Monday, November 30, 2015

Atividade de Teoria da Literatura II

Fazer leitura comparativa dos aspectos intertextuais atualizados nas narrativas curtas - BICICLETAS, de Péricles Prade (In Correspondências- narrativas mínimas. Porto Alegre: Movimento, 2009) e O ciclista, de Dalton Trevisan (In O beijo na nuca. São Paulo: Record. 2014).

O ciclista
Dalton Trevisan

Curvado no guidão lá vai ele numa chispa. Na esquina dá com o sinal vermelho e não se perturba – levanta vôo bem na cara do guarda crucificado. No labirinto urbano persegue a morte como trim-trim da campainha: entrega sem derreter sorvete a domicílio.
É sua lâmpada de Aladino a bicicleta e, ao sentar-se no selim, liberta o gênio acorrentado ao pedal. Indefeso homem, frágil máquina, arremete impávido colosso, desvia de fininho o poste e o caminhão; o ciclista por muito favor derrubou o boné.
Atropela gentilmente e, vespa furiosa que morde, ei-lo defunto ao perder o ferrão. Guerreiros inimigos trituram com chio de pneus o seu diáfono esqueleto. Se não se estrebucha ali mesmo, bate o pó da roupa e – uma perna mais curta – foge por entre nuvens, a bicicleta no ombro.
Opõe o peito magro ao pára-choque do ônibus. Salta a poça d´água no asfalto. Nem só corpo, touro e toureiro, golpeia ferido o ar nos cornos do guidão.
Ao fim do dia, José guarda no canto da casa o pássaro de viagem. Enfrenta o sono trim-trim a pé e, na primeira esquina, avança pelo céu na contramão, trim-trim.

15 comments:

Unknown said...
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Unknown said...

Os dois textos refletem a relação afetuosa entre o homem e sua bicicleta. Talvez o principal ponto de diferenciação seja o tipo de relação que se estabelece entre cada personagem e seu meio de locomoção. Enquanto em O Ciclista a bicicleta é vista como companheira de aventuras no dia a dia do homem, em Bicicletas, ela é concretizada como válvula de escape. Dalton Trevisan constrói sua narrativa e agrega a bicicleta a ela, mas sem torná-la foco principal, este é o ciclista, que se utiliza dos recursos ofertados pela bicicleta para realizar tarefas diárias e por essa razão nasce certa afetividade entre o homem e o objeto. Já Péricles Prades objetifica a bicicleta como algo que tem poder de causar obsessão, algo com o qual o homem estabelece relação de máxima importância e se utiliza dela como fonte de adrenalina e liberdade, paz e calmaria em momentos de alto estresse.

Allis Machado, Cymara Sell e Kevin Inocêncio.

Anonymous said...

“O ciclista”, de Dalton Trevisan e “Bicicletas”, de Péricles Prade tratam da ligação entre a bicicleta e seu dono. Ambos os textos exploram a importância da bicicleta para cada indivíduo e o papel simbólico que ela possui, ainda que as duas realidades sejam diferentes.

Em “O Ciclista”, Dalton Trevisan traz a rotina de um trabalhador, um entregador de sorvetes que depende da bicicleta para fazer o seu trabalho. Sem ela, algumas funções profissionais deste indivíduo poderiam estar comprometidas, como a rapidez, por exemplo. Trevisan chega a comparar ciclista e bicicleta com Aladino e sua lâmpada mágica. É como se este trabalhador pudesse realizar coisas consideradas impossíveis em meio ao trânsito de uma grande cidade. Além disso, assim como o gênio permanece preso dentro da lâmpada, da mesma forma, José está preso aos pedais da bicicleta, dependendo deste meio de locomoção para realizar os desejos alheios.

Já, em “Bicicletas”, o narrador possui uma relação diferenciada com o objeto. O texto também é carregado de simbologias, porém este faz uma espécie de crítica direcionada aquelas pessoas que não usam a bicicleta para o fim pelo qual foi criada. Prade não trata o ato de pedalar apenas como algo mecânico, mas ressalta a harmonia e a relação simbólica entre homem e objeto.


