Wednesday, June 26, 2013

IMAGENS POÉTICAS

Tanto o trecho do poema "Cão sem plumas", II. Paisagem do Capibaribe, de João Cabral de Melo Neto, quanto as Liras de "Marília de Dirceu", de Tomás Antonio Gonzaga, constroem imagens a partir de elementos da natureza, porém os poemas foram escritos em tempo e contexto diferentes, denunciando e abordando questões pertinentes. Considerando tais aspectos, elabore uma analise comparativa entre as imagens poéticas construídas por João Cabral de Melo Neto e por Tomás Antonio Gonzaga. 


II. Paisagem do Capibaribe 

Entre a paisagem 
o rio fluía 
como uma espada de líquido espesso. 
Como um cão 
humilde e espesso. 

Entre a paisagem 
(fluía) 
de homens plantados na lama; 
de casas de lama 
plantadas em ilhas 
coaguladas na lama; 
paisagem de anfíbios 
de lama e lama. 

Como o rio 
aqueles homens 
são como cães sem plumas 
(um cão sem plumas 
é mais 
que um cão saqueado; 
é mais 
que um cão assassinado. 

Um cão sem plumas 
é quando uma árvore sem voz. 
É quando de um pássaro 
suas raízes no ar. 
É quando a alguma coisa 
roem tão fundo 
até o que não tem). 

O rio sabia 
daqueles homens sem plumas. 
Sabia 
de suas barbas expostas, 
de seu doloroso cabelo 
de camarão e estopa. 

Ele sabia também 
dos grandes galpões da beira dos cais 
(onde tudo 
é uma imensa porta 
sem portas) 
escancarados 
aos horizontes que cheiram a gasolina. 

E sabia 
da magra cidade de rolha, 
onde homens ossudos, 
onde pontes, sobrados ossudos 
(vão todos 
vestidos de brim) 
secam 
até sua mais funda caliça. 

Mas ele conhecia melhor 
os homens sem pluma. 
Estes 
secam 
ainda mais além 
de sua caliça extrema; 
ainda mais além 
de sua palha; 
mais além 
da palha de seu chapéu; 
mais além 
até 
da camisa que não têm; 
muito mais além do nome 
mesmo escrito na folha 
do papel mais seco. 

Porque é na água do rio 
que eles se perdem 
(lentamente 
e sem dente). 
Ali se perdem 
(como uma agulha não se perde). 
Ali se perdem 
(como um relógio não se quebra). 

Ali se perdem 
como um espelho não se quebra. 
Ali se perdem 
como se perde a água derramada: 
sem o dente seco 
com que de repente 
num homem se rompe 
o fio de homem. 

Na água do rio, 
lentamente, 
se vão perdendo 
em lama; numa lama 
que pouco a pouco 
também não pode falar: 
que pouco a pouco 
ganha os gestos defuntos 
da lama; 
o sangue de goma, 
o olho paralítico 
da lama. 

Na paisagem do rio 
difícil é saber 
onde começa o rio; 
onde a lama 
começa do rio; 
onde a terra 
começa da lama; 
onde o homem, 
onde a pele 
começa da lama; 
onde começa o homem 
naquele homem. 

Difícil é saber 
se aquele homem 
já não está 
mais aquém do homem; 
mais aquém do homem 
ao menos capaz de roer 
os ossos do ofício; 
capaz de sangrar 
na praça; 
capaz de gritar 
se a moenda lhe mastiga o braço; 
capaz 
de ter a vida mastigada 
e não apenas 
dissolvida 
(naquela água macia 
que amolece seus ossos 
como amoleceu as pedras). 


(Trecho do poema "Cão sem plumas", de João Cabral de Melo Neto) 
Para conhecer mais sobre a vida e a obra do poeta recifense acesse: 
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LIRA XIII
Vês, Marília, um cordeiro
De flores enramado,
Como alegre corre
A ser sacrificado?
O Povo para o Templo já concorre;
A Pira sacrossanta já se acende;
O Ministro o fere, ele bala, e morre.


Vês agora o novilho,
A quem segura o laço,
No chão as mãos especa,
Nem quer mover um passo.
Não conhece que sai de um mau terreno;
Que o forte pulso, que a seguir o arrasta,
O conduz a viver num campo ameno.


