Tuesday, June 19, 2012

Análise comparativa de poemas de José de Anchieta e Gregório de Matos

Leia comparativamente os poemas "Ao Santíssimo Sacramento" de José de Anchieta e "A Jesus Cristo Nosso Senhor" (Ao mesmo assumpto e na mesma occasião in site: Literatura Brasileira - UFSC), contrapondo as visões de mundo Quinhentista e Barroca.


Para ler o poema "A Jesus Cristo Nosso Senhor" de Gregório de Matos acesse o link abaixo:

http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/_documents/0006-00944.html#II11


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Ao Santíssimo Sacramento
José de Anchieta

Oh que pão, oh que comida,
Oh que divino manjar
Se nos dá no santo altar
Cada dia.
Filho da Virgem Maria
Que Deus Padre cá mandou
E por nós na cruz passou
Crua morte.
E para que nos conforte
Se deixou no Sacramento
Para dar-nos com aumento
Sua graça.
Esta divina fogaça
É manjar de lutadores,
Galardão de vencedores
Esforçados.
Deleite de enamorados
Que com o gosto deste pão
Deixem a deleitarão
Transitória.
Quem quiser haver vitória
Do falso contentamento,
Goste deste sacramento
Divinal.
Ele dá vida imortal,
Este mata toda fome,
Porque nele Deus é homem
Se contêm.
É fonte de todo bem
Da qual quem bem se embebeda
Não tenha medo de queda
Do pecado.
Oh! que divino bocado
Que tem todos os sabores,
Vindes, pobres pecadores,
A comer.
Não tendes de que temer
Senão de vossos pecados;
Se forem bem confessados,
Isso basta.
Que este manjar tudo gasta,
Porque é fogo gastador,
Que com seu divino ardor
Tudo abrasa.
É pão dos filhos de casa
Com que sempre se sustentam
E virtudes acrescentam
De contino.
Todo al é desatino
Se não comer tal vianda,
Com que a alma sempre anda
Satisfeita.
Este manjar aproveita
Para vícios arrancar
E virtudes arraigar
Nas entranhas.
Suas graças são tamanhas,
Que se não podem contar,
Mas bem se podem gostar
De quem ama.
Sua graça se derrama
Nos devotos corações
E os enche de benções
Copiosas.
Oh que entranhas piedosas
De vosso divino amor!
Ó meu Deus e meu Senhor
Humanado!
Quem vos fez tão namorado
De quem tanto vos ofende?!
Quem vos ata, quem vos prende
Com tais nós?!
Por caber dentro de nós
Vos fazeis tão pequenino
Sem o vosso ser divino,
Se mudar.
Para vosso amor plantar
Dentro em nosso coração
Achastes tal invenção
De manjar,
Em o qual nosso padar
Acha gostos diferentes
Debaixo dos acidentes
Escondidos.
Uns são todos incendidos
Do fogo de vosso amor,
Outros cheios de temor
Filial,
Outros com o celestial
Lume deste sacramento
Alcançam conhecimento
De quem são,
Outros sentem compaixão
De seu Deus que tantas dores
Por nos dar estes sabores
Quis sofrer.
E desejam de morrer
Por amor de seu amado,
Vivendo sem ter cuidado
Desta vida.
Quem viu nunca tal comida
Que é o sumo de todo bem,
Ai de nós que nos detém
Que buscamos!
Como não nos enfrascamos
Nos deleites deste Pão
Com que o nosso coração
Tem fartura.
Se buscarmos formosura
Nele está toda metida,
Se queremos achar vida,
Esta é.
Aqui se refina a fé,
Pois debaixo do que vemos,
Estar Deus e homem cremos
Sem mudança.
Acrescenta-se a esperança,
Pois na terra nos é dado
Quanto lá nos céus guardado
Nos está.
A caridade que lá
Há de ser aperfeiçoada,
Deste pão é confirmada
Em pureza.
Dele nasce a fortaleza,
Ele dá perseverança,
Pão da bem-aventurança,
Pão de glória.
Deixado para memória
Da morte do Redentor,
Testemunho de Seu amor
Verdadeiro.
Oh mansíssimo Cordeiro,
Oh menino de Belém,
Oh Jesus todo meu Bem,
Meu Amor.
Meu Esposo, meu Senhor,
Meu amigo, meu irmão,
Centro do meu coração,
Deus e Pai.
Pois com entranhas de Mãe
Quereis de mim ser comido,
Roubai todo meu sentido
Para vós
Prendei-me com fortes nós,
Iesu, filho de Deus vivo,
pois que sou vosso cativo,
que comprastes
Com o sangue que derramastes,
Com a vida que perdestes,
Com a morte que quisestes
Padecer.
Morra eu, por que viver
Vós possais dentro de mim;
Ganha-me, pois me perdi
Em amar-me.
Pois que para incorporar-me
E mudar-me em vós de todo,
Com um tão divino modo
Me mudais.
Quando na minha alma entrais
É dela fazeis sacrário,
De vós mesmo é relicário
Que vos guarda.
Enquanto a presença tarda
De vosso divino rosto,
O saboroso e doce gosto
Deste pão
Seja minha refeição
E todo o meu apetite,
Seja gracioso convite
De minha alma.
Ar fresco de minha calma,
Fogo de minha frieza,
Fonte viva de limpeza,
Doce beijo.
Mitigador do desejo
Com que a vós suspiro, e gemo,
Esperança do que temo
De perder.
Pois não vivo sem comer,
Como a vós, em vós vivendo,
Vivo em vós, a vós comendo,
Doce amor.
Comendo de tal penhor,
Nela tenha minha parte,
E depois de vós me farte
Com vos ver.
Amém.