Fernanda Amorim e Vivian Braz

Camila Gomes said...

Ambos os textos tratam da relação do homem com um objeto, no caso das duas obras “O Ciclista” de Dalton Trevisan e “Bicicletas” de Péricles Prade, o objeto em questão é a bicicleta. No entanto, enquanto no primeiro texto temos uma relação profissional, no escrito de Péricles, existe uma relação emocional. Quase uma afetividade entre homem e seu objeto. No texto de Dalton, a bicicleta é um objeto de trabalho, a relação que o personagem constrói com ela é mecânica, não há afeto, nem mesmo desejo pelo objeto como o personagem de Péricles em seu conto. No texto de Dalton, a bicicleta é tida apenas como o objeto-coisa, em "Bicicletas", ela é o objeto de afetividade do personagem.

Camila, Carolina Floriano e Isabel.

Anonymous said...

No texto “Ciclistas” de Dalton Trevisan, a bicicleta é tratada como um objeto de trabalho, um objeto que facilita sua vida como profissional, e que nos mostra as vantagens dessa forma de locomoção e o beneficio que ela trás em meio ao caos das cidades em que vivemos. Já no texto “Bicicletas”, de Péricles Prade, o objeto é tratado de uma forma mais sentimental pelo narrador, até um pouco paranoica.
Portanto, Ambos os textos tratam da relação entre o objeto bicicleta e seus respectivos donos, e a importância de tal objeto para cada individuo. Mas Dalton Trevisan trata apenas da bicicleta como objeto, enquanto Péricles Prade trata da bicicleta de maneira mais afetiva.


Caroline Schmidt;
Mayessa Silva.

Unknown said...

Em BICICLETAS, de Péricles Prade (In Correspondências- narrativas mínimas. Porto Alegre: Movimento, 2009) o objeto é introduzido representando uma ideologia sendo "montada" pelo Eu lírico ao longo da narrativa. Assim como se trocam de ideias ao longo da vida o narrador as representa através da bicicleta, montando em várias, dando preferência para aquela onde a dirigibilidade mais convém. Já em O ciclista, de Dalton Trevisan (In O beijo na nuca. São Paulo: Record. 2014) a bicicleta representa o veículo de trabalho, mas não apenas isso, o narrador descreve a junção de homem máquina, ambos frágeis, como "impávido colosso" o que foge em muito apenas de uma relação de trabalho, é também uma forma de enfrentar os desafios que a cidade lhe impõem, um modo de vida onde homem e máquina complementam-se. A relação dos dois é tamanha que mesmo após o personagem deixar sua bicicleta no canto da casa e ir dormir ela o acompanha no sonho, na buzina e no modo de agir.

Jeferson Renato Veiga

Anonymous said...

Em “Ciclistas” de Dalton Trevisan e “Bicicletas” de Péricles Prade, trazem a relação que o homem tem com o objeto (bicicleta) e ambos nos mostram a importância da bicicleta para cada pessoa e qual o papel que a mesma tem para cada indivíduo sem se importar com sua raça ou classe social.
Em “Ciclistas” de Dalton Trevisan, a bicicleta é tratada como um meio de facilitar a sua vida, e um meio de locomoção que nos trás benefícios a cidade( não poluindo- a) e a nossa própria saúde.
Em "Bicicletas" de Péricles Prade, podemos notar que existe um afeto entre o homem e o objeto

Aluna: Flávia Cristina Ganske

Unknown said...

