemplo disso. Outra característica do barroco que se vê presente no poema, é
a inversão na ordem das frases, um exemplo, pode ser:
"Homem (sei eu) que foi Vossenhoria"
Podendo ser na ordem direta:
Homem (eu sei) que foi Vossenhoria

Loana Jonck Cassaniga e Talita Fernanda Silva Bolduan

Análise 2
O poema de Gregório de Matos é um poema satírico. Os elementos que determinam a sátira são:
“Homem sobe, asno vai, burro parece,
“Burro foi ao subir tão alto clima.
Pois vá descendo do alto, onde jazia,
Verá, quanto melhor se lhe acomoda
Ser home em baixo, do que burro em cima.”
Gregório denunciou as mazelas de seu tempo e investiu contra Antonio de Souza Menezes, governador da Bahia entre os anos 1682 e 1684.
Os aspectos barrocos do poema: são o uso frequente de figuras de linguagem. No texto existem comparação, Inversão.
Exemplos de comparações:
“Que o subir é desgraça muitas vezes.”
“Burro foi ao subir tão alto clima.”
Exemplo de inversão:
“Transpõe em burro o Herói, que indigno cresce”

Alan Roger de Sousa, Bruna Regina Borba da Silva e Cézar da Silva

Anonymous said...

Análise 3
Objeto da Sátira: O governador da Bahia, Antonio de Souza Menezes que comandou a capital da colônia de 1682 a 1684. Ele era um homem com idade avançada que havia tido carreira militar. Uma curiosidade é que ele usava um braço artificial em substituição do direito que havia perdido em batalha. Seu governo foi bastante impopular, sempre sofreu duras críticas pelos grupos combatentes da época.
O poema satírico “A despedida do mau governo que fez o governador da Bahia” de Gregório de Matos, volta sua sátira ao Governador da Bahia. Começa o poema com um trocadilho do nome do Governador de Antonio para “Antão”. Expõe sua insatisfação com o governo dizendo que ele não merece um cargo tão alto. No fim do poema diz que é melhor ser um homem com um cargo inferior do que “um burro” governando um Estado.
Os elementos da sátira ficam claros nos versos: “Homem sobe, asno vai, burro parece” / “Transpõe em burro o herói que indigno cresce”. Ele é bem satírico e debochado querendo dizer que esperto é o homem que não se mete no que não tem competência em realizar. Por esse e outros poemas Gregório fez muitos inimigos.

Dayane Cristine Miranda de Meireles e Mariane Lopes

Anonymous said...

COMO ACREDITOU ESTE PRELADO MAIS OS MEXERICOS DE CAVEYRA, DO QUE AS LIZONJAS DO POETA, LHE FEZ ESTA SÁTIRA


Eu, que me não sei calar,
mas antes tenho por míngua,
não purgar-se qualquer língua
a risco de arrebentar:
vos quero, amigo, contar,
pois sois o meu secretário,
um sucesso extraordinário,
um caso tremendo, e atroz;
porém fique aqui entre nós.

Do Confessor Jesuíta,
que ao ladrão do confessado
não só absolve o pecado,
mas os furtos lhe alcovita:
do Percursor da visita,
que na vanguarda marchando
vai pedindo, e vai tirando,
o demo há de ser algoz:
porém fique aqui entre nós.

O ladronaço em rigor
não tem para que o dizer
furtos, que antes de os fazer,
já os sabe o confessor:
cala-os para ouvir melhor,
pois com ofício alternado
confessor, e confessado
ali se barbeiam sós:
porém fique aqui entre nós.

Aqui o Ladrão consente
sem castigo, e com escusa,
pois do mesmo se lhe acusa
o confessor delinqüente:
ambos alternadamente
um a outro, e outro a um
o pecado, que é comum
confessa em comua voz:
porém fique aqui entre nós.

Um a outro a mor cautela
vem a ser neste acidente
confessor, e penitente,
porque fique ela por ela:
o demo em tanta mazela
diz: faço, porque façais,
absolvo, porque absolvais,
pacto inopinado pôs;
porém fique aqui entre nós.

Não se dá a este Ladrão
penitência em caso algum,
e somente em um jejum
se tira a consolação:
ele estará como um cão
de levar a bofetada:
mas na cara ladrilhada
emenda o pejo não pôs:
porém fique aqui entre nós.

Mecânica disciplina
vem a impor por derradeiro
o confessor marceneiro
ao pecador carapina:
e como qualquer se inclina
a furtar, e mais furtar,
se conjura a escavacar
as bolsas um par de enxós:
porém fique aqui entre nós.

O tal confessor me abisma,
que releve, e não se ofenda,
que um Frade Sagrado venda
o sagrado óleo da crisma:
por dinheiro a gente crisma,
não por cera, havendo queixa,
que nem a da orelha deixa,
onde crismando a mão pôs:
porém fique aqui entre nós.

Que em toda a Franciscania
não achasse um mau Ladrão,
quem lhe ouvisse a confissão,
mais que um padre da panhia!
nisto, amigo, há simpatia,
e é, porque lhe veio a pêlo,
que um atando vá no orelo,
e outro enfiando no cós:
porém fique aqui entre nós.

Que tanta culpa mortal
se absolva! eu perco o tino,
pois absolve um Teatino
pecados de pedra, e cal:
quem em vida monacal
quer dar à Filha um debate
condenando em dote, ou date
vem a dar-lhe o pão, e a noz;
porém fique aqui entre nós.

As Freiras com santas sedes
saem condenadas em pedra,
quando o ladronaço medra
roubando pedra, e paredes:
vós, amigo, que isto vedes,
deveis a Deus graças dar
por vos fazer secular,
e não zote de albernoz:
porém fique aqui entre nós.

Análise
Elementos que determinam a sátira: o eu lírico de Gregório de Matos está indignado com tal "cousa" que quando diz que vai contar algo “atroz”, pede um pacto de silêncio, dizendo “que fique entre nós”. Chama o confessor de delinqüente, assim os objetos da sátira são os clérigos, os políticos e os comerciantes da Bahia. Em outras palavras, satiriza o conjunto da sociedade baiana. Gregório cita várias vezes neste poema “confessor e confessado”, satirizando que o clero e os portugueses roubavam e não eram devidamente julgados. Diz que eles eram “algozes” da colônia.
Há vários aspectos barrocos neste poema.
*Metáfora (confessor, confessado, marceneiro, carpinteiro.)
*Ordem indireta (“Já os sabe o confessor” por o confessor já os sabe, etc.)
*Ênfases (“porém fique aqui entre nós” é repetido várias vezes, as palavras como: ladrão, ladronaço, furtos.)
*Trocadilhos (confessor e confessado, uma a outro e outro a um)
*Culto do contraste(absolve, pecado, pedindo, tirando,cala-os para ouvir melhor)
*Também há o conceptismo.

Loana Jonck Cassaniga e Talita Fernanda Silva Bolduan

Anonymous said...

A HUMA DAMA, QUE SE RECATAVA DE PAGAR FINEZAS.

Filena: eu que mal vos fiz,
que sempre a matar-me andais,
uma vez, quando me olhais,
outra quando me fugis:
vi-vos, e logo vos quis
tão inseparavelmente,
que nem a vista ao presente
ao menos sabe dizer-me,
entre ver-vos, e render-me
qual foi primeiro acidente.

Vós sois tão esquiva, e tal,
que outras cousas não sabendo,
da vossa esquivança entendo,
que o meu amor me fez mal:
não cabe em meu natural
fugir, de quem me maltrata,
e se me sai tão barata
a vingança de querer-vos,
quero amar-vos, e sofrer-vos,
porque fiqueis mais ingrata.

Não sinto esta pena atroz,
que me fazeis padecer,
antes folgo de morrer,
vendo, que morro por vós:
e se com passo veloz
vejo a morte já chegar,
não sinto ver-me acabar,
sinto a glória, que vos cresce,
que uma ingrata não merece
a glória de me matar.

Vivam vossas esquivanças,
e vossa crueldade viva,
que a sem-razão de uma esquiva
acredita as esperanças:
tudo tem certas mudanças,
também se muda o rigor,
e se Amor me dá valor
para sofrer-vos, e amar-vos,
claro está, que hão de mudar-vos
firmezas do meu amor.

Análise
O poema satírico “A Huma Dama, que se recatava de pagar finezas“, de Gregório de Matos volta sua sátira à mulher pela qual ele estava apaixonado, e não lhe correspondia amor, expresso nos versos “Filena: eu que mal vos fiz, que sempre a matar-me andais[...]” “[...]Vós sois tão esquiva, e tal, que outras cousas não sabendo, da vossa esquivança entendo, que o meu amor me fez mal (...) quero amar-vos, e sofrer-vos, porque fiqueis mais ingrata.” fica evidente que ao contrário dele, a dama chamada Filena, não se esforçava em demonstrar alguma gratidão por tamanho amor, tamanha admiração; de forma que os puros e belos sentimentos estavam lhe fazendo mal, fazendo-o padecer, embora ele não se cansasse de amá-la e estar disposto a sofrer. Na última estrofe da sátira, argumenta que há de haver mudanças nas firmezas desse amor e ele há de superar toda essa crueldade e esquivança.
Como aspectos do barroco, encontramos no poema certo conflito de sentimentos bem caracterizado, como a intensidade quando trata das emoções e do lirismo presente nas expressões: “[...] vejo a morte já chegar, não sinto ver-me acabar, sinto a glória, que vos cresce, que uma ingrata não merece a glória de me matar.”; e em figuras de linguagem como a metáfora, hipérbole quando se refere à morte e ao amor não correspondido.

Carla Chaiana Knop, Danúbia Floriano, Fernanda Cristine Felicio e Nicole Pereira

Anonymous said...

NASCE A ROSA, E NASCE A FLOR.

Para que nasceste, rosa,
se tão depressa acabaste,
nasces na manhã triunfante,
morres despojo de tarde.
Nasce a rosa, e nasce a flor
de tanta cor matizada,
quando se vê desmaiada
triste sem vida, e sem cor:
tudo quanto no candor
se ostentava majestosa,
então menos venturosa
perde toda a louçania,
e para brilhar um dia
Para que nasceste Rosa?

Se por nascer tão subida
perde a rosa a perfeição,
enquanto a rosa em botão
mais se lhe dilata a vida:
nessa pompa já perdida,
com que, rosa, te enfeitaste,
vendo o pouco que duraste,
da vida foste um nonada,
nem foste rosa, nem nada,
Se tão depressa acabaste.

Se na manhã encarnada
te julgas perfeita rosa,
olha o lustre de formosa
como o perdes desmaiada:
quem te viu na madrugada
entre as mais flores reinante,
que na tarde não se espante,
quando murcha assim te vê!
dize, rosa, para que
Nasces de manhã triunfante.

Se como rosa nasceste
com tão galhardo valor,
como rosa, e como flor
a pompa, e garbo perdeste:
se tanto te engrandeceste,
como te mostras cobarde,
pois quando fazendo alarde
de te ver tão majestosa,
por ver-te na manhã rosa,
Morres despojo de tarde.