Friday, May 25, 2012

Leitura do Sermão da Sexagésima do Padre Antônio Vieira


Leia o Sermão da Sexagésima do Padre Antônio Vieira e considere na sua leitura a visão crítica de Jamil Almansur Haddad, que ao analisar o texto barroco de Vieira considera:
 

"O problema estilístico em Vieira é fundamentalmente uma questão de ritmo, visto que é o unificador. O estilo Vieira é condicionado por todo um sistema orgânico de repetições. A condição rítmica traduz-se pela presença de figuras retóricas conhecidas ( a anáfora, o trocadilho, uma aparatosa nomenclatura / o paralelismo - modo de transmitir pluralidade de forma unitária).
Vieira transmite “unidade na variedade”. Se é possível juntar numa unidade só branco e branco, o é da mesma maneira a unificação de branco e preto. A antítese acaba sendo muito mais paralelismo do que divergência, daí o entendimento de que o barroco não faz mais do que hipertrofiar o classicismo. Acéro já dissera que “as oposições de palavras, as antíteses são os mais belos ornamentos do discurso”."
  
VIEIRA, Antônio. Sermões. Prefácio de Jamil Almansur Haddad. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1954

Aspectos a serem considerados na leitura e postados no blog poeticatecnologica.blogspot.com:

  •   Faça um levantamento das figuras retóricas e os sentidos retrabalhados no texto. 

 

Para acessar o Sermão da Sexagésima

- Entrar no site do Domínio Público (http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp).
- Em tipo de mídia escolher "texto" e em título por "Sermão da Sexagésima".
- Clicar em baixar.

Tuesday, May 08, 2012

Leituras de poemas líricos/amorosos de Gregório de Matos (1636-1695)


Leia os poemas líricos de Matos no site do Núcleo de Pesquisas em Informática, Linguística e Literatura – NUPILL e selecione três poemas e analise os seguintes aspectos:


•Faça um levantamento dos elementos determinadores do lírico/amoroso.
•Identifique o perfil da musa.
•Situe os poemas no momento histórico.
•Identifique os conflitos Barrocos contidos nos poemas.



Deixe seu comentário analítico.
Prazo: 09/05/2012.



Para acessar o site http://www.nupill.org/

- Entrar em Projetos - Biblioteca Digital de Literatura (barra esquerda)
- Ir em "Mais acessados"
- Entrar em "Obras Poéticas de Gregório de Matos Guerra"
- Ir em "Documento disponível para download"

Tuesday, December 06, 2011

Exercício reflexivo sobre BURABAS – Adolfo Boos Júnior

DATA DE POSTAGEM – 05/12
EQUIPES ATÉ 5 COMPONENTES


Boos Jr em BURABAS segue a tradição euclidiana de desenterrar fatos sufocados pela história oficial, o primeiro faz emergir em sua escrita o massacre de Canudos, enquanto que o segundo ilumina a Guerra do Contestado, mostrando a complexidade de fatores que envolveram essas lutas.
Discorra exemplificando como a Guerra do Contestado é abordada romanescamente em BURABAS.