Em O Ciclista de Dalton Trevisan, a relação homem-bicicleta se faz como meio de locomoção para o trabalho, a rapidez que o objeto lhe atribui, “liberta o gênio acorrentado ao pedal”, desviando do que estiver à sua frente na rua para concluir o seu serviço. O percurso realizado pelo ciclista com a bicicleta chega a ser uma relação cíclica, em que de tão habituado ao caminho, sua rotina diária com ela o acompanha até em sonho.
Em “Bicicletas”, de Péricles Prade, há a experiência obsessiva entre o narrador com as bicicletas. Ele não a utiliza para um fim, como em “O ciclista”, mas como uma apreciação muito forte. Ele idolatra o objeto pela sua forma e atributos, a imagem da bicicleta é bela e significativa para ele.


Daniela Schmidt;
Gabriela Heidemann;
Letícia Marques Hermesmeyer;
Maiara Cristine Cabral

Anonymous said...

Em BICICLETAS, de Péricles Prade (In Correspondências- narrativas mínimas. Porto Alegre: Movimento, 2009) a bicicleta é tratada com plural e é objeto de obsessão do narrador. Ao justificar tal obsessão, o narrador evoca várias imagens a serem retomadas pelo leitor, que compõem o percurso imagético de apreciação do conto. De Duchamp a Beuys, sem deixar de passar por Picasso, o narrador se apropria de obras de arte para se impor conhecedor de bicicletas, e julga arte como quem ama o objeto da arte.
Refere-se às bicicletas como "máquina" e "objeto útil e estético". Sua relação se dá no campo do psicológico, uma vez que o "usar" da bicicleta não é mencionado como fonte de satisfação, e sim o "possuir". Quando a mãe falece, sofre por não ter ganho outra bicicleta. Quando rouba uma, alegra-se com o "furto prazeroso". Seu alento está no domínio do objeto.

Já em O ciclista, de Dalton Trevisan (In O beijo na nuca. São Paulo: Record. 2014), a bicicleta é inserida como o transporte aparente frágil que serve a um homem valente. As imagens são construídas no ditar do cenário rápido que é diretamente projetado no imaginário do leitor. O entregador de sorvetes - mercadoria que exige a rapidez com que o conto se desenrola - enfrenta o trânsito com a agilidade de "vespa furiosa" e de um jeito "impávido colosso" que é revelado da primeira linha ao fim. Todo o tempo o leitor é levado a entender a relação de unicidade entre o homem e a bicicleta, e o recurso para tal intento é a projeção de imagens: "É sua lâmpada de Aladino a bicicleta e, ao sentar-se no selim, liberta o gênio acorrentado ao pedal." ou ainda "Nem só corpo, touro e toureiro, golpeia ferido o ar nos cornos do guidão". Estão unidos, servem um ao outro, são um só. Cumprem sua missão e carregam consigo um leitor sem fôlego por este passeio de imagens que leva a crer que o estado de dormir não é seu natural, e que "avança pelo céu na contramão, trim-trim"

Carolina, Heloiza, Tainara

Anonymous said...

Em "O Ciclista" de Dalton Trevisan, a relação do personagem com sua bicicleta se dá na maneira prática e rápida com que ele a vê. Ele a usa como um meio de transporte com o qual pode chegar ao trabalho. Mas possui também uma forte ligação com ela. Quando se movimenta, seu corpo está ligado à bicicleta e eles se movem em sincronia. Estão tão ligados que ela está com ele até mesmo na hora de dormir.

Já em "BICICLETAS" de Péricles Prade, o personagem possui uma relação com o objeto bicicleta em si. É uma relação mais afetiva, mais como uma obsessão pela bicicleta. Trata-se de algo que o faz sentir-se bem, pois quando ganhou algo que não era uma bicicleta, ficou tão decepcionado que resolveu furtar uma para abrandar os maus sentimentos e ficar feliz.

Daiane Cristina Donel

jeanstringhini said...