Ignora o bruto como
Lhe dispomos a sorte;
Um vai forçado à vida,
Vai outro alegre à morte:
Nós temos, minha bela, igual demência;
Não sabemos os fins, com que nos move
A sábia, oculta Mão da Providência.


De Jacó ao bom filho
Os maus matar quiseram.
De conselho muraram.
Como escravo o venderam.
José não corre a ser um servo aflito;
Vai subindo os degraus, por onde chega
A ser um quase Deus no grande Egito.


Quem sabe o Destino
Hoje, ó Bela, me prende.
Só porque nisto de outros
Mais danos me defende?
Pode ainda raiar um claro dia.
Mas quer raie, quer não, ao Céu adoro;
E beijo a santa mão, que assim me guia.


(Lira XIII, do livro "Marília de Dirceu", de Tomás Antonio Gonzaga)
Para acessar "Marília de Dirceu" clique aqui:
http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=28390

16 comments:

Anonymous said...

Karoline Helbig, Bruno José, Reolon, Juliano Seidel.

Certamente a maior diferença entre Marília de Dirceu – Lira XIII segunda parte e Paisagem do Capibaribe já notado no decorrer da primeira leitura. O leitor acaba tendo um trabalho muito maior para entrar e compreender o mundo de João Cabral de Melo Neto, devido a sua linguagem pesada. Ao passo que no poema de Tomás Antonio Gonzaga há uma clareza maior. A realidade da imagem que pode estar por trás de tamanha robustez que João Cabral utiliza em sua linguagem certamente é mais forte que o próprio poema. Isso explica o quanto ele tenta repetir certas frases, e em outras, vai à busca de reafirmações colocadas cuidadosa e diferentemente. O que também, certamente, não anula o poder pitoresco do segundo poema. Tomás Antonio Gonzaga mesmo trabalhando com uma linguagem maior, talvez a clareza dele ao todo não esteja em superfície direta com o leitor. No entanto, nele, o leitor é capaz de criar mais facilmente uma imagem melhor da situação que o autor quer nos transmitir.
O primeiro dos poemas é de um autor modernista, movimento este que tem como base a crítica ao sistema capitalista. A temática do autor, tanto nesta lira quanto no livro a qual ela pertence, é basicamente de denúncia a uma situação que acontece em Recife, cidade na qual ele morou. Lá, uma pequena população que mora no mangue da cidade vive do caranguejo, porém a população dos crustáceos vem diminuindo drasticamente, aumentando então a procura por novas fontes de subsistência. Já o segundo autor era um inconfidente, e a sua poesia também é de denúncia, porém de outro grupo de pessoas que também ficavam na margem da sociedade, em outra época.

Anonymous said...

Yara Elberhardt e Sianny Susa

Ao analisar comparativamente os dois textos, de João Cabral de Melo Neto e de Tomás Antônio Gonzaga, pode-se perceber a diferença do contexto vivido por ambos os autores.
No primeiro texto, escrito num tempo mais antigo e em outro contexto histórico, o que difere do segundo, vê-se o lirismo propriamente dito, um começo do período do Romantismo, caracterizado pelo amor sublime de Dirceu por Marília, e tornando, assim, as liras um texto mais leve que o outro, mais agradável ao leitor, e que apesar de se lamentar em inúmeras partes, o eu lírico possui um caráter otimista perante sua realidade. O autor junta exaltação a Marilia, a Deus e misturado a isso à natureza, tornando isso muito claro nos últimos versos: ''Pode ainda raiar um claro dia. Mas quer raie, quer não, ao Céu adoro'. Há de se observar, também, que o autor escreveu isso enquanto preso, ou seja, sua visão da realidade, do contexto social, da natureza, era um tanto mais limitada, mais idealizada.
O segundo texto, de Melo Neto retrata, e também denuncia, a pobreza de Recife, pobreza do povo que vive, literalmente, jogado a lama. Num tom extremamente verossímil, denuncia as secas, o abandono e a falta de recursos de um povo citado como miserável. É escrito de forma pesada e dura, causa estranhamento ao leitor, que se choca com a força de muitas expressões, como ''até da camisa que não têm'' e ''estes secam ainda mais além de sua caliça extrema''.
Temos um exemplo de texto contemporâneo e de um texto árcade.

Anonymous said...