Monday, November 21, 2011

Poesia em Meio Eletrônico - Arnaldo Antunes

Circule pelo site de Arnaldo Antunes, selecione um poema e comente nesta postagem a sua análise.

http://www.arnaldoantunes.com.br/
- Artes
- Poemas

Wednesday, November 09, 2011

Exercício Analítico - Literatura Brasileira I

EXERCÍCIO ANALÍTICO - ROMANCES ROMÂNTICOS

Exercício em grupo - postar no blog poeticatecnologica.blogspot.com até 29/11 –





1. A Fantasia é um dos elementos mais valorizados na ficção romântica. Como Alencar, Taunay e Machado utilizam a fantasia na construção das heroínas Iracema, Inocência e Helena?

2. De que modo o jogo realidade/fantasia é construído nos romances: Iracema de Alencar; Inocência de Taunay e Helena de Machado de Assis? Discorra discursivamente sobre o jogo e exemplifique.

Monday, August 15, 2011

Atividade de análise Literatura 1

Proposta de análise:


Exercício em grupo - postar no blog poeticatecnologica.blogspot.com até 19/08

Investigar comparativamente o conceito de amor propostos nos poemas Se Se Morre de Amor – Gonçalves Dias e Perdoa-me, Visão dos Meus Amores – Álvares de Azevedo, demonstrando a variação da percepção do amor no período.

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Se Se Morre de Amor



Se se morre de amor! – Não, não se morre,
Quando é fascinação que nos surpreende
De ruidoso sarau entre os festejos;
Quando luzes, calor, orquestra e flores
Assomos de prazer nos raiam n’alma,
Que embelezada e solta em tal ambiente
No que ouve e no que vê prazer alcança!


Simpáticas feições, cintura breve,
Graciosa postura, porte airoso,
Uma fita, uma flor entre os cabelos,
Um quê mal definido, acaso podem
Num engano d’amor arrebentar-nos.
Mas isso amor não é; isso é delírio
Devaneio, ilusão, que se esvaece
Ao som final da orquestra, ao derradeiro


Clarão, que as luzes ao morrer despedem:
Se outro nome lhe dão, se amor o chamam,
D’amor igual ninguém sucumbe à perda.
Amor é vida; é ter constantemente
Alma, sentidos, coração – abertos
Ao grande, ao belo, é ser capaz d’extremos,
D’altas virtudes, té capaz de crimes!


Compreender o infinito, a imensidade
E a natureza e Deus; gostar dos campos,
D’aves, flores,murmúrios solitários;
Buscar tristeza, a soledade, o ermo,
E ter o coração em riso e festa;
E à branda festa, ao riso da nossa alma
fontes de pranto intercalar sem custo;
Conhecer o prazer e a desventura
No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto
O ditoso, o misérrimo dos entes;
Isso é amor, e desse amor se morre!


Amar, é não saber, não ter coragem
Pra dizer que o amor que em nós sentimos;
Temer qu’olhos profanos nos devassem
O templo onde a melhor porção da vida
Se concentra; onde avaros recatamos
Essa fonte de amor, esses tesouros
Inesgotáveis d’lusões floridas;
Sentir, sem que se veja, a quem se adora,
Compreender, sem lhe ouvir, seus pensamentos,
Segui-la, sem poder fitar seus olhos,
Amá-la, sem ousar dizer que amamos,
E, temendo roçar os seus vestidos,
Arder por afogá-la em mil abraços:
Isso é amor, e desse amor se morre!


Gonçalves Dias, Poemas e Poesias

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Perdoa-me, visão dos meus amores


Perdoa-me, visão dos meus amores,
Se a ti ergui meus olhos suspirando! ...
Se eu pensava num beijo desmaiando
Gozar contigo uma estação de flôres!

De minhas faces os mortais palores,
Minha febre noturna delirando,
Meus ais, meus tristes ais vão revelando
Que peno e morro de amorosas dores...

Morro, morro por ti! na minha aurora
A dor do coração, a dor mais forte,
A dor de um desengano me devora...

Sem que última esperança me conforte,
Eu - que outrora vivia! - eu sinto agora
Morte no coração, nos olhos morte!

Alvares de Azevedo



Wednesday, June 15, 2011

Caminhos para acesso aos poemas satíricos de Gregório de Matos

Acessar o site http://www.nupill.org/

- Entrar em Projetos - Biblioteca Digital de Literatura (barra esquerda)
- Ir em Busca
- Digitar Gregório de Matos
- Depois de feita a busca, selecionar a opção "Apenas obras digitalizadas"
- Entrar em "Obras Poéticas de Gregório de Matos Guerra"
- Ir em "Documento disponível para download"

Monday, May 02, 2011

Gregório de Matos (1636-1695)






Leia os poemas satíricos de Matos no site do Núcleo de Pesquisas em Informática, Linguística e Literatura – NUPILL e selecione três poemas e analise os seguintes aspectos:








•Faça um levantamento dos elementos determinadores da sátira.
•Identifique o objeto da sátira.
•Situe os poemas no momento histórico.
•Identifique os aspectos Barrocos contidos nos poemas.