Análise
No poema satírico “Nasce a rosa, e nasce a flor” de Gregório de Matos; o autor usa da comparação com a rosa para referir-se a uma mulher linda como uma bela flor, que morre jovem. Quando se refere a Rosa, como no verso “[...] Para que nasceste Rosa?” Gregório refere-se ao nome da mulher. No verso “Nasce a rosa, e nasce a flor de tanta cor matizada, quando se vê desmaiada triste sem vida, e sem cor: tudo quanto no candor, se ostentava majestosa [...]”, descreve a mulher como bela, que como majestosa flor, tão cedo, repentinamente num desmaio perde a vida, desabrocha triste, sem cor. Na sua totalidade é um questionamento que parece o martirizar, ainda que saiba que não obterá respostas, incessantemente questiona “[...] Para que nasceste, rosa, se tão depressa acabaste, nasces na manhã triunfante, morres despojo de tarde”.
Apresenta no poema uma linguagem indireta através de jogo de palavras e um raciocínio sutil, com o uso de metáforas aborda a preocupação com a transitoriedade da vida, o pessimismo de ter tão pouca vida e por isso não ter sido nada “[...] vendo o pouco que duraste, da vida foste um nonada, nem foste rosa, nem foste nada, Se tão depressa acabaste”. É uma sátira lírica, carregada de sentimento, onde expressa a intensidade das emoções fortes do amor, marcada pela repetição e uso de frases interrogativas.

Carla Chaiana Knop, Danúbia Floriano, Fernanda Cristine Felicio e Nicole Pereira

Anonymous said...

CORAÇÃO, QUE EM PERTENDER

Se de um bem nascem mil males,
de um mal quisera saber
quantos bens podem nascer?

Coração, que em pertender
perdes tempo em esperanças,
e quando algum bem alcanças,
é por ter mais que perder:
por cousas, que não têm ser,
e de que nunca te vales,
como direi, que te abales?
como direi, que convém,
andar em busca de um bem,
Se de um bem nascem mil males?

Quando um firme bem procuras,
te desavéns com teus bens,
porque perdendo os que tens,
noutros males te asseguras:
aos bens nunca te aventuras
sem certos males colher,
e eu para te defender,
e a vida te conservar,
um bem não tomara achar,
De um mal quisera saber.

Do bem os males nasceram
do mal nunca nasceu bem,
salvo o mal de quem não tem
bens, de que os males se geram:
e inda que do mal puderam
os bens produzidos ser,
se os hás de vir a perder,
antes toma um mal por gosto
Quantos bens podem nascer.

Análise
No poema “Coração, que em pretender” de Gregório de Matos, através da sátira retrata o momento histórico da sua vida em que questiona seu coração, sabendo que vai sofrer, porém se arrisca e se ilude. No verso “Quando um firme bem procuras, te desavéns com teus bens, porque perdendo o que tens, noutros males te asseguras [...]”, aí se refere a males trazidos pelas angústias de um amor perdido, que muito lhe fere, lhe maltrata. Persiste numa indagação em torno dos males que podem nascer de um bem, e de quantos bens podem nascer de um mal.
Caracterizando o barroco, pelo estilo pessimista com qual indaga seu coração ressaltando dores da vida, através de hipérboles retrata o choque entre amor e dor, como no verso: “[...] como direi, que convém, andar em busca de um bem, Se de um bem nascem mil males?”. Uma linguagem rebuscada marcada pela repetição e uso frequente de frases interrogativas.

Carla Chaiana Knop, Danúbia Floriano, Fernanda Cristine Felicio e Nicole Pereira

Anonymous said...

EMBARCADO JA O POETA PARA O SEU DEGREDO, E POSTOS OS OLHOS NA
SUA INGRATA PATRIA LHE CANTA DESDE O MAR AS DESPEDIDAS.

Adeus praia, adeus Cidade,
e agora me deverás,
Velhaca, dar eu adeus,
a quem devo ao demo dar.
Que agora, que me devas
dar-te adeus, como quem cai,
sendo que estás tão caída,
que nem Deus te quererá.
Adeus Povo, adeus Bahia,
digo, Canalha infernal,
e não falo na nobreza
tábula, em que se não dá,
Porque o nobre enfim é nobre,
quem honra tem, honra dá,
pícaros dão picardias,
e inda lhes fica, que dar.
E tu, Cidade, és tão vil,
que o que em ti quiser campar,
não tem mais do que meter-se
a magano, e campará.
Seja ladrão descoberto
qual águia imperial,
tenha na unha o rapante,
e na vista o perspicaz.
A uns compre, a outros venda,
que eu lhe seguro o medrar,
seja velhaco notório,
e tramoeiro fatal.
Compre tudo, e pague nada,
deva aqui, deva acolá
perca o pejo, e a vergonha,
e se casar, case mal.
Com branca não, que é pobreza,
trate de se mascavar;
vendo-se já mascavado,
arrime-se a um bom solar.
Porfiar em ser fidalgo,
que com tanto se achará;
se tiver mulher formosa,
gabe-a por esses poiaes.
De virtuosa talvez,
e de entendida outro tal,
introduza-se ao burlesco
nas casas, onde se achar.
Que há Donzela de belisco,
que aos punhos se gastará,
trate-lhe um galanteio,
e um frete, que é principal.
Arrime se a um poderoso.
que lhe alimente o gargaz,
que há pagadores na terra,
tão duros como no mar.
A estes faça alguns mandados
a título de agradar,
e conserve-se o afetuoso,
confessando o desigual.
Intime-lhe a fidalguia,
que eu creio, que crerá,
porque fique ela por ela,
quando lhe ouvir outro tal.
Vá visitar os amigos
no engenho de cada qual,
e comendo-os por um pé,
nunca tire o pé de lá.
Que os Brasileiros são bestas,
e estarão a trabalhar
toda a vida por manter
maganos de Portugal.
Como se vir homem rico,
tenha cuidado em guardar,
que aqui honram os mofinos,
e mofam dos liberais.
No Brasil a fidalguia
no bom sangue nunca está,
nem no bom procedimento,
pois logo em que pode estar?
Consiste em muito dinheiro,
e consiste em o guardar,
cada um o guarde bem,
para ter que gastar mal.
Consiste em dá-lo a maganos,
que o saibam lisonjear,
dizendo, que é descendente
da casa do Vila Real.
Se guardar o seu dinheiro,
onde quiser, casará:
os sogros não querem homens,
querem caixas de guardar.
Não coma o Genro, nem vista
que esse é genro universal;
todos o querem por genro,
genro de todos será.
Oh assolada veja eu
Cidade tão suja, e tal,
avesso de todo o mundo,
só direita em se entortar.
Terra, que não parece
neste mapa universal
com outra, ou são ruins todas,
ou ela somente é má.

Anonymous said...

Análise
Nesse poema, a sátira de Gregório de Matos se volta à nobreza e ao desvirtuamento de valores na sociedade baiana. Ele utiliza-se constantemente do jogo de palavras e de raciocínio, razão pela qual se encontra na vertente cultista do barroco; bem como de hipérboles, figura esta a mais utilizada, metáforas e antíteses. Gregório de Matos trabalha com os dualismos da ignorância e sabedoria, do homem branco e do negro, da posse de dinheiro e fidalguia, e de maneira geral, da inversão dos valores na sociedade.
Ele escreve esse poema na forma de conselhos satíricos, ensinando o leitor a como o mesmo deve pensar e agir para sobreviver na sociedade baiana da época, num desvirtuamento contínuo dos valores pregados pela Igreja Católica, ou seja: a primeira coisa que você deve fazer ao pisar os pés no Bahia, e sobretudo em Salvador, é abandonar todo o seu conceito do que é certo e do que é errado. Em versos como “Adeus Povo, adeus Bahia, digo, Canalha infernal” e “Cidade tão suja, e tal, avesso de todo o mundo”, percebe-se que o pessimismo barroco se encontra presente, marcado pelo seu desencanto com a sociedade. Seu enfoque recai continuamente na vilania, presente tanto nos atos traiçoeiros e mesquinhos, quanto no pensamento voltado ao dinheiro da população. Este último fator, em particular, é constantemente abordado, onde Gregório de Matos deixa bem claro que a fidalguia no Brasil se encontra na forma do dinheiro e de quem sabe guardá-lo.
Gregório de Matos faz, também, uma crítica a Portugal, mostrando que o comportamento brasileiro espelha, em certo grau, o comportamento português, também considerado por ele como desvirtuado:
“Que os Brasileiros são bestas,
e estarão a trabalhar
toda a vida por manter
maganos de Portugal.”
O elemento mais interessante desse poema é a forma como Gregório de Matos trabalha com o branco e negro/mulato, utilizando-se de um jogo de opostos onde o branco é na sociedade baiana, visto como pobre e menosprezado e o negro como rico e valorizado, demonstrando a fraqueza da influência cultural europeia, sobretudo da portuguesa. Gregório registra poeticamente de modo irônico a valorização da cultura do escravo e do negro alforriado na psique brasileira. Sua posição fica clara nesse sentido nos versos “No Brasil a fidalguia no bom sangue nunca está,” sendo o “bom sangue” mencionado como o sangue europeu. Essa questão está presente também quando que ele coloca o que é o “bom casamento”, no verso “Com branca não, que é pobreza,” e quando trata dessa instituição, de maneira equivocada, reforçando que a esposa deve ser mostrada aos outros quando ela é bela, para causar inveja, e que o homem deveria casar com alguém de família rica; ou seja, por dinheiro, não por amor.
Termina reforçando a estranheza do Brasil, com o verso que menciona a inexistência política da colônia “não parece neste mapa universal”.

Eloá de Mendonça, Luana Francine Mayer e Rafael Silva Fouto

Anonymous said...

DESCREVE O QUE ERA REALMENTE NAQUELLE TEMPO A CIDADE DA BAHIA DE MAIS ENREDADA POR MENOS CONFUSA

A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar a cabana, e vinha,
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um freqüentado olheiro,
Que a vida do vizinho, e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,
Para a levar à Praça, e ao Terreiro.

Muitos Mulatos desavergonhados,
Trazidos pelos pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia.

Estupendas usuras nos mercados,
Todos, os que não furtam, muito pobres,
E eis aqui a cidade da Bahia.

Análise 1
Sabe-se que Gregório de Matos era chamado “boca do inferno” por não ter papas na língua. Neste poema, é clara a crítica que o autor faz sobre a sociedade baiana da época. Ele não concorda com o fato de todos se acharem no direito de tomar conta das vidas alheias e ironiza generalizando essas pessoas em “o grande conselheiro”. Conselheiro esse que sequer tem competência para tal tarefa. O tom satírico fica claro nos seguintes versos:
“não sabem governar sua cozinha
E podem governar o mundo inteiro”
Seu tom zombeteiro recai sobre a ideia de que as pessoas não são competentes para manter seu próprio lar, mas são hipócritas o suficiente para darem opiniões sobre outros lares. Nessa parte pode-se reconhecer que Gregório tenta ressaltar aspectos cruéis e dolorosos da natureza humana, sendo essa uma característica do período barroco. Além disso, o autor faz uso de uma linguagem trabalhada, que também pode ser reconhecida como característica desse período.
O poeta ainda critica o preço dos produtos, dizendo que as pessoas eram sim muito pobres. Como não haveriam de ser, ora, se nos mercados ocorriam “estupendas usuras”? Essa situação baiana em particular foi objeto de análise em outros poemas do mesmo autor. Parecia absurda a ideia dos valores serem tão altos, sobretudo porque a matéria-prima era extraída da Bahia! Como e por que eles precisavam dispensar tanto dinheiro comprando coisas que vinham de Portugal, mas eram produzidas com material pertencente aquele lugar?
Num contexto geral, o pessimismo barroco é observável. Gregório de Matos expõe um cenário baiano diferente do que se imagina. Uma sociedade com pessoas pobres, que passam boa parte do tempo preocupando-se com atitudes e acontecimentos alheios quando não conseguem nem controlar as próprias vidas.
Esse poema é, portanto, uma sátira crítica sobre as relações sociais, aparentemente saudáveis, da época.