Leitura comparativa dos aspectos intertextuais atualizados nas narrativas curtas - entre os contos: “Bicicletas” de Péricles Prade e “O ciclista” de Dalton Trevisan

Essas narrativas curtas de Péricles Prade e Dalton Trevisan apresentam características estruturais importantes e, há de se considerar, no entanto, que esta análise, pode apenas arranhar pressupostos teóricos, até mesmo os mais modernos, porque há semelhança entre eles, se considerarmos a complexidade da criação artística. Além disso, há de se considerar também, a miscigenação de gêneros admitidos em função do processo evolutivo tanto do homem como do mundo.
Começaremos esta análise inicialmente pelo conto “Bicicletas” de Péricles Prade, autor que descreve esculturas, fotos, com a finalidade de criar um diálogo interdisciplinar entre a Literatura e as Artes Plásticas. Há nesse conto um enredo fictício, pois se pode observar uma viagem por entre obras reais, criadas por artistas plásticos e uma fotografia do inicio do século XIX. Basicamente, o conto trata da obsessão de um homem por bicicletas – “coisa mental, única, sem possibilidade de mudança de foco” (PRADE, 2009) – e da crítica aos que tentam explicar sua “paranoia” apenas como resultado de influências estéticas. Em descrição sequencial, a personagem investe contra a ideia de que sua moléstia havia sido suscitada pela “Roda de Bicicleta” de Marcel Duchamp (1887-1968). Vale a pena discorrer sobre a arte peculiar de Duchamp que foi um dos mentores do Dadaísmo, movimento vanguardista europeu do inicio do século XX. O intento de Duchamp era o de promover os objetos comuns a obras de arte, no instante em que lhes tirava a “utilidade”. É o que aconteceu essencialmente com “Roda de bicicleta”, pois o autor prendeu a roda de ponta-cabeça num banquinho, alterando o modo de ser do veículo, ao lhe anular o movimento. Em consequência, a bicicleta perde seu privilégio de veiculo e torna-se outra coisa, a ser observada numa exposição ou num museu com olhos diferentes do que seria observada no dia-a-dia.

jeanstringhini said...

Na sequencia, a personagem investe contra outros produtos artísticos, tendo sempre como motivo a bicicleta, que seriam imputados como responsáveis por sua obsessão: a escultura “Cabeça de Touro” de Pablo Picasso (1881-1973), e a “Bicicleta de Beuys” (1984) de Joseph Beuys (1921-1986).
Essa bicicleta mental foi igualmente rejeitada como fonte propiciadora da obsessão da personagem, devido a “sua pedagógica, lendária e messiânica pretensão” (PRADE, 2009, p.27). A personagem não admite conceber nenhuma dessas obras de arte como geradora de sua obsessão, devido ao fato que desvirtuam as funções da bicicleta, motivo de sua paixão, que é descrita no seguinte fragmento:

A verdadeira paixão é a própria bicicleta, inteira, de uso diário, objeto útil e estético. Acho intolerável que alguém, mesmo sendo artista famoso, se aproprie de sua forma, tanto na totalidade, quanto em parte. Ela vale, pouco importa o modelo, pela beleza dos componentes e pelos diastólicos impulsos do movimento. Enfim, por si só, como deslumbrante ser físico. (PRADE, 2009).

Finalmente a personagem – um apaixonado colecionador de bicicletas –, ao não ser contemplado com uma bicicleta em seu aniversário dos 25 anos, resolve furtar uma, a fim de não se tornar “violento”. Para se acalmar ou para canalizar a obsessão psíquica, interfere fisicamente numa fotografia de Harlingue-Viollet, que registra uma pessoa andando de bicicleta.
A pessoa assim descrita é Alfred Jarry que, em 1896, comprou uma bicicleta, mas não a pagou. A foto registra o momento em que o escritor seguia pela Rua Laval, em Paris. A revelação de sua identidade acontece por meio do Dr. Faustroll, personagem da obra Gestes e Opinions du Docteur Faustroll, Pataphysicien, de autoria do próprio Jarry:

Semana passada, ao compulsar o álbum fotográfico de Harlingue-Viollet, no consultório do Dr. Faustroll, o sábio cientista me informou, soluçando, que a bicicleta furtada era de um tal de Alfred Jarry, seu protetor, abatido pela tuberculose parisiense em 1909 (PRADE, 2009)

jeanstringhini said...