Deixe seu comentário analítico.
Prazo: 28/06/2011.

Thursday, December 09, 2010

Análise dos Contos de Clarice Lispector



ATIVIDADE:

Letras - 2º ano



- Fazer uma análise de um dos contos estudados de Clarice Lispector, segundo a teoria de Bakhtin.
- Colocar título e nome dos integrantes.

- DATA PARA POSTAGEM: até 14/12 - terça-feira

Taiza Mara Rauen Moraes

Sunday, November 28, 2010

Poesia concreta, visual e animada no Ciberespaço

O site de Arnaldo Antunes e Augusto de Campos mostram trabalhos poéticos com dinâmicas diferentes, que requerem uma maior mediação tecnológica, tanto na criação quanto na fruição da obra. São poemas concretos, visuais, clip-poemas e poemas animados publicados no Ciberespaço.

Nessas obras, o imbricamente de linguagens não se dá somente na relação entre verbo x tecnologia, mas também entre literário x plástico. Tentando aplicar a proposta de análise de Pietroforte, escolha o poema que mais lhe impactou e poste um comentário.

link do power point sobre Semiótica Visual (Pietroforte)


link do site de Augusto de Campos

link do site de Arnaldo Antunes

Wednesday, November 17, 2010

Programa "O Relógio de Ouro" - Literatura I

O Programa "O Relógio de Ouro" foi desenvolvido pela equipe do Núcleo de Pesquisas em Informática, Linguistica e Literatura da UFSC em parceria com pesquisadores da UNIVILLE e UNIVALI. Construído inicialmente em Borland Delphi, o programa foi reescrito e recompilado em Macromedia Flash para rodar em multiplataforma.

Baixe o programa em Delphi (para Windows) ou Flash (Multi) e avalie a proposta de leiturama nesse ambiente de acordo com o questionário abaixo:


"O Relógio de Ouro" em Delphi


"O Relógio de Ouro" em Flash

2º Questionário de Percepção em PDF

2º Questionário de Percepção em DOC

Monday, October 25, 2010

Literatura Brasileira II

A internet e a tecnologia permitem-nos acessar o blog Casa de Paragens de Rubens da Cunha (http://casadeparagens.blogspot.com/) e o site de Alcides Buss (http://www.alcidesbuss.com/poemas.php). 

Compreendendo que os poemas foram criados nesse contexto contemporâneo, em que a mediação tecnológica é uma das inovações utilizadas pela poesia pós-modernista, na qual diferentes linguagens são imbricadas na criação poética, escolha um poema de cada autor citado, analisando-os comparativamente, buscando relacionar quais elementos pós-modernos podem ser percebidos em cada poema.  

Após a discussão em grupo, faça um comentário nesse tópico colocando o nome da equipe, os poemas escolhidos de cada autor e um pequeno texto com as impressões levantadas a respeito das obras, comparando-as.

Wednesday, October 13, 2010

Avaliação - Literatura Brasileira I

Analise comparativamente os poemas: Se se morre de amor, de Gonçalves Dias Despedidas, de  Alvarez de Azevedo observando de que modo é tratado poeticamente o tema : amor e morte. Considere  Alvarez de Azevedo como um poeta ultra romântico e Gonçalves Dias como um poeta moderado. Discuta as nuances do sentimentalismo comparando os poemas e justicando com versos.

Monday, October 11, 2010

1º Questionário de Percepção: Gregório de Mattos, Gonçalves Dias e Álvarez de Azevedo

Caro aluno, você está sendo convidado a participar da pesquisa cujo objetivo é compreender a leitura mediada por computador.

Você pode responder o questionário encaminhando-o por email <angelviana@hotmail.com> ou como comentário nesse tópico do blog, mas não deixe de participar.

Sua opinião é muito importante!


Download do Questionário:


Em Doc

Em PDF

Meu Sonho - Álvarez de Azevedo

EU

Cavaleiro das armas escuras,
Onde vais pelas trevas impuras
Com a espada sanguenta na mão?
Por que brilham teus olhos ardentes
E gemidos nos lábios frementes
Vertem fogo do teu coração?