Eloá de Mendonça, Luana Francine Mayer e Rafael Silva Fouto

Análise 2
Gregório de Matos trata em seu poema da época em que existiam escravos no Brasil, especificamente na Bahia no século XVII. Os objetos de sátira são os conselheiros e olheiros que dão a entender que estão associados aos senhores e burgueses. Pode-se notar quando ele fala “Não sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro” e “Muitos Mulatos desavergonhados, Trazidos pelos pés os homens nobres” discordando e satirizando o modo com que eles agem. Nesse poema barroco é visível o conceptismo em um todo praticamente, pelo fato de ele raciocinar logicamente tudo o que está acontecendo em volta dele e também há um propósito de querer convencer, de mostrar a realidade da Bahia.

Anna Clara Parucker Rother, Felipe João Dutra e João Marcos da Silva

Anonymous said...

AUSENTE O POETA DAQUELLA CASA, FALLECEO D. THEREZA HUA DAS IRMÃS, E COM ESTA NOTICIA SE ACHOU O POETA COM VASCO DE SOUZA A PEZAMES, ONDE FEZ O PRESENTE SONETO.

Astro do prado, Estrela nacarada
Te viu nascer nas margens do Caípe
Apolo, e todo o coro de Aganipe,
Que hoje te chora rosa sepultada.
Por rainha das flores aclamada
Quis o prado, que o certo participe
Vida de flor, adonde se antecipe
Aos anos a gadanha coroada.

Morrer de flor é morte de formosa,
E sem junções de flor nasceras peca,
Que a pensão de acabar te fez pomposa.

Não peca em fama, quem na morte peca,
Nácar nasceste, e eras fresca rosa:
O vento te murchou, e és rosa seca.

Análise 1
A sátira é voltada à Vasco de Souza, pela morte de sua filha D. Theresa, irmã de D. Ângela de Sousa Paredes Rabelo, por quem o autor teve uma paixão não correspondida. Gregório de Matos havia saído de Pernambuco, e ao retornar, encontra a donzela morta, então, cria a sátira como uma forma de demonstrar seus pêsames. Os elementos determinadores da sátira são os termos utilizados para engrandecer a moça, como “estrela nacarada”, “rainha das flores”, “morte de formosa”. O autor durante toda a sátira repete que D. Theresa, é uma flor, até mesmo na morte, “rosa seca”, “rosa sepultada”. O autor, narra acontecimentos como o nascimento da moça, nas margens do rio Caípe, em Pernambuco, e as atitudes de Apolo e o couro das musas, que a viram triunfar, hoje choram a vendo sepultada. O poema mostra, em certos momentos até de forma exagerada, o carinho que Gregório tinha pela donzela, sonhada cunhada, como em: “Estrela nacarada”, sendo estrela e nacarada sinônimos de brilho.
Os aspectos barrocos contido no poema são o cultismo, uso de linguagem culta, vista em termos como gadanha, nácar, pomposa, o culto do contraste, nesse caso entre a vida e a morte, que são explícitas no poema, cada um com as suas descrições, a metáfora e a intensidade, como nos trechos “por rainha das flores aclamada”, “o vento te murchou, e és rosa seca” e a sátira.

Bruna Laís Linzmeyer Giese, Flávia Cristine Kuntz e Josilaine Aparecida Martins Ribeiro

Anonymous said...

COMO O NÃO QUIS ADMITIR, A DESCOMPÕE NO SEGUINTE SONETO

Beleta, a vossa perna tão chagada
Olha poderá ser pelo podrida,
Mas eu não quero olha em minha vida
Podrida, pelo mal inficionada.

Estais tão lazarenta e empestada,
Tão héctica, mirrada e corcomida,
Que uma pilhancra vossa bem moída
Servirá de peçonha refinada.

O que vos gabo é ser presuntuosa
Em tal calamidade, em tal miséria,
Como se a podridão fora formosa.
Mas se acaso vos dói, Dona Lazéria,
O gume deste verso ou desta prosa,
Sabei que o vosso humor deu a matéria.

Análise
Este soneto do Gregório de Matos, escrito no século XVII, época de colonização e avanços racionalistas, possui como objeto de sátira, uma mulher que foi motivo de desengano por parte do autor, a qual ele expõe, mostrando tanto motivos de repudia, quanto o orgulho da mulher que persiste mesmo em situação ruim.
Poderiam ser destacados como elementos de sátira, as palavras atiradas diretamente à mulher se referindo à sua chaga, como em “/Estais tão lazarenta e empestada,/ Tão héctica, mirrada e corcomida,/”. As palavras diretas, se referindo à doença, mostram um realismo crítico, sem idealizações, que promovem sátira. Ele também expõe, que na opinião dele, a mulher não agrada por sua aparência, e que sua doença chama a atenção por ser horrível e repugnante.
Como no Barroco há a presença da imprecisão, o poema também mostra isso, não sabendo exatamente o que a mulher significa para o autor.
Isso porque o poema não é o único a tratar que aborda essa mulher como objeto, logo, não é possível analisar as partes da obra, e sim, como um todo, outra característica do Barroco. Mas apesar de uma imprecisão dos sentimentos do autor, ele mostra clareza no que fala, ou seja, as criticas são muito diretas.

Anna Clara Parucker Rother, Felipe João Dutra e João Marcos da Silva

Anonymous said...

A NOSSA SÉ DA BAHIA

com ser um mapa de festas
é um presépio de bestas.
e se nisto maldigo ou me engano,
eu me submeto à Santa Madre Igreja.
Se virdes um Dom Abade
sobre o púlpito cioso,
não Ihe chameis Religioso
chamai-lhe embora de Frade
Jesu, nome de Jesu!

O poema foi escrito no século XVII, na época da contra-reforma religiosa. O objeto da sátira é a Bahia, Gregório de Matos também era conhecido por fazer sátiras falando mal do governo da Bahia, e também da Igreja, que são os elementos determinadores desta sátira.
O autor não simplesmente faz uma crítica, assim como na parte em que fala "é um presépio de bestas" ele faz uma sátira da sociedade, usando muitas figuras de linguagem, o que deixa o texto muito rebuscado, e, por isso mesmo, o texto chega a assemelhar um texto cultista. Além disso, o autor utiliza-se da antítese em partes como "Há cousa como escutar o silêncio..." em contraponto a "há cousa como calar, e estar só na minha cela...".

Anna Clara Parucker Rother, Felipe João Dutra e João Marcos da Silva

Anonymous said...

PICA-FLOR

Se Pica-flor me chamais,
Pica-flor aceito ser,
mas resta agora saber,
se no nome que me dais,
meteis a flor, que guardais
no passarinho melhor!
Se me dais este favor,
Sendo só de mim o Pica,
e o mais vosso, claro fica,
que fica então Pica-flor.

Análise 1
Este poema foi escrito por Gregório de Matos para satirizar uma freira que não gostava dele e que o chamou de Pica-flor. Observa-se que estes versos têm um tom erótico, pois o poeta utiliza expressões que remetem ao ato de cópula, (“se no nome que me dais, meteis a flor que guardais no passarinho melhor!”) O autor diz aceitar ser chamado de Pica-flor com uma condição que propõe no poema: “Sendo de mim só o Pica, e o mais vosso, claro fica, que fica então Pica-flor”. Gregório trabalha o poema com ironia e metáforas, o que era muito comum nas suas sátiras.

Alan Roger de Sousa, Bruna Regina Borba da Silva e Cézar da Silva

Anonymous said...

Análise 2
Pica-Flor é uma obra de Gregório de Matos Guerra, o "Boca do Inferno", em resposta a uma freira, satirizando-a por ter lhe atribuído o nome de Pica-flor, em razão de sua aparência, que lembra o pássaro (o beija-flor). Observa-se que estes versos têm um tom erótico, pois o poeta utiliza expressões que remetem ao ato de cópula. Tratado pela freira por "Pica-flor", o mesmo diz aceitar a alcunha desde que esta tenha um lugar para guardá-lo. Se ocorrer tal possibilidade. então permite que ela assim o chame. O objeto da sátira é uma freira que, talvez por não gostar do poeta, apelidou-o de “pica-flor”, assim chamado na época o nosso conhecido “beija-flor”. De acordo com Manuel Pereira Rabelo: “Foi Gregório de Matos de boa estatura, falta de vista, delgado de corpo, membros delicados, poucos cabelos, e crespos: testa espaçosa, sobrancelhas arqueadas, e grossas, os olhos garços, nariz aguilenho, boca pequena, e engraçada, a barba sem demasia, alvo na cor e no trato cortesão”.Pela descrição que temos acima, observa-se que ele tinha uma cabeça que lembrava a de um passarinho, mais precisamente a de um beija-flor, na opinião da freira. Não conseguimos precisar exatamente o ano em que Gregório de Matos escreveu Pica-flor. Só sabemos que, antes de seu exílio para Angola, o poeta arranjou numerosos e poderosos inimigos. Começou com João da Madre de Deus, frei que o destituiu de seus cargos eclesiásticos pelo fato de o poeta não querer usar a batina bem como se recusar a receber as ordens maiores. Começa, então, a satirizar os costumes do povo e de todas as classes sociais baianas (a que chamará "canalha infernal"). Desenvolve uma poesia corrosiva, erótica (quase ou mesmo pornográfica), apesar de também ter andado por caminhos mais líricos e, mesmo, sagrados.
O objeto da sátira é a sociedade baiana seiscentista, mais especificamente, a cidade de Salvador.
Em 1685, o promotor eclesiástico da Bahia denuncia os seus costumes livres ao tribunal da Inquisição (acusa-o, por exemplo, de difamar Jesus Cristo e de não mostrar reverência, tirando o barrete da cabeça quando passa uma procissão). A acusação não tem seguimento. Embora seja condizente com o perfil satírico de Gregório.
Não era exatamente agradável em todas suas relações como se pode ver pelo poema “Pica-flor”.
Entretanto, as inimizades vão crescendo em relação direta com os poemas que vai concebendo. Em 1694, acusado por vários lados (principalmente por parte do Governador Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho), e correndo o risco de ser assassinado é deportado para Angola.
A poesia Barroca se caracterizava, entre outros elementos, pelo emprego quase abusivo das metáforas. Em “Pica-flor”, Gregório de Matos separa os vocábulos que compõem o substantivo composto que dá título ao poema e os metaforiza: “pica” adquire o sentido de órgão sexual masculino e “flor” o de órgão sexual feminino.De se notar que na décima a seguir reproduzida – A uma dama que lhe pediu um craveiro - , Gregório usa o mesmo expediente para dar uma “cantada” na mulher:
O craveiro que dizeis
Não vo-lo mando, senhora,
Só porque não tem agora
O vaso que mereceis:
Porém, se vós o quereis,
Quando por vós eu me abraso,
Digo em semelhante caso,
Sem ser nisso interesseiro,
Que vos darei o craveiro,
Se vós me deres o vaso.
Neste poema, Gregório de Matos também trabalha com metáforas. O craveiro (o cravo), Gregório transforma no membro viril, enquanto que o vaso seria o órgão sexual feminino.