Camila Cristina
Tomás Antônio Gonzaga, apesar de ter sido burguês, era um árcade pastoril, ou seja, ele imaginava uma maravilhosa natureza e uma perfeita vida no campo. Suas liras refletem muito isso, a natureza é representada de forma muito otimista, onde até a morte do carneiro têm um aspecto romântico. Ele menciona passagens bíblicas e recorre da mitologia greco-romana, para dar suporte ao que ele queria abordar, funcionando muitas vezes como metáfora para poder contar sua própria história. Marília de Dirceu é um livro do gênero lírico, com o eu-lírico sendo absolutamente o autor, Tomás Antônio Gonzaga, escrevendo ele sobre seu amor, Maria Dorotéia Joaquina de Seixas Brandão, e seus sofrimentos e até revolta com sua injusta prisão.
João Cabral de Melo Neto é mais realista em seu poema, ele retrata a natureza com barbaridade e selvageria, para compará-la com a miséria. A imagem que se faz é de um lugar pantanoso, enlameado, com casas pobres de comunidades carentes, de pessoas com condições de vida precárias, chamadas por João Cabral como “cão sem plumas”, que “roem tão fundo até o que não tem.

Anonymous said...

Análise Comparativa. Sélia, Suélen.
1° ano. Letras.

Ao ler e analisar o poema “II Paisagem do Capibaribe” de Cão sem plumas de João Cabral de Melo e Lira XIII – segunda parte de Marília de Dirceu de Tomás Antônio Gonzaga foi possível observar a diferente realidade de cada um deles. No poema “Cão sem plumas”, João relata uma perspectiva horrorizada, comentando que a natureza do local, a qual ele descrevia é totalmente marginal, sem o toque sofisticado, mas enquanto ele vivia em um local sem sofrimento. No entanto Tomás estando preso e sofrendo, descobre que o local em que ele vivia era maravilhoso, pois onde ele estava se sentia solitário, sem nada a observar, sendo assim ele relembra da natureza maravilhosa que ele perdeu estando preso.
Conclui -se que quem não sofre ou passa por dificuldades fica neutro em relação a algo que pareça ruim, mas quem passa por esta experiência de perda e sofrimento consegue dar valor as coisas boas.

Anonymous said...

Ao ler a parte do poema “Cão sem Plumas” de João Cabral de Melo Neto, “II Paisagem do Capibaribe”, a primeira imagem que no vem à mente é do descaso com a natureza feita por meio dos homens, primeiramente ele descreve um rio poderoso e importante, depois, o compara a um mar de lama, a um cão sem plumas (pelagem), como um pássaro sem voz e as raízes de uma árvore no ar. Depois ele estabelece uma comparação entre o homem e algo sem vida, algo que está definhando juntamente com o rio.
A lira XIII – segunda parte de Marília de Dirceu nos remete uma visão de que o “eu lírico” encontra forças na veneração por Marília, assim tendo esperança de que um dia possa tê-la. Outra forte característica na lira é a exaltação da beleza Marília.
Tomás Antonio Gonzaga usa imagens comparativas, nos levando a situações de contradições e conflitos, mas que, segundo a visão de esperança da lira, nos leva a um final satisfatório, temos como exemplo:
De Jacó ao bom filho
Os maus matar quiseram.
De conselho muraram.
Como escravo o venderam.
José não corre a ser um servo aflito;
Vai subindo os degraus, por onde chega
A ser um quase Deus no grande Egito.
O final da lira nos leva a uma visão do poeta aprisionado, pois a simples visão do sol o faz sonhar com a liberdade e a beleza da natureza que é tão bela quanto seu amor por Marília.

Alunas: Thaynara e Meire.

Anonymous said...

Leonardo Rosa e Letícia Krema

Ao analisar os dois textos, podemos perceber que o 1º “O cão sem plumas” utiliza a figura de linguagem para abordar questões sociais e também questões relacionadas a natureza, como por exemplo trazer a atenção para o rio Capibaribe. No poema também é feita uma ligação dos “problemas” relacionados ao rio, com os homens e sua experiência. Transformando o poema em um “objeto” de influencia para os leitores, no sentido de incentivá-los a valorizar a natureza.
Ao contrário do texto de João Cabral de Melo Neto, o segundo texto A lira XIII – segunda parte de Marília de Dirceu de Tomás Antonio Gonzaga, traz a exuberância das paisagens, exaltando as belezas e o lado positivo das coisas que a natureza tem a oferecer. Outro ponto que Gonzaga aborda é a história de José no Egito, no trecho “Vai subindo os degraus, por onde chega
A ser um quase Deus no grande Egito” na quarta estrofe da lira XIII, ele comenta sobre a sua reviravolta. E por fim, podemos perceber que sua idealização por Marília está presente no texto sendo sempre o seu objeto de inspiração.