Cavaleiro, quem és? — O remorso?
Do corcel te debruças no dorso...
E galopas do vale através...
Oh! da estrada acordando as poeiras
Não escutas gritar as caveiras
E morder-te o fantasma nos pés?

Onde vais pelas trevas impuras,
Cavaleiro das armas escuras,
Macilento qual morto na tumba?...
Tu escutas... Na longa montanha
Um tropel teu galope acompanha?
E um clamor de vingança retumba?

Cavaleiro, quem és? que mistério...
Quem te força da morte no império
Pela noite assombrada a vagar?

O FANTASMA

Sou o sonho de tua esperança,
Tua febre que nunca descansa,
O delírio que te há de matar!...

Despedidas - Álvarez de Azevedo


Se entrares, ó meu anjo, alguma vez
Na solidão onde eu sonhava em ti,
Ah! vota uma saudade aos belos dias
Que a teus joelhos pálido vivi!

Adeus, minh’alma, adeus! eu vou chorando...
Sinto o peito doer na despedida...
Sem ti o mundo é um deserto escuro
E tu és minha vida...

Só por teus olhos eu viver podia
E por teu coração amar e crer...
Em teus braços minh’alma unir à tua
E em teu seio morrer!

Mas se o fado me afasta da ventura,
Levo no coração a tua imagem...
De noite mandarei-te os meus suspiros
No murmúrio da aragem!

Quando a noite vier saudosa e pura,
Contempla a estrela do pastor nos céus,
Quando a ela eu volver o olhar em pranto...
Verei os olhos teus!

Mas antes de partir, antes que a vida,
Se afogue numa lágrima de dor,
Consente que em teus lábios num só beijo
Eu suspire de amor!


Sonhei muito! sonhei noites ardentes
Tua boca beijar... eu o primeiro!
A ventura negou-me... mesmo até
O beijo derradeiro!

Só contigo eu podia ser ditoso,
Em teus olhos sentir os lábios meus!
Eu morro de ciúme e de saudade...
Adeus, meu anjo, adeus!


Quando, à noite, no leito perfumado - Álvarez de Azevedo

Dreams! dreams! dreams!
W. COWPER


Quando, à noite, no leito perfumado
Lânguida fronte no sonhar reclinas,
No vapor da ilusão por que te orvalha
Pranto de amor as pálpebras divinas?

E, quando eu te contemplo adormecida
Solto o cabelo no suave leito,
Por que um suspiro tépido ressona
E desmaia suavíssimo em teu peito?

Virgem do meu amor, o beijo a furto
Que pouso em tua face adormecida
Não te lembra do peito os meus amores
E a febre do sonhar de minha vida?

Dorme, ó anjo de amor! no teu silêncio
O meu peito se afoga de ternura...
E sinto que o porvir não vale um beijo
E o céu um teu suspiro de ventura!


Um beijo divinal que acende as veias,
Que de encantos os olhos ilumina,
Colhido a medo, como flor da noite,
Do teu lábio na rosa purpurina...

E um volver de teus olhos transparentes,
Um olhar dessa pálpebra sombria
Talvez pudessem reviver-me n’alma
As santas ilusões de que eu vivia!

Adeus, meus sonhos! - Álvarez de Azevedo




Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!

Misérrimo! votei meus pobres dias
À sina doida de um amor sem fruto...
E minh’alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.

Que me resta, meu Deus?!... morra comigo
A estrela de meus cândidos amores,
Já que não levo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores!


Meu Desejo - Álvarez de Azevedo


Meu desejo? era ser a luva branca
Que essa tua gentil mãozinha aperta,
A camélia que murcha no teu seio,
O anjo que por te ver do céu deserta...

Meu desejo? era ser o sapatinho
Que teu mimoso pé no baile encerra...
A esperança que sonhas no futuro,
As saudades que tens aqui na terra...

Meu desejo? era ser o cortinado
Que não conta os mistérios de teu leito,
Era de teu colar de negra seda
Ser a cruz com que dormes sobre o peito.

Meu desejo? era ser o teu espelho
Que mais bela te vê quando deslaças
Do baile as roupas de escumilha e flores
E mira-te amoroso as nuas graças!

Meu desejo? era ser desse teu leito
De cambraia o lençol, o travesseiro
Com que velas o seio, onde repousas,
Solto o cabelo, o rosto feiticeiro...

Meu desejo? era ser a voz da terra
Que da estrela do céu ouvisse amor!
Ser o amante que sonhas, que desejas
Nas cismas encantadas de langor!