Aline Rezende, Camila Corrêa Neves e Hermógenes Fernandes

Anonymous said...

AO MESMO ASSUMPTO.

Teu alto esforço, e valentia forte
Tanto a outro nenhum valor iguala,
Que teve o céu cobiça de lográ-lo,
Que teve inveja de vencê-la a morte.

O céu veio a lográ-la, mas por sorte,
Que por poder não pôde conquistá-la;
A morte por haver de contrastá-la
Vigor de lei tomou, e deu-lhe o corte.

Prêmios, que mereceste, e nunca viste,
Todos com teu valor os desprezaste,
E com os merecer lhe resististe.

O cargo, que na vida não lograste,
Esse o mofino é, órfão, e triste,
Pois te não falta a ti, tu lhe faltaste.

Análise 1
O poema acima escrito por Gregório de Matos trata-se de um ser (homem) poderoso, que até o céu teve cobiça de lográ-lo, porém mais poderoso que ele, à morte.
Os objetos de sátiras estão bem transparentes no poema acima. Veja abaixo:

“Teu alto esforço, e valentia forte
Tanto a outro nenhum valor iguala
Que teve inveja de vencê-la a morte.”
“Que teve inveja de vencê-la a morte.
A morte por haver de contrastá-la
Vigor de lei tomou, e deu-lhe o corte.”

O aspecto barroco aparece em várias partes no poema. Um exemplo bem claro, está neste verso:
“O céu veio a lográ-la, mas por sorte,”
“Que por poder...”

Alan Roger de Sousa, Bruna Regina Borba da Silva e Cézar da Silva

Anonymous said...

A SENHORA DONA BAHIA

“Ninguém vê, ninguém fala, nem impugna,
e é que, quem o dinheiro nos arranca,
nos arranca as mãos, a língua, os olhos."

"Esta mãe universal,
esta célebre Bahia,
que a seus peitos toma, e cria,
os que enjeita Portugal"

"Cansado de vos pregar
cultíssimas profecias,
quero das culteranias
hoje o hábito enforcar:
de que serve arrebentar
por quem de mim não tem mágoa?
verdades direi como água
porque todos entendais,
os ladinos e os boçais,
a Musa praguejadora.
Entendeis-me agora?"

Análise 1
Gregório critica que Portugal explora a Bahia e todos são cegos surdos e mudos pois não fazem nada para impedir essa exploração amasiada.
Os elementos determinadores dessa sátira são:"Ninguém vê, ninguém fala, nem impugna,
e é que, quem o dinheiro nos arranca, nos arranca as mãos, a língua, os olhos."

Jéssica Tais Köhler

Anonymous said...

DESCREVE QUE REALMENTE ERA NAQUELE TEMPO A CIDADE DA BAHIA

A cada canto um grande conselheiro,
que nos quer governar cabana, e vinha,
não sabem governar sua cozinha,
e podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um freqüentado olheiro,
que a vida do vizinho, e da vizinha
pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,
para a levar à Praça, e ao Terreiro.

Muitos mulatos desavergonhados,
trazidos pelos pés os homens nobres,
posta nas palmas toda a picardia.

Estupendas usuras nos mercados,
todos, os que não furtam, muito pobres,
e eis aqui a cidade da Bahia.

Análise 1
O poema satírico "Descrevo que Realmente Era Naquele Tempo a Cidade Bahia"
Objetos da sátira:Estupendas usuras nos mercados,
todos, os que não furtam, muito pobres,
e eis aqui a cidade da Bahia.
Ele fala nesse poema como os governantes da época tratavam a Bahia.Sendo que os governantes não saberiam governar nem sua própria coisinha.

Jéssica Tais Köhler

Análise 2
Este poema fala da confusão e da falta de honestidade reinantes na sociedade da época. Todo mundo querendo mandar em todo mundo ou opinar sobre os mais diversos assuntos, até os particulares (cabana e vinha: no sentido de negócios particulares). Todo mundo espionando todo mundo para ter o que fofocar em público. Gregório critica a esperteza dos mulatos (picardia: esperteza ou desconsideração) e a ganância dos endinheirados (usuras: juros ou lucros exagerados). Finalmente, diz que na cidade da Bahia (Salvador) existem duas classes sociais: os pobres e os que furtam, que, por oposição, não são pobres.
Gregório de Matos retorna ao Brasil em 1682, após passar muito tempo fora e encontra uma sociedade em crise. A decadência econômica torna-se visível: o açúcar brasileiro enfrenta a concorrência do açúcar produzido nas Antilhas e seu preço desaba. Além disso, uma nova camada de comerciantes (em sua maioria, portugueses) acumula riquezas com a exportação e importação de produtos. Esta nova classe abastada humilha aqueles que se julgam bem nascidos, mas que, dia após dia, perdem seu poder econômico e seu prestígio.
E Gregório de Matos, filho de um senhor de engenho, encontra o engenho em plena crise. Vê seu mundo usurpado pelos negociantes portugueses, que ele considera oportunistas. Além disse, depara-se com a farsa das instituições jurídicas. E como poeta culto que é, vê-se num meio iletrado. A literatura está sufocada nos auditórios da Igreja, na academia, praticada por juristas, sacerdotes e burocratas, que fazem apologia do sistema.
Contra tal ordem de coisas, contra este novo mundo, que revirou todos os princípios e hierarquias, que pôs tudo de cabeça para baixo, que está afundando a sua classe, ele vai protestar. O protesto dá-se através da linguagem poética, transformada quase sempre em caricatura, ofensa, praguejar, explosões de um cinismo cru e sem piedade. O gosto do poeta pelo insulto leva-o a acentuar os aspectos grotescos dos indivíduos e do contexto baiano como neste soneto em que descreve a cidade da Bahia (Salvador).
Gregório de Matos utiliza aqui uma figura de linguagem que ele utiliza em quase toda a sua obra: a metáfora (cabana e vinha, praça e terreiro, nas palmas toda a picardia, estupendas usuras).

Aline Rezende, Camila Corrêa Neves e Hermógenes Fernandes

Anonymous said...

A CIDADE E SEUS PÍCAROS
Quando escrevo para todos
que não falo em cultos modos,
mas em frase corriqueira (linguagem complicada)

Os doutos estão nos cantos
os ignorantes na Praça (opostos, contrastes)

Eu não me quero emendar,
pois faço versos em rimas,
e às unhadas os sujeito
de quem os corta, e belisca. (intensidade)

EPITAFIO À MESMA BELLEZA SEPULTADA.
Vemos a luz (ó caminhante espera)
De todas, quantas brilham, mais pomposa,
Vemos a madrugada mais formosa:
Vemos a gala da luzente esfera,
Vemos a flor das flores mais lustrosa
Em terra, em pó, em cinza reduzida:
Quem te teme, ou te estima, ó morte, olvida. (transitoriedade da vida, intensidade, contrastes, impressões sensoriais)


ANDANÇAS DE UMA VIOLA DE CABAÇA

Que eu o ponho à viola
na postura de um cruzado
Tem-na lá, senhor vizinho,
a minha Ilária, Senhor?
Fugiu perdida de amor
pela manhã bem cedinho (erotismo, desejo de expressar as emoções fortes do amor).

Análise a partir dos poemas “Andanças de uma Viola de Cabaça”, ”Epitáfio à mesma belleza sepultada” e “A Cidade e seus Pícaros”.
O Barroco surgiu como fruto de esforços individuais, quando os modelos literários portugueses chegaram ao Brasil. A arte que se desenvolveu com mais força foi a arquitetura, mas a partir da segunda metade do século as artes sofreram impulso maior.
Costuma-se considerar a publicação da obra Prosopopéia (1601), de Bento Teixeira, como o marco inicial do Barroco no Brasil. Esse é um poema épico, de estilo cancioneiro que procura imitar Os Lusíadas.
Em virtude de suas sátiras, Gregório de Matos ficou conhecido como “O boca do Inferno”, pois o poeta não economizou palavrões nem críticas em sua linguagem, que além disso era enriquecida com termos indígenas e africanos.
A literatura barroca é fruto do conflito característico de sua época. Pressionado pela Igreja e pelo racionalismo, o homem perde-se entre dois pólos opostos: Igreja X pensamento renascentista / salvação X pecado / céu X inferno / espírito X carne / fé X razão.
Atormentado por este conflito, o homem produz textos literários com características bastante nítidas. São elas: 1 – uso de contrastes: as idéias opostas seduzem o barroco; os textos mostram choques entre amor e dor, vida e morte, religiosidade e erotismo, juventude e velhice.
2 – pessimismo: conflito entre o eu e o mundo. A vida terrena é vista como triste, cheia de sofrimento, enquanto que a vida celestial é luminosa e tranqüila.
3 – presença de impressões sensoriais: usando seus sentidos, o homem busca captar todo o sentido da miséria humana, ressaltando seus aspectos dolorosos e cruéis.
4 – preocupação com a transitoriedade da vida: por ser curta, a vida não permite que o homem a viva intensamente, como seria seu desejo.
5 – intensidade: desejo de expressar as emoções fortes do amor, do desejo e da dor em profundidade, na tentativa de encontrar o sentido da existência humana.
6 – linguagem complicada, excessivamente trabalhada, através de: expressões eruditas; sintaxe rebuscada, com uso freqüente da ordem inversa; repetições; paralelismo; uso abusivo de figuras de linguagem, principalmente antíteses, hipérboles, paradoxos, e metáforas; uso freqüente de frases interrogativas.
7 – tentativa de conciliação entre a religiosidade e o racionalismo: há uma constante oscilação entre os dois opostos. Duas correntes se distinguem na literatura barroca: o cultismo e o conceptismo.

Carolina Cristina Banzanato Bernardo

Anonymous said...

DEFINE SUA CIDADE

De dois ff se compõe
esta cidade a meu ver:
um furtar, outro foder.

Recopilou-se o direito,
e quem o recopilou
com dous ff o explicou
por estar feito, e bem feito:
por bem digesto, e colheito
só com dous ff o expõe,
e assim quem os olhos põe
no trato, que aqui se encerra,
há de dizer que esta terra
de dous ff se compõe.

Se de dous ff composta
está a nossa Bahia,
errada a ortografia,
a grande dano está posta:
eu quero fazer aposta
e quero um tostão perder,
que isso a há de perverter,
se o furtar e o foder bem
não são os ff que tem
esta cidade ao meu ver.

Provo a conjetura já,
prontamente como um brinco:
Bahia tem letras cinco
que são B-A-H-I-A:
logo ninguém me dirá
que dous ff chega a ter,
pois nenhum contém sequer,
salvo se em boa verdade
são os ff da cidade
um furtar, outro foder.