Anonymous said...

Alunas: Flávia Cristina, Ana Carolina

No trecho do poema “Cão sem plumas”, João Cabral de Melo descreve o modo como ele vê uma população pobre, que tem como principal meio de sobrevivência no rio, onde habitam em palafitas. João Cabral, descreve o que vê, presencia e sente a natureza.
No texto da Lira XIII de Gonzaga podemos observar uma visão de natureza, mas limitada, ou seja, idealizada já que ele escreveu o poema quando estava na prisão, por não ter contato com a natureza, ele a descreve com o modo como se lembrava do que tinha vivenciado, o poema tem todo seu lado poético, mas ainda é autobiográfico, denunciando do que tinha visto na Inconfidência Mineira, denunciando o grupo do ministro de Pombal, como diz no trecho “O Ministro o fere, ele bala, e morre”.

Anonymous said...

"II. Paisagem do Capibaribe", de João Cabral de Melo Neto, podemos observar o tom realista e consciente em relação ao seu espaço geográfico e social. O poema parece ser uma forma de "denúncia" das condições do seu espaço, ou seja, ele desenvolve o poema falando sobre o rio e ao decorrer, ele fala sobre a realidade dos homens que ali moram. O rio é uma metáfora, ou seja, o rio é comparado ao homem, como se o homem vivesse em função do rio e perdesse sua "dignidade"; como se ele estivesse aprisionado ao rio, retratando a miséria daquele povo.

"Difícil é saber
se aquele homem
já não está
mais aquém do homem;
mais aquém do homem
ao menos capaz de roer
os ossos do ofício;
capaz de sangrar
na praça;
capaz de gritar
se a moenda lhe mastiga o braço;
capaz
de ter a vida mastigada
e não apenas
dissolvida
(naquela água macia
que amolece seus ossos
como amoleceu as pedras)."

-

No "LIRA XIII" de Tomás Antonio Gonzaga também podemos perceber uma denúncia, mas podemos dizer que é 'idealizada', ou seja, é uma realidade inventada por ele, não foi um contato direto. Podemos perceber também, que ele usa um tom mais otimista e idealizado em relação com a natureza.

"Quem sabe o Destino
Hoje, ó Bela, me prende.
Só porque nisto de outros
Mais danos me defende?
Pode ainda raiar um claro dia.
Mas quer raie, quer não, ao Céu adoro;
E beijo a santa mão, que assim me guia."

Anonymous said...

O primeiro texto II Paisagem de Capibaribe de Cão sem Plumas João Cabral de Melo Neto, trata de uma crítica social através de algumas metáforas com elementos da natureza. Dessa forma fica um pouco menos "pesado" o poema com relação às críticas. Ele trata de pessoas que vivem do rio e de uma espécie de mangue próximo ao lugar onde moram, com isso essas pessoas acabam sendo ignoradas e desprezadas pelos habitantes da cidade, como se a lama e elas fossem a mesma coisa, não tivessem importância e não merecessem a devida atenção, como se não sentissem dor ou fome ou até mesmo não sangrassem.
Já no texto A lira XIII – segunda parte de Marília de Dirceu de Tomás Antônio Gonzaga também há a presença de metáforas, mas não da mesma forma, porque é um tema mais idealizado, trata-se de passagens da bíblia em comparação com suposições dele próprio, tornando o texto mais bonito e leve também (muito mais em comparação com o primeiro) por não haver aquele "toque" de realidade, crítica social.
Carolina Cristina

Anonymous said...

Edwin de Paula, Greyce Kelly Giovanella e Thais Calazans said...