O que chama a atenção é o fato de o autor se concentrando agora numa foto, que constitui, devido a sua especificidade artística, uma cópia mimética do real, como se pode verificar na descrição abaixo:

Ele andava com o olhar fixo no provável horizonte, sem revelar distração, movimentando os pés com segurança, o esquerdo embaixo e o direito em cima, cuja cabeça, enfeitada por um bigode ralo, emoldurada pela postura heráldica, cobria a metade do portão de uma casa antiga com a janela maior de asas abertas (PRADE, 2009).

Entretanto, ao analisarmos o conto “O ciclista” de Dalton Trevisan, a bicicleta também aparece como tema central.
Dalton Trevisan descreve um ciclista, sua narrativa curta, descreve um flash, até certo ponto, pitoresco, do cotidiano de um operário, lutando na arena contra a fera dos tempos modernos: o trânsito.
Há uma narrativa em prosa de um flagrante de um entregador de sorvetes, apressado em pedalar sua bicicleta, por entre veículos, numa rua de trânsito intenso, avançando sinal fechado e esfregando-se em transeuntes, a fim de cumprir com eficácia a missão de fazer entregas. Há um narrador observador, em 3ª pessoa, que apresenta o personagem, inicialmente, apenas como o ciclista, e mais adiante, José. “Curvado no guidão lá vai ele numa chispa” [...] “persegue a morte com o trim-trim da campainha: entrega sem derreter o sorvete a domicilio”... (TREVISAN, 2014)
Delimita o espaço, a rua. “na esquina dá com o sinal vermelho...” (TREVISAN, 2014) o tempo está implícito no oficio diário de entregar sorvetes e ainda: “Ao fim da tarde, José guarda no canto da casa o pássaro de viagem”. (TREVISAN, 2014)
Ao considerarmos em se ter a bicicleta como principal meio de transporte, podemos observar o ciclista que se esgueira entre postes, ônibus e caminhões, com seu pássaro de viagem, a bicicleta.
Aqui se faz necessário compreendermos que a intertextualidade ocorre em outra esfera: entre “O ciclista” e “Aladim e a lâmpada maravilhosa”. A bicicleta para o entregador de sorvetes é sua lâmpada maravilhosa, o gênio e o engenho que lhe proporciona seu ganha-pão:

É sua lâmpada de Aladino a bicicleta e, ao sentar-se no selim, liberta o gênio acorrentado ao pedal. (TREVISAN, 2014)

O pedal (da bicicleta), também espera um herói para tirá-lo do canto da casa. Para o ciclista, esfregar-se nos ônibus, ou avançar o sinal vermelho, pode ser fatal. As conduções (guerreiros inimigos) dos quais o ciclista se evadi são os monstros. Pode-se comparar ao que Aladim enfrentaria se encostasse a alguma parede na caverna.

Guerreiros inimigos trituram com chio de pneus o seu diáfono esqueleto. (TREVISAN, 2014)

Após fazer-se esta relação dos fatos dos contos e suas respectivas obras, pergunta-se: por que a bicicleta?
Para as personagens: a bicicleta implica uma relação extremamente harmoniosa entre ela e seu condutor, implica verdadeira correspondência entre ambos, já que o movimento de um está atrelado ao de outro e que a noção de equilíbrio só se dá pela sinergia que se opera entre quem conduz e quem é conduzido, a ponto de não se saber exatamente quem é ativo ou passivo na ação.

REFERÊNCIAS

PRADE, Péricles. Bicicletas. In: Correspondências: narrativas mínimas. Porto Alegre: Movimento, 2009.

TREVISAN, Dalton. O ciclista. In: O beijo na nuca. São Paulo: Record. 2014.