Análise
O poema satírico "Define Sua Cidade" retrata o que Gregório não gostava na Bahia.
Fala dos dois "FF" que a Bahia tinha escondido por detras da sua ortografia. Assim demonstrando o seu desgosto pela cidade.

Jéssica Tais Köhler

Anonymous said...

AOS MISSIONARIOS, A QUEM O ARCEBISPO D. FR. JOÃO DA MADRE DE DEUS RECOMENDAVA MUYTO AS VIAS SACRAS, QUE ENCHENDO A CIDADE DE CRUZES CHAMAVÃO DO PULPITO AS PESSOAS POR SEUS NOMES, REPREHENDENDO, A QUEM FALTAVA.

Via de perfeição é a sacra via,
Via do céu, caminho da verdade:
Mas ir ao Céu com tal publicidade,
Mais que à virtude, o boto à hipocrisia.

O ódio é d'alma infame companhia,
A paz deixou-a Deus à cristandade:
Mas arrastar por força, uma vontade,
Em vez de perfeição é tirania.

O dar pregões do púlpito e indecência,
Que de Fulano? Venha aqui sicrano:
Porque o pecado, o pecador se veja:

E próprio de um Porteiro d'audiência,
E se nisto maldigo, ou mal me engano,
Eu me submeto à Santa Madre Igreja.

Análise
No poema acima o poeta satiriza com clareza a forma com que os missionários pregavam o cristianismo, a princípio alegando que os mesmos estariam tentando comprar sua salvação com cruzes espalhadas pela cidade, o que o poeta chama no poema de publicidade. Gregório de Matos também fala que o pecador deveria ver seu próprio pecado ao invés de outra pessoa ter que apontar seus erros, e faz uma crítica ao arcebispo D. Fr. João da Madre de Deus por forçar as pessoas a converterem-se ao cristianismo e a aceitação de Deus. Na terceira estrofe: “Que de Fulano? venha aqui sicrano:” o autor se refere aos missionários chamando as pessoas pelos nomes, ridicularizando-as e repreendendo-as quando faltavam às missas. E por fim, o autor afirma que se ele estiver errado sobre os missionários ele se rende a Igreja. Com relação ao momento histórico, o texto foi escrito por volta de 1680, época em que o Brasil estava recebendo a ocupação holandesa, em seguida vieram os missionários com as catequeses. Sobre os aspectos barrocos, o poeta utiliza o cultismo, em que faz jogo de palavras, o uso culto da língua, predominando inversões sintáticas. Também utiliza Hipérbole quando fala: “Mas arrastar por força, uma vontade, Em vez de perfeição é tirania.”

Aline Cidral das Chagas, Dhuan Luiz Xavier e Vanessa Heloísa de Melo

Anonymous said...

CONTEMPLANDO NAS COUSAS DO MUNDO DESDE O SEU RETIRO, LHE ATIRA COM O SEU APAGE, COMO QUEM A NADO ESCAPOU DA TROMENTA.

Neste mundo é mais rico, o que mais rapa:
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa:
Com sua língua ao nobre o vil decepa:
O Velhaco maior sempre tem capa.

Mostra o patife da nobreza o mapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.

A flor baixa se inculca por Tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa:
Mais isento se mostra, o que mais chupa.

Para a tropa do trapo vazo a tripa,
E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.

Análise
Gregório de Matos critica a sociedade e suas hierarquias, no verso diz: “Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.” satirizando a forma com que eram construídas essas hierarquias em um momento em que existia um avanço da economia mercantil. Segundo o poeta essa construção hierárquica dava-se através da corrupção. Ao decorrer do poema G. de Matos cria uma forma de estereótipo ao homem burguês, que seria uma espécie de “malandro”, dando-se a isso as conseqüências de sua riqueza e visibilidade social.
Apesar disso o poema tem um aspecto atemporal, podemos ver isso hoje em dia, apesar de ser escrito há muito tempo, ainda hoje nos deparamos com essa realidade em que as pessoas que têm mais esperteza e "malandragem" geralmente se dão bem, vide a corrupção política que hoje ouvimos falar todos os dias. Apesar de suas considerações a respeito do estereótipo criado, ao final do poema G. de Matos alega que pouco se importa com esse tipo de pessoa: “Para a tropa do trapo vazo a tripa”.
Relacionado aos aspectos barrocos, pode-se afirmar que o autor defende o elemento parcial como se fosse total.

Aline Cidral das Chagas, Dhuan Luiz Xavier e Vanessa Heloísa de Melo

Anonymous said...

QUEIXA-SE O POETA EM QUE O MUNDO VAY ERRADO, E QUERENDO
EMENDÂLO O TEM POR EMPREZA DIFFICULTOSA.

Carregado de mim ando no mundo,
E o grande peso embarga-me as passadas,
Que como ando por vias desusadas,
Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo.

O remédio será seguir o imundo
Caminho, onde dos mais vejo as pisadas,
Que as bestas andam juntas mais ornadas,
Do que anda só o engenho mais profundo.

Não é fácil viver entre os insanos,
Erra, quem presumir, que sabe tudo,
Se o atalho não soube dos seus danos.

O prudente varão há de ser mudo,
Que é melhor neste mundo o mar de enganos
Ser louco cos demais, que ser sisudo.

Análise
Neste poema Gregório descreve a forma em que o mundo vem sido construído pela sociedade que ele julga corrupta, e com pessimismo descreve também a dificuldade que se tem em ser diferente a essa sociedade. Ao citar: “Que as bestas andam juntas mais ornadas” o autor satiriza as pessoas comparando-as com animais, e como em um rebanho, uma segue a outra sem questionamentos a respeito das concepções impostas pela sociedade/religião. Apesar de sentir-se diferente ao resto dessas pessoas, no trecho em que diz “Que é melhor neste mundo o mar de enganos. Ser louco cos demais, que ser sisudo”, Gregório de Matos acaba por concluir negativamente que o mais plausível a se fazer é compor o rebanho. Apesar de o poeta descrever a sociedade corrupta e tola que se criava na época da colonização, podemos perceber também nesse poema um aspecto atemporal, fazendo analogia aos tempos de hoje onde também sofremos fortes dificuldades em sermos diferentes aos padrões sociais. Dos aspectos barrocos pode-se mencionar a metáfora, quando ele compara as pessoas com bestas, utiliza-se da hipérbole no último verso, e podemos perceber o cultismo nas inversões sintáticas de algumas frases.

Aline Cidral das Chagas, Dhuan Luiz Xavier e Vanessa Heloísa de Melo

Anonymous said...

TODA CIDADE DERROTADA

Toda cidade derrota
Toda a cidade derrota
Esta fome universal,
E uns dão a culpa total
À câmara, outros à frota.
A frota tudo abarrota
Dentro nos escotilhões,
A carne, o peixe, os feijões;
E se a câmara olha e ri,
Porque anda farta até aqui,
É cousa que me não toca.
Ponto em boca!

Se dizem que o marinheiro
Nos precede a toda a lei,
Porque é serviço d'el rei,
Concedo que está primeiro;
Mas tenho por mais inteiro
O conselho que reparte
Com igual mão e igual arte
Por todos jantar e ceia:
Mas frota com tripa cheia,
E povo com pança oca?
Ponto em boca!

A fome me tem já mudo,
Que é muda a boca esfaimada
Mas se a frota não traz nada,
Por que razão leva tudo?
Que o povo por ser sisudo
Largue o ouro, largue a prata
A uma frota patarata,
Que entrando com vela cheia,
O lastro, que traz de areia,
Por lastro de açúcar troca!
Ponto em boca!

Se quando vem para cá
Nenhum frete vem ganhar,
Quando para lá tornar
O mesmo não ganhará:
Quem o açúcar lhe dá
Perde a caixa e paga o frete,
Porque o ano não promete
No negócio que o perder:
O frete por se dever,
A caixa porque se choca.
Ponto em boca!

Ele tanto em seu abrigo,
E o povo todo faminto
Ele chora, e eu não minto,
Se chorando vo-lo digo:
Tem-me cortado o embigo
Este nosso General,
Por isso de tanto mal
Lhe não ponho alguma culpa;
Mas se merece desculpa
O respeito a que provoca,
Ponto em boca!

Com justiça pois me torno
À Câmara só senhora,
Que pois me trespassa agora,
Agora leve o retorno:
Praza a Deus que o caldo morno,
Que a mim me fazem cear
Da má vaca do jantar
Por falta de bom pescado,
Lhes seja em cristéis lançado;
Mas se a saúde lhes toca:
Ponto em boca!

Anonymous said...

Análise
Objeto da Sátira: O Governo de Portugal e da Bahia, em ocasião que a frota estava chegando à Bahia. No poema “Toda cidade derrotada”, de Gregório de Matos, o poeta critica a incompetência do Governo da Bahia e de Portugal e diz que são incapazes de tomar providências para acabar com a fome que atingiu a cidade naquele ano. Os elementos da sátira podem ser identificados nos versos, como por exemplo: “Por todos jantar e ceia:/Mas frota com tripa cheia,/E povo com pança oca?” Ele questiona o porquê dos poderosos se alimentam bem enquanto o povo passa fome. “Mas se a frota não traz nada,
Por que razão leva tudo?” Gregório questiona os portugueses por não trazer nada ao Brasil e recambiar para a metrópole valiosos bens. Também revela seu lado sarcástico, relatando a desigualdade. Ela mostra o cenário da cidade considerada no poema “DERROTADA”
Ele mostra o motivo da fome, quando diz “dentro dos escotilhões a carne o peixe e os feijões” Escotilha significa abertura do convés dos navios mostrando o contraste da fartura dos navios e a fome do povo. Sendo que o povo era produtor das riquezas e estava na miséria.
“A fome me tem já mudo,
Que é muda a boca esfaimada” aqui ele reforça a idéia que o povo mudo diante da fome, sendo que tudo vê e nada faz para mudar.
Também questiona fortemente neste trecho em que fala que a tropa leva tudo o que pode. Leva o açúcar, o ouro e a prata. Interessante quando “ O lastro que trás de areia, por lastro de açúcar troca?” Nas viagens era comum que se colocasse areia no lastro pois o lastro que era o fundo do navio era enchido de sacos de areia para equilibrar o navio durante as navegações. Este lastro era esvaziado e enchido de sacos de açúcar. Isso evidencia como era grande a exploração do que se produzia, onde os navios eram abarrotados de açúcar carregando tudo o que podia deixando a Bahia cada vez mais pobre e miserável.
Outro fato interessante que cada estrofe termina com “Ponto em Boca” que era como se ele falasse: Cala boca ou boca fechada.
Esse poema evidencia o jeito de Gregório Matos escrever e mostra o porquê ficou conhecido como “Boca de Inferno”. Ele questiona o que ocorria no tempo de escravidão e exploração não só Bahia sua terra natal, mas em todo país. Criticava duramente todas as injustiças que ocorriam. Ele rompe as formas e fala abertamente sobre temas polêmicos para sua época.
Dayane Cristine Miranda de Meireles e Mariane Lopes

Anonymous said...