As imagens poéticas presentes nos poemas ”‘Cão sem plumas’, II. Paisagem do Capibaribe” de João Cabral de Melo Neto e “’Marília de Dirceu’, Lira XIII” de Tomás Antônio Gonzaga, apesar de estarem relacionadas às suas visões em relação à natureza, são construídas a partir de diferentes paradigmas. Cabral apoia-se na visão moderna, e Gonzaga baseia-se no paradigma árcade, portanto divergem entre si na sua essência. A visão de Cabral é uma visão verossímil, que retrata a realidade do rio Capibaribe e a sua relação intrínseca com a comunidade que ali reside. Segundo Cabral, a realidade do rio é o reflexo da realidade do homem. O poema é uma grande metáfora, que compara a situação degradante do rio gerador de renda e sustento daquela comunidade ao “Cão sem plumas”, ou o cão sem adornos que o façam passar uma imagem mais glamorosa ou até mesmo falsa de si, sendo este também uma metáfora, que faz uma comparação do cão sem plumas ao homem que vai tendo sua fragilidade e sua miséria exposta de acordo com a degradação do rio Capibaribe. Em suma, Cabral não esconde, em sua poesia, a situação desagradável da “natureza”, que no poema é o rio Capibaribe. Em contrapartida, Gonzaga faz uso de uma imagem poética relativa à natureza mais positiva, exaltando as belezas naturais sem pôr em cheque, em momento algum, a soberania, a perfeição da natureza sobre o homem. Nessa lira o eu lírico, além de expor sua visão gloriosa da natureza, também mostra-nos a sua aceitação relativa à posição inferior do homem à natureza, na qual este está sujeito à magnificência natural. Essa visão de Gonzaga, saudosista por estar na prisão quando a segunda parte do livro foi escrita, fica bastante evidente nos penúltimos versos da Lira XIII: “Pode ainda raiar um claro dia/ Mas quer raie, quer não, ao Céu adoro”. Nestes versos fica clara a admiração à natureza por parte do eu lírico. Outro ponto notável que distingue uma poesia da outra é o uso da linguagem. Cabral faz uso de uma linguagem mais objetiva, procurando verso após verso encontrar o termo mais objetivo e adequado para a ilustração do conceito que o autor quer passar para o leitor, à medida que Gonzaga, por ser um escritor de outra época e com outros valores, usa uma linguagem mais leve que permite que o leitor divague entre a imagem que o autor cria em sua poesia. Sendo assim, conclui-se que, malgrado ambos os autores desenvolverem sua poesia a partir da relação homem/natureza, eles partem de paradigmas diferentes, por conseguinte são-nos apresentadas duas imagens poéticas diferentes: uma imagem verossímil – ou realista, por parte de Cabral; e uma imagem idílica e idealista, por parte de Gonzaga.

Anonymous said...

Ananda Marcela Abel Daniel, Julia Graziela Pereira Lopes
1º ano Letras
Na análise comparativa entre os dois poemas sugeridos, podemos dizer que nos dois poemas há uma comparação da natureza ao meio em que vivem, condições sociais, observações pessoais e dilemas cotidianos.
No trecho do poema “Cão sem plumas” (II. Paisagem do Capibaribe) pode-se perceber através da descrição de João Cabral de Melo Neto, um povo miserável, que luta constantemente por sobrevivência, tendo uma vida limitada ao que o rio pode lhes oferecer, sendo este sua única fonte de sobrevivência, vivem do manguezal, que para eles é sua fonte de vida. João relata a natureza precária dessas pessoas, mas ainda sim uma natureza real. Refere-se ao rio como o equilíbrio daquele povo, pois no momento em que concede a vida ele também as tira como é compreendido em seu texto, o rio que os sustenta é também a sua ruína. Ele relata o povo como ele é, da forma mais pura, sem exaltar nem depreciar nenhuma característica.
Na Lira XIII da segunda parte do livro “Marília de Dirceu”, Tomás Antônio Gonzaga descreve através de poemas autobiográficos o tempo em que esteve preso, relata a injustiça sofrida por uma prisão brutal, uma fase marcada por sua amargurada incompreensão, seu pessimismo sua extrema tristeza, mas acima de tudo sua forte esperança em talvez um dia reencontrar Marília. Em cárcere fechado sua aproximação com a natureza era limitado, vivia apenas do que ainda conseguia lembrar, sentia-se agradecido pelas poucas horas permitidas de sol por dia, o que o mantinha vivo era sua esperança de poder vivê-las novamente. Podemos observar na característica pré-romântica, que ele vive de lembranças e recordações passadas. Para abrandar o seu martírio apenas uma realidade existe apenas a doce lembrança de Marília.