Anonymous said...

Nicole de Medeiros Barcelos

A relação homem-bicicleta é o eixo condutor tanto das narrativas tecidas tanto por Dalton Trevisan em “O ciclista” (In: “O beijo na nuca”, São Paulo: Record, 2014), quanto por Péricles Prade em seu “Bicicletas” (publicado em “Correspondências: narrativas mínimas”, Porto Alegre: Movimento, 2008). No entanto, enquanto um enfatiza o objeto de devoção dessa relação (a bicicleta), em detrimento de seu sujeito, como é o caso do último conto (como seu título já bem preludia), o outro denota não só esse, mas a união entre objeto e homem, e os “efeitos” que produzem um no outro (ao se intitular “O ciclista”, fala-se dessa pessoa que se utiliza a bicicleta e que se “transforma” por ela, ao produzir ele mesmo o movimento).
Assim, “Bicicletas” ao retratar a relação de um narrador-personagem que se vê obcecado por tais objetos, discorre com maior ênfase sobre esses, traçando um suposto histórico de tal obsessão que estabelece relação com a própria história da arte, ao remeter a Marcel Duchamp, Pablo Picasso, Joseph Beuys e Alfred Jarry. Prade, pela voz desse narrador, demonstra a importância desse objeto símbolo de autonomia e liberdade solitária por ele mesmo, sem ser transformada em elemento artístico (como fazem os referidos autores), afirmando que “a verdadeira paixão é a própria bicicleta, inteira, de uso diário, objeto útil e estético” (p. 28), em sua função libertadora do indivíduo. Tanto é que guarda todas que já ganhou – e roubou – e continua com elas, sobre elas, incessantemente, sem tampouco poder escapar te tal obsessão.
“O ciclista”, por sua vez, reitera essa mesma liberdade proporcionada pela bicicleta, justamente ao demonstrar o quanto essa, enquanto meio de transporte, dá asas ao seu usuário, transformando-o em algo que não poderia ser em outras circunstâncias. Trevisan, por seu narrador observador, traça a comparação com um elemento clássico da literatura, apontando que “é sua lâmpada de Aladino a bicicleta e, ao sentar-se no selim, liberta o gênio acorrentado ao pedal”, transformando o circular nas ruas da cidade (essa selva de concreto) em uma empreitada quase hercúlea – da qual tampouco escapa o nosso “herói”, que, ao desmontar de sua bicicleta ao chegar em casa e dormir, sozinho, volta a sonhar com ela...
A sonhar com a liberdade.

Unknown said...

Em suas narrativas Pericles Prade e Dalton Trevisan encontram-se por um fragmento de tempo quando falam da bicicleta em movimento e seus movimentos articulados, embora que Pericles discorra sobre a beleza deste movimento enquanto Trevisan escreva sobre a necessidade e perigo do mesmo movimento. Encontram-se também no descrever a relação da pessoa com o objeto, mas neste caso o primeiro trata da obsessão e o segundo da necessidade.
Pericles descreve em sua narrativa a obsessão pela bicicleta como objeto em si. A pessoa desta narrativa deseja colecionar bicicletas por sua beleza e articulação. Ele ama o objeto, admira sua estrutura e a sensação romantizada de liberdade que suas rodas em movimento proporciona a ele. Trevisan por sua vez foca sim na relação entre bicicleta e pessoa, mas no uso cotidiano da mesma como objeto de trabalho e assim sendo, ele destaca o perigo e a resistência deste meio de transporte no trânsito de maquinas grande e potentes. Neste caso Trevisan também mostra a escravidão do trabalho que leva o ciclista a arriscar-se tanto em troca de seu pão de cada dia.

Referências
PRADE, Pericles. Correspondência: narrativas mínimas. Porto Alegre: Ed. Movimento, 2009.
TREVISAN, Dalton. O ciclista. In: O beijo na nuca. São Paulo: Record. 2014.