DESCREVE O POETA A CIDADE DO RECIFE EM PERNAMBUCO

Por entre o Beberibe, e o Oceano
Em uma areia sáfia, e lagadiça
Jaz o Recife povoação mestiça,
Que o Belga edificou ímpio tirano.

O povo é pouco, e muito pouco ufbano,
Que vive à mercê de uma lingüiça,
Unha-de-velha insípida enfermiça,
E camarões de charco em todo o ano.

As damas cortesãs, e por rasgadas
Olhas podridas, são, e pestilências,
Elas com purgações nunca purgadas.

Mas a culpa têm vossas reverências,
Pois as trazem rompidas, e escaladas
Com Cordões, com bentinhos, e indulgências.

Análise
Por volta de 1964, Gregório de Matos retorna ao Brasil após ser deportado para Angola na África, pois com seu estilo satírico provocou a muitos. Quando volta, ele se instala em Recife. Não sabemos ao certo, mas o poema provavelmente foi escrito neste período.
Nos chama a atenção quando ele diz “O povo é pouco e muito ufbano que vive a mercê de uma lingüiça” A palavra ufbano parece ser uma mistura entre ufano e urbano. Acha ruim a comida do lugar ao dizer que a unha – de – velha uma espécie de concha é sem sabor e doente, e que o charque do camarão alimenta aquele povo o ano todo “ Em uma areia Sáfia e Lagadiça” É uma areia grossa e alagada. Quando ele coloca que a população mestiça do Recife foi edificada por um Belga sem religião e ruim.
Faz um trocadilho com Purgações e Purgadas. Faz uma crítica aos pecadores da cidade que estão rompidas, mas, trazem consigo cordões e bentinhos. Neste poema percebemos que Gregório de Matos revelou em sua poesia a dualidade do homem barroco, e mostra sua crítica ao que julgava negativo.
Dayane Cristine Miranda de Meireles e Mariane Lopes

Anonymous said...

O BURGO

Meus males de quem procedem?
Uma cidade tão nobre,
uma gente tão honrada
veja-se um dia louvada
desde o mais rico ao mais pobre:
Cada pessoa o seu cobre,
mas se o diabo me atiça,
que indo a fazer-lhe justiça,
algum saia a justiçar,
não me poderão negar,
que por direito, e por Lei
esta é a justiça, que manda El-Rei.

O Fidalgo de solar
se dá por envergonhado
de um tostão pedir prestado
para o ventre sustentar:
diz, que antes o que furtar
por manter a negra honra,
que passar pela desonra,
de que lhe neguem talvez;
mas se o virdes nas galés
com honras de Vice-Rei,
esta é a justiça, que manda El-Rei.

A Donzela embiocada
mal trajada, e mal comida,
antes quer na sua vida
ter saia, que ser honrada:
à pública amancebada
por manter a negra honrinha,
e se lho sabe a vizinha,
e lho ouve a clerezia
dão com ela na enxovia,
e paga a pena da lei:
esta é a justiça, que manda El-Rei.

A casada com adorno
e o Marido mal vestido,
crede, que este mal Marido
penteia monho de corno:
se disser pelo contorno,
que se sofre a Fr. Tomás,
por manter a honra o faz,
esperai pela pancada,
que com carocha pintada
de Angola há de ser Visrei:
esta é a justiça, que manda El-Rei.

Os Letrados Peralvilhos
citando o mesmo Doutor
a fazer de Réu, o Autor
comem de ambos os carrilhos:
se se diz pelos corrilhos
sua prevaricação,
a desculpa, que lhe dão,
é a honra de seus parentes
e entonces os requerentes,
fogem desta infame grei:
esta é a justiça, que manda El-Rei.

O Clérigo julgador,
que as causas julga sem pejo,
não reparando, que eu vejo,
que erra a Lei, e erra o Doutor:
quando vêem de Monsenhor
a Sentença Revogada
por saber, que foi comprada
pelo jimbo, ou pelo abraço,
responde o Juiz madraço,
minha honra é minha Lei:
esta é a justiça, que manda El-Rei.

O Mercador avarento,
quando a sua compra estende,
no que compra, e no que vende,
tira duzentos por cento:
não é ele tão jumento,
que não saiba, que em Lisboa
se Ihe há de dar na gamboa;
mas comido já o dinheiro
diz, que a honra está primeiro,
e que honrado a toda Lei:
esta é a justiça, que manda El-Rei.

A viúva autorizada,
que não possui um vintém,
porque o Marido de bem
deixou a casa empenhada:
ali vai a fradalhada,
qual formiga em correição,
dizendo, que à casa vão
manter honra da casa,
se a virdes arder em brasa,
que ardeu a honra entendei:
esta é a justiça, que manda EL-Rei.

O Adônis da manhã,
o Cupido em todo o dia,
que anda correndo a Coxia
com recadinhos da Irmã:
e se Ihe cortam a lã,
diz, que anda naquele andar
por a honra conservar
bem tratado, e bem vestido,
eu o verei tão despido,
que até as costas Ihe verei:
esta é a justiça, que manda El-Rei.

Se virdes um Dom Abade
sobre o púlpito cioso,
não Ihe chameis Religioso,
chamai-lhe embora de Frade:
e se o tal Paternidade
rouba as rendas do Convento
para acudir ao sustento
da puta, como da peita,
com que livra da suspeita
do Geral, do Viso-Rei:
esta é a justiça, que manda El-Rei.

Que falta nesta cidade?.....................................Verdade
Que mais por sua desonra.................................Honra
Falta mais que se lhe ponha...............................Vergonha.

O demo a viver se exponha,
por mais que a fama a exalta,
numa cidade, onde falta
Verdade, Honra, Vergonha.

Quem a pôs neste socrócio?..............................Negócio
Quem causa tal perdição?.................................Ambição
E o maior desta loucura?...................................Usura.

Notável desventura
de um povo néscio, e sandeu,
que não sabe, que o perdeu
Negócio, Ambição, Usura.

Quais são os seus doces objetos?......................Pretos
Tem outros bens mais maciços?.........................Mestiços
Quais destes lhe são mais gratos? .....................Mulatos.

Dou ao demo os insensatos,
dou ao demo a gente asnal,
que estima por cabedal
Pretos, Mestiços, Mulatos.

Anonymous said...

Quem faz os círios mesquinhos?.............................Meirinhos
Quem faz as farinhas tardas?.................................Guardas
Quem as tem nos aposentos?.................................Sargentos.

Os círios lá vêm aos centos,
e a terra fica esfaimando,
porque os vão atravessando
Meirinhos, Guardas, Sargentos,

E que justiça a resguarda? ...................................Bastarda
É grátis distribuída?..............................................Vendida
Quem tem, que a todos assusta?...........................Injusta.

Valha-nos Deus, o que custa,
o que EL-Rei nos dá de graça,
que anda a justiça na praça
Bastarda, Vendida, Injusta.

Que vai pela clerezia?..............................................Simonia
E pelo membros da Igreja?.......................................Inveja
Cuidei, que mais se lhe punha?..................................Unha.

Sazonada caramunha!
enfim que na Santa Sé
o que se pratica, é
Simonia, Inveja, Unha.

E nos Frades há manqueiras?...................................Freiras
Em que ocupam os serões?......................................Sermões
Não se ocupam em disputas?...................................Putas.

Com palavras dissolutas
me concluís na verdade,
que as lidas todas de um Frade
são Freiras, Sermões, e Putas.

O açúcar já se acabou?..........................................Baixou
E o dinheiro se extinguiu?......................................Subiu
Logo já convalesceu?.............................................Morreu.

À Bahia aconteceu
o que a um doente acontece,
cai na cama, o mal lhe cresce,
Baixou, Subiu, e Morreu.

A Câmara não acode?...........................................Não pode
Pois não tem todo o poder?..................................Não quer
É que o governo convence?..................................Não vence.

Quem haverá que tal pense,
que uma Câmara tão nobre
por ver-se mísera, e pobre
Não pode, não quer, não vence.

Anonymous said...

Análise
Gregório de Matos tinha extraordinário talento satírico que amalgamava agudo senso crítico e de ridículo, humor violento e corrosivo, além de uma capacidade genial em manipular a palavra. Políticos, clérigos, negros e mulatos, gente do povo, o português colonizador, nada nem ninguém escapou à sua pena. Neste poema, são objeto de sua sátira os casados, os solteiros, os comerciantes... Além dos tipos sociais, o poeta denuncia as instituições, começando por El-Rei, que nos dá de graça uma justiça corrompida, vendida, injusta, e terminando com a Igreja a quem acusa de simonia (tráfico de coisas sagradas, espirituais), inveja, unha (roubalheira). Também é implacável com os frades, que a seu ver se ocupam de freiras, sermões e putas... Como se pode ver, do alto da pirâmide social à ralé, dos ´´donos do poder`` aos mestiços, todos são responsáveis pelas vilanias da época. Ninguém é poupado.
Outra característica do Barroco encontrada no poema é o jogo de palavras. Por exemplo, o vocábulo socrócio, que significa emplastro, alívio, bálsamo, o poeta usou-o no sentido antitético, irônico. Outro vocábulo interessante é círio. No sentido do poema, círio não é uma vela, mas sacos de farinha (a grafia correta é sírios).Poema constituído de estrofes que lembram a tradição medieval, na medida em que possuem sete sílabas métricas (redondilha maior). Cada estrofe inicia-se com perguntas retóricas, isto é, falsas perguntas, ironicamente respondidas pelo próprio poeta. Esse procedimento parece dar um certo didatismo ao poema, didatismo reforçado pelo processo de disseminação e recolha, muito comum na poesia barroca. O processo de disseminação e recolha consiste em espalhar palavras ao longo de uma ou mais estrofes para depois recolhê-las num verso só. Assim, há um tom conclusivo no final das estrofes. Conclusão que abrange desde valores morais (verdade, honra, vergonha) abstratos até os motivos concretos da degradação destes valores ( negócio, ambição, usura) e seus principais agentes: pretos, mestiços,meirinhos, guardas, sargentos (observe que a leitura vertical dos três primeiros versos iguala-se a leitura horizontal do sétimo, criando um mecanismo sucessivo até o final do poema).
O primeiro objeto da sátira é a sociedade seiscentista. Notem que a sátira abrange praticamente todos os setores da sociedade: os fidalgos (a nobreza), a donzela (as solteiras), os casais (a casada com adorno e o marido mal vestido e cornudo), os letrados peralvilhos (poder judiciário), o clérigo julgador (a Inquisição), o mercador avarento (os comerciantes), a viúva autorizada (a viúva reconhecida como tal que é objeto do desejo sexual dos padres), o Adônis, o Cupido (os almofadinhas que só sabem vadiar por toda a parte o dia inteiro), Dom Abade (a Igreja, os seus representantes).
Como segundo objeto da sátira, podemos citar a justiça da época: todas as desonestidades, espertezas, desmandos, tudo era permitido pelo rei de Portugal, que, em última análise, personificava a justiça. Na segunda parte da sátira, Gregório confirma que a justiça de El-Rei é bastarda, vendida, injusta.
Quando retorna ao Brasil, já quarentão, em 1682, Gregório de Matos encontra uma sociedade em crise (principalmente com a fome que se abatia sobre a cidade). A decadência econômica torna-se visível: o açúcar brasileiro enfrenta a concorrência do açúcar produzido nas Antilhas e seu preço desaba. Além disso, uma nova camada de comerciantes (em sua maioria, portugueses) acumula riquezas com a exportação e importação de produtos. Esta nova classe abastada humilha aqueles que se julgam bem nascidos, mas que, dia após dia, perdem seu poder econômico e seu prestígio.