Anonymous said...

Maristela Velozo
Ana Claudia Hansen

O Universo de João Cabral de Melo Neto nos trechos do seu poema "Cão sem plumas", II. Paisagem do Capibaribe, explora em sua linguagem características regionais e humanas que cercam o Rio Capibaribe na região de Recife. O autor expõe nas imagens detritos, sujeira, diante de uma população miserável que habita às margens do rio, morando em palafitas ,vivendo da captura de caranguejos, retratando cenas de subdesenvolvimento desta região. João Cabral de Melo Neto denuncia a realidade nordestina, de miséria, de convívio em condições sub-humanas. O contexto de seu poema revela traços de sua realidade.
As Liras de "Marília de Dirceu", de Tomás Antônio Gonzaga, apresentam traços de solidão, saudades de Marilia, temor do futuro, descritas pelo autor através do eu lírico. Estas características são destacadas no poema pois quando foi escrito, o autor encontrava-se preso na ilha das Cobras (RJ) por sua participação na Inconfidência Mineira.Observa-se que as características pré-românticas se fazem sentir mais presentes, no qual o autor idealiza sua amada e supervaloriza o amor. Dentro desta visão, o poeta vive de lembranças e recordações passadas. Destaca-se a angústia da separação e o sentimento de ter sido injuriado por acusações falsas e mentirosas.Analisando as obras de João Cabral de Melo Neto e Tomás Antônio Gonzaga, observa-se que a visão dos autores é construída de acordo com o que cada autor vivenciou durante a construção da obra. João Cabral de Melo Neto, em seu texto, explora a realidade nordestina que vivia na extrema pobreza, enquanto Tomás Antônio Gonzaga expõe sentimentos que estavam aprisionados ,sendo sua visão limitada por estar em uma prisão e não ter acesso ao mundo.

Anonymous said...

Alunas: Hellen Cristina Specht, Maria Augusta Drechsel e Tuane Ramos.

Análise comparativa:

O trecho “II. Paisagem do Capibaribe” do poema “Cão sem plumas” aborda a relação de convivência do homem com o rio que corta a região de Recife, retratando as dificuldades que o povo enfrenta durante as cheias. Por conta do trabalho nos mangues o povo é muito judiado física e emocionalmente, pois passam por situações de extrema calamidade, refletindo a dependência humana no meio socioambiental. João Cabral de Melo Neto retrata a degradação da natureza e os efeitos causados por ela no povo pernambucano.
A lira XIII da obra “Marília de Dirceu” trata da condição em que o poeta vive, e depende dos acontecimentos que cercam tanto ele quanto a sociedade. Tomás Antônio Gonzaga utiliza metáforas para mostrar sua realidade de vida de forma escapista, pois estava longe do contato com a natureza. Sua linguagem é simples e objetiva, sempre embelezando a realidade e exaltando a natureza.
Enquanto Tomás Antônio Gonzaga utiliza as belezas naturais para expressar uma comparação de vida, João Cabral de Melo Neto analisa e fala da interferência da natureza no meio social.

Anonymous said...

Paola Sayuri said...
No trecho do poema “Cão sem Plumas”, II. Paisagem do Capibaribe, João Cabral de Melo Neto constrói imagens poéticas por meio de elementos da natureza suscetíveis às degradações cometidas pela realidade com a qual convivia e rejeitava: a relação precária de subsistência entre a comunidade periférica de Pernambuco e o Rio Capibaribe; o rio que “sofre” com as intempéries do tempo e com as drásticas consequências do processo de urbanização e que, sendo destruído, prejudica a sobrevivência das famílias as quais tiram, deste rio, seu sustento.