Anonymous said...

Observa-se no poema uma predominância do cultismo, caracterizado pela valorização da forma, pelo abuso das metáforas, adjetivação abundante, apelo sensorial, hipérboles.
Outra característica do Barroco encontrada no poema é o jogo de palavras. Por exemplo, o vocábulo socrócio, que significa emplastro, alívio, bálsamo, o poeta usou-o no sentido antitético, irônico. Outro vocábulo interessante é círio. No sentido do poema, círio não é uma vela, mas sacos de farinha (a grafia correta é sírios). Poema constituído de estrofes que lembram a tradição medieval, na medida em que possuem sete sílabas métricas (redondilha maior). Cada estrofe inicia-se com perguntas retóricas, isto é, falsas perguntas, ironicamente respondidas pelo próprio poeta. Esse procedimento parece dar um certo didatismo ao poema, didatismo reforçado pelo processo de disseminação e recolha, muito comum na poesia barroca. O processo de disseminação e recolha consiste em espalhar palavras ao longo de uma ou mais estrofes para depois recolhê-las num verso só. Assim, há um tom conclusivo no final das estrofes. Conclusão que abrange desde valores morais (verdade, honra, vergonha) abstratos até os motivos concretos da degradação destes valores ( negócio, ambição, usura) e seus principais agentes: pretos, mestiços,meirinhos, guardas, sargentos (observe que a leitura vertical dos três primeiros versos iguala-se a leitura horizontal do sétimo, criando um mecanismo sucessivo até o final do poema).
Aline Rezende, Camila Corrêa Neves e Hermógenes Fernandes

Anonymous said...

PREZO FINALMENTE O NOSSO POETA PELOS MOTIVOS QUE JA DICEMOS EM SUA VIDA, E CONDENADO A IR DEGREDADO PARA ANGOLA, POR ORDEM DE D. JOÃO D'ALENCASTRE GOVERNADOR ENTÃO DESTE ESTADO: PONDERA, QUAM ADVERSO HE O BRAZIL SUA INGRATA PATRIA AOS HOMENS BENEMERITOS; E COM DEAFOGO DE HOMEM FORTE GRACEJA HUM POUCO AS MULATAS MERETRIZES.


Não sei, para que é nascer
neste Brasil empestado
um homem branco, e honrado
sem outra raça.

Terra tão grosseira, e crassa,
que a ninguém se tem respeito,
salvo quem mostra algum jeito
de ser Mulato.

Aqui o cão arranha o gato,
não por ser mais valentão,
mas porque sempre a um cão
outros acodem.

Os Brancos aqui não podem
mais que sofrer, e calar,
e se um negro vão matar,
chovem despesas.

Não lhe valem as defesas
do atrevimento de um cão,
porque acode a Relação
sempre faminta.

Logo a fazenda, e a quinta
vai com tudo o mais à praça,
onde se vende de graça,
ou fiado.

Que aguardas, homem honrado
vendo tantas sem-razões,
que não vás para as nações
de Berberia.

Porque lá se te faria
com essa barbaridade
mais razão, e mais verdade,
que aqui fazem.

Porque esperas, que te engrazem,
e esgotem os cabedais,
os que tens por naturais,
sendo estrangeiros!

Ao cheiro dos teus dinheiros
vêm com cabedal tão fraco,
que tudo cabe num saco,
que anda às costas.

Os pés são duas lagostas
de andar montes, passar vaus,
as mãos são dois bacalhaus
já bem ardidos.

Sendo dous anos corridos,
na loja estão recostados
mais doces, e enfidalgados,
que os mesmos Godos.

A mim me faltam apodos,
com que apodar estes tais
maganos de três canais
até a ponta.

Há outros de pior conta,
que entre estes, e entre aqueles
vêem cheios de PP, e LL
atrás do ombro.

De nada disto me assombro
pois bota aqui o Senhor
outros de marca maior
gualde, e tostada.

Perguntai à gente honrada,
por que causa se desterra;
diz, que tem, quem lá na terra
lhe queima o sangue.

Vem viver ao pé de um mangue,
e já vos veda o mangal,
porque tem mais cabedal,
que Porto Rico.

Se algum vem de agudo bico,
lá vão prendê-lo ao sertão,
e ei-lo bugio em grilhão
entre os galfarros.

A terra é para os bizarros,
que vêm da sua terrinha
com mais gorda camisinha,
que um traquete.

Que me dizeis do clerguete,
que mandaram degradado
por dar o óleo sagrado
à sua Puta.

E a velhaca dissoluta
destra em todo o artifício
fez co óleo um malefício
ao mesmo Zote.

Folgo de ver tanto asnote,
que com seus risonhos lábios
andam zombando dos sábios
e entendidos.

E porque são aplaudidos
de outros da sua facção,
se fazem co'a discrição
como com terra.

E dizendo ferra ferra,
quando vão a pôr o pé,
conhecem, que em boa fé
são uns asninhos.

Porque com quatro ditinhos
de conceitos estudados
não podem ser graduados
nas ciências.

Então suas negligências
os vão conhecendo ali,
porque de si para si
ninguém se engana.

Mas em vindo outra semana,
já caem no pecado velho,
e presumem dar conselho
a um Catão.

Aqui frisava o Frisão,
que foi o Heresiarca,
porque mais da sua alparca
o aprenderam.

As Mulatas me esqueceram,
a quem com veneração
darei o meu beliscão
pelo amoroso.

Geralmente é mui custoso
o conchego das Mulatas,
que se foram mais baratas,
não há mais Flandes.

As que presumem de grandes,
porque têm casa, e são forras
têm, e chamam de cachorras
às mais do trato.

Angelinha do Sapato,
valeria um pino de Ouro,
porém tem o cagadouro
muito abaixo.

Traz o amigo cabisbaixo
com muitas aleivosias,
sendo, que às Ave-Marias
lhe fecha a porta.

Mas isso porém que importa
se ao fechar se põe já nua,
e sobre o plantar na rua
ainda a veste.

Anonymous said...

Fica dentro, quem a investe,
e o de fora suspirando
lhe grita de quando em quando
ora isto basta.

Há gente de tão má casta,
e de tão ruim catadura,
que até esta cornadura
bebe, e verte.

Todos Agrela converte,
porque se com tão ruim puta
a alma há de ser dissoluta,
antes mui Santa.

Quem encontra ossada tanta
nos beiços de uma caveira,
vai fugindo de carreira,
e a Deus busca.

Em uma cova se ofusca,
como eu estou ofuscado,
chorando o magro pecado,
que fiz com ela.

É mui semelhante a Agrela
a Mingota do Negreiros,
que me mamou os dinheiros,
o pôs-me à orça.

A Mangá com ser de alcorça
dá-se a um Pardo vaganau,
que a cunha do mesmo pau
melhor atocha.

À Mariana da Rocha,
por outro nome a Pelica,
nenhum homem já dedica
a sua prata.

Não há no Brasil Mulata
que valha um recado só.
Mas Joana Picaró
o Brasil todo.

Se em gostos não me acomodo
das mais, não haja disputa,
cada um gabe a sua puta,
e haja sossego.

Porque eu calo o meu emprego
e o fiz com toda atenção,
porque tal veneração
se lhe devia.

Fica-te em boa, Bahia,
que eu me vou por esse mundo
cortando pelo mar fundo
numa barquinha.

Porque inda que és pátria minha,
sou segundo Cipião,
que com dobrada razão
a minha idéia
te diz "non possedebis ossa mea".

Análise
As palavras escarnecedoras: velhaca, canalha infernal, vil, magano, brasileiros são bestas.
adeus praia, adeus Cidade
Adeus Povo, adeus Bahia,
digo, canalha infernal.
O objeto da sátira é a “Bahia, o povo brasileiro, canalha infernal, Cidade, és tão vil, Que os Brasileiros são bestas, e estarão a trabalhar toda a vida por manter maganos de Portugal.”

Franciele das Graças Malinoski, Priscila Fernanda Ferreira e Tatiane de Miranda

Anonymous said...

EMBARCADO JA O POETA PARA O SEU DEGREDO, E POSTOS OS OLHOS NA
SUA INGRATA PATRIA LHE CANTA DESDE O MAR AS DESPEDIDAS.

Adeus praia, adeus Cidade,
e agora me deverás,
Velhaca, dar eu adeus,
a quem devo ao demo dar.
Que agora, que me devas
dar-te adeus, como quem cai,
sendo que estás tão caída,
que nem Deus te quererá.
Adeus Povo, adeus Bahia,
digo, Canalha infernal,
e não falo na nobreza
tábula, em que se não dá,
Porque o nobre enfim é nobre,
quem honra tem, honra dá,
pícaros dão picardias,
e inda lhes fica, que dar.
E tu, Cidade, és tão vil,
que o que em ti quiser campar,
não tem mais do que meter-se
a magano, e campará.
Seja ladrão descoberto
qual águia imperial,
tenha na unha o rapante,
e na vista o perspicaz.
A uns compre, a outros venda,
que eu lhe seguro o medrar,
seja velhaco notório,
e tramoeiro fatal.
Compre tudo, e pague nada,
deva aqui, deva acolá
perca o pejo, e a vergonha,
e se casar, case mal.
Com branca não, que é pobreza,
trate de se mascavar;
vendo-se já mascavado,
arrime-se a um bom solar.
Porfiar em ser fidalgo,
que com tanto se achará;
se tiver mulher formosa,
gabe-a por esses poiaes.
De virtuosa talvez,
e de entendida outro tal,
introduza-se ao burlesco
nas casas, onde se achar.
Que há Donzela de belisco,
que aos punhos se gastará,
trate-lhe um galanteio,
e um frete, que é principal.
Arrime se a um poderoso.
que lhe alimente o gargaz,
que há pagadores na terra,
tão duros como no mar.
A estes faça alguns mandados
a título de agradar,
e conserve-se o afetuoso,
confessando o desigual.
Intime-lhe a fidalguia,
que eu creio, que crerá,
porque fique ela por ela,
quando lhe ouvir outro tal.
Vá visitar os amigos
no engenho de cada qual,
e comendo-os por um pé,
nunca tire o pé de lá.
Que os Brasileiros são bestas,
e estarão a trabalhar
toda a vida por manter
maganos de Portugal.
Como se vir homem rico,
tenha cuidado em guardar,
que aqui honram os mofinos,
e mofam dos liberais.
No Brasil a fidalguia
no bom sangue nunca está,
nem no bom procedimento,
pois logo em que pode estar?
Consiste em muito dinheiro,
e consiste em o guardar,
cada um o guarde bem,
para ter que gastar mal.
Consiste em dá-lo a maganos,
que o saibam lisonjear,
dizendo, que é descendente
da casa do Vila Real.
Se guardar o seu dinheiro,
onde quiser, casará:
os sogros não querem homens,
querem caixas de guardar.
Não coma o Genro, nem vista
que esse é genro universal;
todos o querem por genro,
genro de todos será.
Oh assolada veja eu
Cidade tão suja, e tal,
avesso de todo o mundo,
só direita em se entortar.
Terra, que não parece
neste mapa universal
com outra, ou são ruins todas,
ou ela somente é má.

Análise
“És pátria minha
Não sei, para que é nascer
neste Brasil empestado
Brasil empestado,
Terra tão grosseira, pés são duas lagostas,
mãos são dois bacalhaus,
cada um gabe a sua puta.”
O objeto da sátira é o poder do homem branco no Brasil.
Os versos satíricos de Gregório de Matos tratam de assuntos que envolvem a sociedade baiana do século XVII onde este poeta fez suas produções com base em aspectos de seu cotidiano, tratando de religião, sociedade, filosofia, elegia entre outros. A sátira barroca fundamenta-se na crítica de costumes. A presença cada vez mais forte dos comerciantes, com as transformações ocorridas no Nordeste em conseqüência das invasões holandesas e, finalmente, com o apogeu e a decadência da cana-de-açúcar. Faz uso do paradoxo.

Franciele das Graças Malinoski, Priscila Fernanda Ferreira e Tatiane de Miranda

Anonymous said...

A HUM FULANDO DA SYLVA EXELENTE CANTOR, OU POETA

Tomas a Lira, Orfeu divino, ta,
A lira larga de vencido, que
Canoros pasmos te prevejo, se
Cadências deste Apolo ouviras cá.

Vivas as pedras nessas brenhas lá
Mover fizeste, mas que é nada vê:
Porque este Apolo em contrapondo o ré,
Deixa em teu canto dissonante o fá.

Bem podes, Orfeu, já por nada dar
A Lira, que nos astros se te pôs
Porque não tinha entre os dous Pólos par.

Pois o Silva Arião da nossa foz
Dessas sereias músicas do mar
Suspende os cantos, e emudece a voz.

Análise
Elementos determinadores da sátira: “canoros pasmos te prevejo”, “ candências deste Apolo ouviras cá”, “dessas sereias músicas do mar”.
Objeto da sátira: o objeto da sátira é o cantor ou o poeta. Utiliza-se de metáforas. O cantor ou o poeta que não tinha inspiração, pois desejava desposar-se de uma Dama, sendo que não o tendo emudecia.
Aspectos do barroco contidos no poema: utiliza-se de figura de linguagem e metáfora.
Momento histórico: Nenhuma escola musical possuía analogias tão nítidas com as artes plásticas como o barroco: há o culto do ornamento, do arabesco - notas que “enfeitam” a melodia, a música descobre a profusão dos sons simultâneos como meio de alcançar o belo. Como pano de fundo dos instrumentos que se revezam na narração melódica. A linguagem tonal se firma como sustentáculo da polifonia. Emergem novos gêneros musicais: oratório, cantata, concertos, sonata para teclado.

Camila Oliveira Macedo, Daniela Cristina Bortotto e Elton Carlos de Araújo Alves

Anonymous said...

AO MESMO ASSUMPTO E AOS MESMOS SUGEYTOS SUCCEDENDOLHE O QUE DIZ

Casou-se neste terra esta, e aquele,
Aquele um gozo filho de cadela,
Esta uma donzelíssima donzela,
Que muito antes do parto o sabia ele.

Casaram por unir pele com pele,
E tanto se uniram, que ele com ela
Com seu mau parecer ganha para ela,
Com seu bom parecer ganha para ele.

Deram-lhe em dote muitos mil cruzados
Excelentes alfaias, bons adornos,
De que estão os seus quartos bem ornados:

Por sinal, que na porta, e seus contornos
Um dia amanheceram bem contados
Três bacios de merda, e dous de cornos.

Análise
Elementos determinadores da sátira: “ aquele um gozo filho de cadela ”, “ esta uma donzelíssima donzela”, “ que muito antes do parto o sabia ele”, “... dote muitos mil cruzados” e “ três bacios de merda, e dous de cornos”.
Objeto da sátira: utilizando dos elementos a forma dos casamentos da época. Em que a Dama era comprada, e o rapaz já a tinha como prometida. Assim, mesmo o rapaz não tendo requisitos de cavalheiro, era o dote que determinava o casamento.
Aspectos do barroco contidos no poema: utiliza-se de figura de linguagem, na tentativa de encontrar o sentido para a existência humana. Com o uso frequente de hipérbole.
Momento histórico: As mulheres não tinham muitas opções: ou se casavam, ou iam para os conventos. Entretanto apenas uma minoria da alta classe que tinha que pagar uma taxa bastante cara para se tornar uma freira. A maioria, porém, estava destinada ao casamento e a uma vida submissa ao marido. As meninas eram educadas somente para este fim: serem boas esposas. O casamento era arranjado pelo pai quando sua filha ainda era criança. A mulher era como uma propriedade, usada para obter vantagens. Os casamentos geralmente visavam o aumento de terras, com o dote dos noivos.

Camila Oliveira Macedo, Daniela Cristina Bortotto e Elton Carlos de Araújo Alves

Anonymous said...

EXAGERA OS DONAYRES DE ANNICA DE SOUZA MULATA EM PERNAMBUCO SE PICOU DE ZELOS FLORALVA, E DANDO LHO A ENTENDER, ELLE LHE RESPONDE

Dos vossos zelos presumo,
Floralva, que são mentira,
porque donde Amor não tira
flama, não levanta fumo:
anos há, que me consumo
por vós, por vossos bons feitos,
e vós por certos respeitos
desviastes-me os prefumes,
e agora nestes ciúmes
sem ver causa, vejo efeitos.

Se me não tendes amor,
como zelos me fingis?
não mos dais, e mos pedis,
dai ao demo tal favor:
que importa, que chame eu flor
a uma papoula silvestre,
se neste globo terrestre
o que importa, é lisonjeira,
e eu nas artes de enganar
penteio barbas de mestre.

Vós sois verdadeira flor
no trato, e no parecer,
e eu só o sei conhecer,
porque sou taful de amor: se jogásseis com primor,
como outras tafuis fizeram,
nunca elas vos excederam,
que a mim na tafularia
da conjugal dameria
sempre os dados me perderam.

E ainda que em todo o mapa
me vejais tratar com flores,
Floralva, isso são amores,
que arranco da minha capa:
só vós sois dama de chapa
só vos sois flor às direitas,
e para deixar desfeitas
essas vossas presunções,
sabei, que isso são sezões,
que passam como maleitas.

Anonymous said...

Análise
A poesia satírica de Gregório de Matos é atemporal, e neste caso específico da análise do poema Pernambuco nela o poeta posiciona-se utilizando da ironia, e isto fica evidente na parte em que diz " mas a culpa têm Vossas Reverências
pois as trazem rompidas, e escaladas
com cordões, com bentinhos, e indulgências". Neste caso em que ele está falando das cortesãs, e que o ofício delas, tem o respeito da sociedade. Sobre Recife, onde Gregório passou seus últimos dias, ele descreve a localização da cidade entre o rio Beberibe e o Oceano, e fala que o povo é pouco, e sem muita dignidade também. Vive à base de linguiça, "unha-de-velha" (espécie de fruto do mar) sem gosto e camarões de águas imundas.
Em seguida, ele faz uma análise descritiva do que viu na procissão de quarta-feira de cinzas.
Percebe-se na continuação da página de Pernambuco, uma poesia mais leve, que brinca com os significados das palavras. Inclusive o nome da moça, que ele passa a escrever é Floralva. E ele faz o jogo semantico, com palavras que lembrem o nome da moça, e a situação em que ele a viu: segurando flores. Em seguida o poema continua, de modo que os papéis se invertem e quem parece falar agora é a moça que segurava flores. Mas mesmo, nessa aparente abordagem mais leve do autor, ele continua dando um tom mais crítico à sua poesia. "Não há, que pôr-me de acordo
de entrar cá no meu jardim,
em que vós mo defendais,
não vos hei de deixar vir.
Por que aqui a colher flores
entra só, quem é feliz
e com ele me contento,
e nada mais do Brasil." É perceptível que existe a crítica subjetiva de que as pessoas são interessadas em colher flores, e em nada mais no Brasil. E o poema segue em contrapartida de respostas e provocações entre o autor e a Floralva. Num determinado momento se sobressai o tom que o fez ser conhecido como Boca do Inferno, quando ele entre palavras e subliminariedades coloca "sendo tão fino enfim, meu sentimento
Não perco em adorar a autoridade, ", justifica como sendo o fato de ele ser fino o motivo pelo qual ele não "adora" as autoridades. Novamente ele fala: "com razão o respeito só me agrada,
E em vão o afeto a injúrias me convida"
Nesta reflexão, ele afirma que o respeito deve se apoiar na razão, e que de nada vale participá-lo às injúrias e ao desprezo. E segue nesta poesia dialética, até o momento final em que ele percee que o que Floralva dizia sentir, não passava de uma ilusão. "Dos vossos zelos presumo,
Floralva, que são mentira,
porque donde Amor não tira
flama, não levanta fumo:
anos há, que me consumo
por vós, por vossos bons feitos,
e vós por certos respeitos
desviastes-me os prefumes,
e agora nestes ciúmes
sem ver causa, vejo efeitos."
Continua se sobressaindo à narração: "se neste globo terrestre
o que importa, é lisonjeira,
e eu nas artes de enganar
penteio barbas de mestre."
E por fim, ele se entrega à exprimir o sentimento de dor:
"Chorai, tristes olhos meus,
que o chorar não é fraqueza,
quando Amor vos tiraniza,
os sentidos, e as potências.
Senti, pois tendes razão,
uma ausência tão violenta,
que a luz, meus olhos vos tira,
sem alma o corpo vos deixa.
Senti, coração, senti,
pois por vossa culpa mesma
emprendi um impossível
tão fácil em me dar penas. "
No entanto, ao chegar ao final do poema, ele já recuperado do aparente sentimento de dor, finaliza colocando que não está perdendo Floralva por algo que ela prefira, mas sim porque ele é mais inteligente e sabe que se não fosse no hoje, seria no amanhã, então forte como é, prefere sair por cima da situação. "Eu hei de perder Floralva,
não porque ingrata me seja,
mas como vivo amanhã,
sou mofino, hei de perdê-la."

Bruna Laís Linzmeyer Giese, Flávia Cristine Kuntz e Josilaine Aparecida Martins Ribeiro

Anonymous said...

As leituras desenvolvidas pelo 1º ano de Letras, a partir de uma seleção de poemas satíricos de Gregório de Matos, pesquisados na Biblioteca Virtual do NUPILL, sinalizam aspectos de brasilidade do seu discurso poético. As leituras também desvelam, um olhar poético que marca pela alteridade entre Metrópole e Colônia. As lutas de poder entre Igreja, Metrópole e Colônia são satirizadas, a partir de um jogo linguístico marcado pelo uso reiterado de metáforas, hiperbóles, trocadilhos e demonstram o exercício barroco com a palavra,que reconstrói mundos e ideologias deslocando a visão theocêntrica para antropocêntrica.
Taiza Mara Rauen Moraes