Nos versos “Como o rio aqueles homens são como cães sem pluma” percebe-se a fundição do rio e do homem em uma só figura: o cão sem plumas. Ou seja, o homem é feito elemento constituinte do rio e vice-versa por haver uma relação de interdependência representada também nos versos “Na paisagem do rio difícil é saber onde começa o rio; onde a lama começa do rio; onde a terra começa da lama; onde o homem, onde a pele começa da lama”. E por que “cães sem plumas”? A resposta encontra-se nos versos ”Um cão sem plumas é quando uma árvore sem voz. É quando de um pássaro suas raízes no ar. É quando a alguma coisa roem tão fundo até o que não tem.” Interpreta-se, portanto, que o homem, morador do mangue, compara-se a um cão sem plumas por sofrer com a escassez do rio e, também, com a insalubridade de seu árduo trabalho que, aos poucos, destitui sua humanidade, por isso os versos “Difícil é saber se aquele homem já não está mais aquém do homem; mais aquém do homem ao menos capaz de roer os ossos do ofício; capaz de sangrar na praça; capaz de gritar se a moenda lhe mastiga o braço; capaz de ter a vida mastigada e não apenas dissolvida (naquela água macia que amolece seus ossos como amoleceu as pedras.” E, por fim, descobre-se que o rio, fonte de vida, acaba por se tornar causa de morte.

A condição de jovem viajante que morou e trabalhou em diversos países e, consequentemente, adquiriu informações de realidades multiculturais, propiciou o desenvolvimento do pensamento crítico e argumentativo, o qual fez de João Cabral de Melo Neto um renomado escritor. As visões, objetiva e concretista, de mundo e as preocupações sociais e políticas são características preeminentes nas obras do autor considerado modernista.

Tomás Antônio Gonzaga, ouvidor e juiz, aos trinta e oito anos, apaixonou-se por Marília Dorotéia Joaquina de Seixas, musa inspiradora de poemas líricos os quais se tornaram sua obra mais conhecida: “Marília de Dirceu”. Esta obra, diferentemente dos poemas de João Cabral de Melo Neto, possui conotação romântica inspirada no romance idealizado de Antônio Gonzaga (Dirceu) com Marília Dorotéia (Marília). O poeta, a partir, também, de elementos da natureza, constrói imagens poéticas, no entanto, de uma vida bucólica e simples conforme os princípios do Arcadismo. Nas liras “Os teus olhos espalham luz divina, A quem a luz do Sol em vão se atreve; Papoula ou rosa delicada e fina Te cobre as faces, que são cor de neve: Os teus cabelos são uns fios d’ouro; Teu lindo corpo bálsamo vapora. Ah! Não, não fez o céu, gentil pastora, Para glória de amor, igual tesouro. Graças, Marília bela, Graças à minha estrela!” percebe-se que o poeta árcade apresenta a natureza como algo belo e divino, digno de ser exaltado e, dessa maneira, descreve a beleza e a delicadeza de sua amada, assim como a melancolia que sente por não poder tê-la, como equiparadas ou, ainda, superiores à majestade dos elementos e fenômenos naturais. O subjetivismo e sentimentalismo, portanto, são características dessa obra que pode ser avaliada como pré-romântica.

Anonymous said...

Desirée Eloise Quint

Os textos II Paisagens de Capibaribe de Cão se Plumas de João Cabral de Melo neto e A lira XIII – segunda parte de Marília de Dirceu de Tomás Antônio Gonzaga referem-se a grandes críticas sociais, embora a primeira seja mais agressiva e mais incisiva que a segunda. João Cabral de Melo é enfático no conteúdo, mostrando sua total repulsa pelas atitudes de exploração ao rio, usando de figuras de natureza para ilustrar o cenário.
Tomás Antônio Gonzaga foi mais sutil, utiliza uma visão idealizada sobre o que acontece, utiliza métrica em todo corpo textual e ilustra sua crítica social.

Karen Thaynara said...

Comparando “Cão sem plumas’, II. Paisagem do Capibaribe” de João Cabral de Melo Neto e “Marilia de Dirceu’, Lira XIII” de Tomás Antônio Gonzaga, pode-se observar que existem diferentes tipos de visões em relação à natureza – um olhar mais otimista e outro muito mais realista. Cabral claramente trata a realidade como a qual o homem vive. A natureza é vista de forma precária, mas ao mesmo tempo é o sustento do povo que vive por perto. Cabral é mais agressivo e objetivo, mostrando a repulsa causada pela exploração. Gonzaga escreve de forma mais leve, idealizando a natureza de forma muito otimista, já que naquele momento ele estava preso. O autor criou a própria natureza, um lugar belo – que poderia estar desfrutando se não estivesse preso.